Eu já usei o termo “pobre de estimação” algumas vezes com os amigos, mas tem “gay de estimação” também. É um termo facilmente compreendido para quem está do lado pet da história. Uma amiga, lésbica assumida, trabalha numa empresa diretamente com a dona. Elas se conhecem há anos, conhecem as famílias, se frequentam. Aí começaram as eleições e minha amiga – que, diga-se de passagem, sempre detestou o PT – começou a não gostar do discurso de Vocês-Sabem-Quem. Como quase todos os gays que eu conheço, ela começou a temer pela sua integridade física. Enquanto isso, sua chefe e seus colegas bastante entusiasmados com a possibilidade de ter arma, exército no comando, minorias se curvando à maioria. Ela começou a debater com os colegas, mostrou os trechos homofóbicos, mostrou reportagens, argumentou. Eles tiveram que concordar que sim, ele foi homofóbico, sim, aquele discurso poderia levar a um aumento da violência, sim, ela como lésbica poderia sofrer riscos. “Mas qualquer coisa, é só você ligar pra mim. Eu te protejo”.
Você é de estimação quando podem explorar ou exterminar todo grupo a qual você pertence – gays, negros, pobres, pouco escolarizados, feministas, esquerdistas, nordestinos, etc. Mas você a gente quer vivo, afinal, você é gente boa – você é frango da Sadia, o frango da propaganda e não o frango do forno. Quase da família, desde que não tente nenhum contato não solicitado. Outra história: uma família super tradicional. Faz caridade, tem um discurso igualitário, viaja para África pra ajudar a Anistia Internacional. Provavelmente por ter levado à sério o discurso, um membro da família começou a namorar alguém da área de educação física. A pessoa, além de formada, tinha emprego, pós na Europa, pele branca, quem sabe um sangue italiano. Ficaram tão furiosos que chegou até mim, que nem tenho intimidade. Só acalmaram quando o namoro com “o pobre” terminou.
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