O Luiz não entendeu nada quando eu contei, feliz da vida, que seria uma das reponsáveis pela minha escola na Mostra Paranaense de Dança. Não sei porquê eu fui convidada; tenho a impressão de quem tem a ver com o fato de eu estar sempre online, pois o convite veio imediatamente depois de eu ter mandado um e-mail pra minha lista. “Mas você vai dançar?”, ele quis saber. Eu não apenas não vou, como precisei pagar 15 reais de inscrição, comprometi um dia do meu fim de semana e mais uma noite pra assistir o ensaio geral. Aí que ficou totalmente sem sentido, porque ele sabe que essas coisas levam o dia inteiro e são muito cansativas. E eu nem ao menos terei a prazer de pisar no palco.
A questão é que esse Festival é algo da qual eu ouvi muito falar. Faz parte do meu passado com o ballet. Na última escola onde eu fiz ballet, a preparação começava em fevereiro. Era o evento do ano. A apresentação de fim de ano era uma coisa mais pra família, pra constar, porque o importante mesmo era a Mostra. Quase todo mundo dançava lá, nas coreografias de ballet, com os tutus, as pontas e tudo o que o ballet de repertório dá direito. Menos eu. E não apenas porque eu era nova ali. Eu poderia passar o resto da minha vida na escola, que eu sei que elas jamais me deixariam dançar. Não lá, num evento representando a escola. Não ballet clássico, não com mais de trinta anos e pesada. O máximo que me seria permitido era comprar ingresso e torcer com os outros, na platéia. Nunca deixei de sentir que minha presença se devia unicamente à mensalidade paga em dia, que me faziam um grande favor. Eu fazia aula todo dia e dava o máximo apenas porque era louca, porque se nem quisesse aparecer tudo bem também. Alias, seria até melhor. Tanto que ninguém se deu ao trabalho de querer saber porquê eu saí.
Domingo reencontrarei o pessoal da minha antiga escola. Nunca mais tive notícias de lá e acho que é recíproco. Claro que seria melhor se eu estivesse dançando – que elas vissem que estou num lugar onde não só me dão valor, como as pessoas me consideram um talento! Mas revê-las um ano e meio depois, responsável, já vai ser uma bela vingancinha.