Guarda-chuvão vai a dez!

Começa a chover. O tempo escurece, a temperatura cai, as pessoas correm apressadas e as ruas se esvaziam. Eis que surgem – como? de onde? – os vendedores de guarda-chuva. Em cada quadra tem pelo menos um. Os guarda-chuva são todos iguais, todos chineses. Os vendedores abrem aqueles enormes guarda-chuvas e começam a gritar Guarda-chuvão vai a dez! É automático! Só dez reais!

Você, pessoa desprevenida, otimista com o tempo ou que detesta segurar guarda-chuva por aí, começa a buscar em vão abrigo nas marquises, lotadas de pessoas de guarda-chuvas abertos – alias, eu já comentei que existe uma ala no inferno todinha pra esse tipo de gente? Claro que em pouco tempo o cabelo começa a pingar e você adivinha que está num estado deplorável. Os vendedores de guarda-chuva chegam bem perto e começam gritar que O guarda-chuvão custa apenas dez reais, como quem diz – você aí toda encharcada, por que não compra um guarda-chuva de uma vez?

Mas você insiste em manter a dignidade, coloca a franja molhada de lado e finge que não é com você. Até a próxima esquina e o próximo vendedor. Você se engana pensando que nem queria mesmo um guarda-chuva, porque o pé iria molhar do mesmo jeito. Alias, eu já comentei aqui que Curitiba tem o pior calçamento entre as capitais?

Tatuagens

Esses dias eu vi uma das tatuagens mais bizarras que já passaram perto de mim. Eu estava na rua XV e estava quente. Passou na minha frente uma moça toda estilosa, de shorts – algo muito raro aqui. Aí eu olhei para baixo e vi: ela tinha tatuado uma linha vertical em cada perna, como se fosse um daqueles riscos de meia calça antiga. Simples e muito estranho, né? No quesito originalidade também já vi uma que colocou um naipe do baralho (não lembro qual dos quatro) nos pulsos e nas panturrilhas, como se ela fosse uma carta gigante.

Uma coisa que pra mim dói na vista é gente que tatua no esterno. Já vi gente que colocou Jesus crucificado em todo o tronco, com os lados da cruz escalando os seios. Brrrr, imagina como deve ter doído! Sem falar nas tatuagens nos pés e base da coluna, dessas que quem faz tem que tomar um porre antes e mesmo assim morre de dor. Têm também as tatuagens que dão vergonha alheia, como letras chinesas muito mal desenhadas. Na maioria dos casos, os riscos ficam muito feios, porque quem faz não entende nada da simetria que há por detrás. Em outros casos parece que a pessoa tatuou uma barata. Outro péssimo é quando se tenta tatuar um rosto de alguém e o desenho fica um horror.

Eu não tenho tatuagem. Não que eu não tenha pensado no assunto. Acho que esse é o meu problema: eu pensei MUITO no assunto. Pensei na questão de enjoar, pensei na dor durante, pensei na dor depois se quiser tirar. Pensei que precisaria de um tatuador realmente bom porque sou muito crítica. Pensei na possibilidade de ficar parecendo uma prostituta de porto dependendo do desenho e local. Pensei que iria querer me atirar da ponte se um dia visse uma patricinha qualquer com a mesma tatuagem que eu. Mas, principalmente, não consegui pensar em um desenho que me represente o resto da minha vida. De todos os símbolos possíveis pra me representar, passando pelos lúdicos, religiosos, frases, fauna e flora… o símbolo que eu achei que chegou mais perto de me representar é…?

Não riam. Aquilo não foi uma pergunta. O símbolo que me representaria é o ponto de interrogação. Não dá vontade de sair correndo e tatuar, né?

😉

Oh, vida! Oh, azar!

Foram os The Smiths que me deram o insigh. Não que eu já tenha ouvido qualquer coisas deles voluntarimente; é que um dia apareceu uma matéria na Folha comentando o perfil dos fãs, dizendo que eram todas pessoas sensíveis, vestiam preto, etc. Meu irmão ficou indignado, porque gostava dos Smiths e não era como nenhum dos idiotas descritos na reportagem. Aí eu li a tradução de uma música e vi que eu também me identificava com ela – apesar de não ser como os idiotas descritos na reportagem e nem como o meu irmão!

Vamos combinar? Todo mundo tem seus momentos de crise existencial. Todo mundo é só e a vida nos pesa. Aí a gente pára pra analisar e tem tantas coisas fora do lugar, o mundo é um lugar tão cruel! Se não fosse assim, os Smiths não teriam tantos fãs. O que o chato do Morrisey diz diria respeito apenas a ele.

Hoje em dia se estou mal e nada no mundo faz sentido, tento responder as seguintes perguntas:

1º Estou com sono?
2º Estou cansada?
3º Estou com tédio?

Garanto que funciona mais do que o Ipod.

Vegetarianismo Besteirudo

Eu tenho notado uma coisa em comum no pessoal que se torna vegetariano por causa do método DeRose: eles têm orgulho de terem apenas parado de comer carne, sem alterar os outros hábitos alimentares. Falam com orgulho que adoram fast food, refrigerantes, salgadinhos, batata frita, gordura trans e etc. É uma maneira de dizer: olha, somos vegetarianos e não somos esquisitos. Ou: ser vegetariano não implica em mudar os hábitos alimentares.

Detesto ser a elitista, do contra e estraga prazeres*, mas esse vegetarianismo besteirudo prejudica a saúde. Quem quer parar de comer carne de sim mudar os hábitos alimentares. A carne é sim uma fonte importante de proteína e não é saudável parar de comê-la pra sair por aí comendo mais pão e macarrão. Se não acreditam em mim, dêem uma olhada neste link (quem estiver com preguiça pode ir direto pro título Gordura x Carboidratos) . Parar de comer carne pra comer mais carboidrato é muito mais nocivo para o colesterol do que uma dieta rica em carne.

Quanto a parte de ser esquisito, acho que tudo é uma questão de postura. Os vegetarianos adoram posar de superiores, como se parar de comer carne significasse uma grandeza de caráter. Custa fazer um prato sem carne e sentar quietinho no próprio lugar? Mas não: o vegetariano tem que fazer cara de nojo pro prato dos outros e dizer na mesa que todos lá estão se envenenando menos ele. Que todos são cruéis com os bichinhos menos ele. Se vegetarianismo é prova de superioridade moral, é difícil saber; mas é prova quase incontestável de chatura.

*quer dizer, não detesto muito não. Ou melhor: A-DO-RO!