Das pessoas que eu conheço, eu sou aquela cuja morte menos impactaria o mundo. Não tenho filhos, marido, namorado, alunos, empregados, nada. Ninguém está sob minha responsabilidade. Eu nem ao menos sou parte importante da rotina de alguém. Mas não se preocupe, isso não é nenhuma carta de despedida.
Eu não sei o que traz vocês aqui. Pra começar, nem sei quantos vocês são. Ao longo dos anos, fui perdendo meu contadores de visitas, e a proporção entre o número de acessos que eles informavam era assim:
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Como tenho preferido jogar meus acessos pro WordPress, de acordo com os número que tenho hoje, este blog tem uns dez leitores. Sério. Me parece que tenho um pouco mais do que isso, mas sejamos realistas: o WordPress não está me roubando umas dez mil pessoas. Tem mais gente aí mas não são tantos assim. Outro ponto é que nunca entendo muito a lógica dos posts. Algumas coisas que me deram o maior orgulho de escrever tiveram reações pífias, enquanto outras que fiz meio que só pra constar tocaram pessoas. Então sempre abro o computador sem saber o que me espera.
Eu não sei o que os traz aqui, mas eu sei o que me traz aqui. Pode ser muito lógico para quem está do outro lado, mas não faz muito tempo que me dei conta de que acabei criando uma auto-biografia online. Que a qualquer momento qualquer pessoa tem acesso a anos da minha vida. Esse olhar nem sempre será bondoso, nem sempre colocará as coisas em perspectiva ou vai entender o que eu disse. Basta ter interesse e se dar ao trabalho de ler. Não foi a minha intenção ter uma biografia online, eu jamais teria tido uma ideia tão narcisista, mas aceito. Fico imaginando uma futura sogra, sabe? Minha ex-sogra levou muitos anos pra gostar de mim – ela viu uma moça, indícios de comportamentos, tirou conclusões. Não tinha como ser muito diferente. Quando a gente é jovem, somos muito intenções e possibilidades. São os anos que nos dão trajetória. Então minha futura sogra, depois de me ler, pode gostar ou não de mim, mas jamais poderá alegar ignorância.
Estou lendo sobre o Jango e recebendo o material do Murilo Gun e os dois me fizeram constatar o quão pequeno é o meu alcance. É difícil calcular o impacto que a gente tem; na matemática dá pra confrontar centenas ganhando indevidamente os 77 reais do Bolsa Família ao lado de um desvio de verba de milhões. Na vida real, horas de falação podem ser menos importantes do que um único encontro. Quando e como conseguimos realmente dizer algo relevante, deixar alguma marca no coração de alguém?
Eu não sei o que os traz aqui e nem quantos vocês são. Eu também gostaria de fazer bem ao mundo, de ter um grande projeto, de ser uma influenciadora, gente do mesmo naipe do Darcy Ribeiro. Se fosse apontar duas características de um grande projeto (estou sendo o pai da Little Miss Sunshine agora), eu diria que ele tem que envolver muitas pessoas e ser generoso. E taí meu calcanhar de Aquiles, sempre tive problemas com esse lance de muitas pessoas. Muito por timidez natural, um pouco por acreditar que não precisaria delas. Por isso minha programação de aniversário inclui computador e bolsa de água quente nos pés, igual estou agora. Cada um tem suas facilidades e desafios, lidar com pessoas pra mim sempre foi segundo item.
Não serei mãe, por consequência não serei avó. Não serei professora, então não terei alunos. Que não serei presidente não é preciso dizer, mas eu nem ao menos serei celebridade de internet. Somos só eu e vocês, nós onze. Eu não sei o que os traz aqui, sei apenas o que me traz: a necessidade.
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