Meu livro voltou!

No aniversário do ano passado eu ganhei o livro da Ana Botafogo de presente. Eu li em 2 dias, emprestei pra quem me presenteou, ela me devolveu em uma semana, eu emprestei pra minha professora de ballet e hoje – quase 1 ano depois – ela me devolveu. Eu nem tinha me aborrecido, porque eu pensei que ela não sabia de quem era o livro depois de tanto tempo. Mas, ao contrário do que eu sempre faço, antes de emprestar eu tinha escrito meu nome completo num local visível…

Engraçado pegar nesse livro tanto tempo depois. Quando ganhei, li por mera curiosidade. Sempre achei engraçado como as pessoas à minha volta levavam a sério esse negócio de eu adorar ballet e tudo mais. Como se fosse todo mundo sem noção, como se as pessoas não percebessem que estou muito velha pra me meter com isso e me iludir com a história de dançar. Meu negócio, na época, era minha futura carreira universitária, transformar minha dissertação em livro, meu grupo de estudos.

Será que as pessoas notaram a verdade antes de mim ou fui eu que embarquei numa loucura coletiva? De qualquer maneira, ler Ana Botafogo agora tem tudo a ver.

Louca

Eu imaginava que aos 30 eu teria meu loft, meu carro, seria workaholic e faria sexo ocasional. Assim como achei que seria chiquérrima, andaria de salto e saia lápis. Tudo bem que isso tem uma boa idealização sobre o que uma pessoa consegue de patrimônio em 10 anos de carreira… Mesmo assim, eu sou bem avesso do que eu projetava.

Sabe aquelas crianças chatas de novela que falam como adultas? Essa era eu. Talvez pela infância que eu não tive, hoje eu seja uma adultecênte irresponsável. Todos têm as suas motivações, e no geral elas possuem uma questão de fundo: tenho que me preparar para o futuro. O futuro, a carreira no futuro, a poupança pro futuro, a fertilidade (ou ausência dela) do futuro. Não está bom agora, mas vai ser importante pro futuro. Não gosto disso, mas se eu largar no futuro eu vou me arrepender. Não estou preparada, mas se eu esperar demais no futuro eu não vou poder.

A cada dia que passa tenho me tornado mais incapaz de fazer o que não gosto, tenho começado coisas que não vejo a menor perspectiva, tenho me arriscado como nunca imaginei. Agora há pouco, acabei de cortar o último laço que me unia a mais uma carreira séria. Não preciso de ninguém pra me dizer o quanto eu sou irresponsável – eu faço tudo isso com medo, como naqueles filmes em que a mão se torna independente do corpo.

Entre louca a gênia, é ca-la-ro que eu estou na primeira opção.

Recomendações de pós-operatório

Depois que eu tirei meu aparelho, o dentista me mandou tirar logo os meus 4 cisos, sob o risco dos meus dentes entortarem de novo com a pressão. Os dois de cima já tinham nascido e eram fáceis. O problema eram os debaixo: o da esquerda tinha a raiz em vírgula, e o da direita estava deitado em cima do nervo por dentro da gengiva. Procurei uma dentista especializada e tirei primeiro os da esquerda e depois os da direita. O sofrimento de tirar os cisos é um caso à parte. O fato é que tive que tomar injeções cavalares pra não morrer de dor, muitos antibióticos e uma semana de molho a base de sorvete. Pra ajudar a matar o tempo, passava na locadora e pegava um monte de filmes.

Não lembro de todos os filmes que eu vi. Aproveitei que veria tudo sozinha pra arriscar e pegar coisas que eu sei que o Luiz jamais toparia. Na primeira recuperação, eu peguei O Trem da Vida. Vi duas vezes e quase morri de rir. O chato é que não dá pra rir direito com a boca inchada e cheia de pontos, então tinha que cuidar dos pontos enquanto gargalhava. Na segunda recuperação, já calejada, não quis pegar comédia. Então eu vi Sexo por Compaixão e A insustentável leveza do ser. Pra quê! Fiquei morrendo de tesão e não podia fazer exercício!

Ou seja, se for pra ficar de cama, muito cuidado com o que for assistir!

Curitiba e seus dedos gelados

Você tem razão, Awks. A cidade ideal até pode ser Curitiba, mas jamais com os curitibanos dentro. É uma cidade muito difícil de estar. O choque é maior para nordestinos do que para paulistas, mas em que outro lugar a gente quer pular no pescoço de pessoas tão polidas? Ao mesmo tempo que é ótimo dominar o centro e os bairros de ônibus, comer maravilhosamente e andar no parque, pode ser que a pessoa dê a má sorte de ter que conviver com gente que – por um motivo qualquer – decide que ele não é uma pessoa legal, e elas vão se calar quando ele chega ou hostilizá-lo francamente, sem direito à apelação. Ou podem simplesmente jamais falar com ela, porque ver alguém todos os dias durante anos não quer dizer que ela não seja uma estranha!

Eu vivi aqui quase a minha vida inteira, e sempre me falam – você não é daqui, né? Com o tempo a gente vicia em ouvir isso. Porque eu conheço muita gente que não é curitibana, se queixa dos curitibanos, mas parece um curitibano perfeito. Porque, sem notar, a gente passa a adotar certas curitibanidades. Eu percebi isso quando vi a paciência dos paulistas com quem está perdido e pede informação. Aqui, o normal é rosnar pra qualquer estranho que nos aborde. Essa cidade tem dessas coisas. Eu a amo e a odeio.

Todo esse histórico foi pra dizer que durante anos eu tentei sair daqui. Poderia ter ido pra Salvador ou para São Paulo. Quis muito ir pra São Paulo. O tal emprego não veio, mas eu sempre tive dentro de mim a certeza de que o dia em que a oportunidade surgisse, eu fugiria de uma vez. Mesmo quando casei, mesmo quando compramos uma casa. O Luiz pode ser transferido pra outros estados, e eu sempre disse para ele estar atento. Agora mesmo, ele poderia ter se oferecido pra ir pra Goiás.

Mas, pela primeira vez em toda a minha vida, tudo está nos eixos. Do academia a turma de amigos, gosto de todos os lugares onde vou. Depois de muito sofrimento, consegui me cercar de apenas de pessoas legais. Almoço em restaurante naturalista, ganho convite pra teatro, tenho acesso a coisas exclusivas porque as pessoas me conhecem e gostam de mim. O mais importante de tudo: estou dançando, dançando e dançando. Tenho medo de perder tudo se sair daqui. Curitiba finalmente conseguiu me render entre seus dedos. A Teca – mais uma que tentou fugir e nunca conseguiu – disse que é sinal de maturidade. Eu sinto medo.

Novo recorde mundial em baladas

Assim que nós chegamos, percebemos que a festa ” no ático, com cerca de 30 amigos que não se conhecem, música de qualidade e ambiente familiar” só tinha de verdadeira a parte do ático. Sentamos no sofá, comemos batata frita com chá verde, dançamos as únicas meia dúzia de músicas legais, voltamos pro sofá e quando chegou O Máskara, aplicamos o exclusivo método de fuga para casais que eu inventei naquele mesmo instante.

Tudo isso em exatos 1 hora e 30 min.

Macho de Antigamente

Que as mulheres mudaram e se tornaram independentes e magras demais todo mundo fala. O que a gente nunca lê por aí é a extinção daquele Macho de Antigamente. Aquele que, sem delongas, vira pra uma mulher e diz que a ama – ao invés de esperar longos meses de amadurecimento da relação. Que quer ficar é com ela e paga pra isso o preço que for preciso – viagem, filho a tiracolo, sustentar a companheira. E não aquele “veja bem, depende, se você conseguir alguma coisa por aqui e se mudar, mais por conta da tua carreira do que por minha causa, talvez a gente possa começar a namorar quando você estiver por perto…” Cadê aquele homem que não hesita, que sabe o que quer, que assume as conseqüências? Parece que o último exemplar morreu fumando Marlboro sem filtro.