Lamento, não vou reclamar aqui dos muitos artistas que morreram em 2016. Não que eu seja indiferente a eles e que muito não tenham deixado a sua marca em mim, mas é que uma das coisas que os últimos anos me ensinaram é a me doer apenas com o que devo me doer. Não gosto mais de brincar de luto – nessa de entrar na onda e começar a reclamar com tudo mundo, de aumentar a importância, a gente realmente acaba se levando a sério e quando vê está batendo no peito e gritando com a multidão. E isso não ajuda. Se ajudasse, ainda vá lá, mas não ajuda. Então fico sabendo, acho triste, mas não quero me envolver mais que isso.
Esse ano foi para mim um daqueles que a gente não gosta. O legal é quando você olha para trás e pode relatar muitas coisas novas, começos promissores, concretização dos planos, alívio de situações ruins. Tem uma coisa que está cada vez mais old fashion que é dar-se um tempo. Penso nos períodos de vestir preto de não tão pouco tempo atrás, ou de rituais indígenas que a pessoa tem que ficar não sei quanto tempo trancada numa cabana. Eu ouvia essas coisas e pensava em opressão, na pessoa querendo usar colorido sem poder, no indiozinho ouvindo o som do dia sem poder participar. Hoje eu sei que mais do que dar um tempo do que precisa de um tempo, alguma coisa acontece por dentro. O preto do traje, o preto da cabana sem luz entra na pessoa, mistura os ingredientes, altera sua alquimia. Nesse processo mágico que não pode ser interrompido, a parte do sujeito é ficar quieto. Como a criança que mandam segurar a chave de fenda enquanto o adulto conserta. Você não sabe o que está acontecendo. Mas saber – outra coisa que tenho aprendido – é uma parte tão pequena do que está acontecendo que nem importância tem. Não tem nada o que saber, não me venham com teorias para explicar. Apenas deixe a natureza agir.
Em 2016 eu fiquei mais equilibrada. Aprendi a ver o processo assustador da depressão chegar de mansinho e interromper antes que seja tarde. Estabeleci rotinas maravilhosas com meu sofá e livros. Voltei a ser muito de quem eu era e há pouco tempo li que “o homem é a única criatura que se recusa a ser quem é” (Camus), o que parece ser um sinal de que estou no caminho certo. Tenho feito minha lição de casa, 2017 vai ser melhor.
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