Pênalti

Se por um lado fica mais fácil de marcar, por outro a pressão é muito maior. E a idéia de que é muito mais fácil marcar cria mais obrigação ainda.

Depois do gol (pensamento positivo, pensamento positivo!) eu conto do que estou falando…

Simplifique

Há quase quatro anos eu me dei um presente ótimo de Natal – o livro Simplifique sua vida. Sempre que as pessoas recomendam livros, aparecem aqueles que nos tocaram de maneiras muito emocionais, que vão de Bíblia Sagrada a Augusto dos Anjos. Assim como o Dona Benta, duvido que o Simplique sua vida apareça nesse tipo de lista. Vejo aqui corrigir essa injustiça.

É um livro prático. Os autores partem do pressuposto de que a vida das pessoas está complicada demais, e quanto mais simples mais felizes seremos. Então, eles imaginam uma pirâmide de áreas na vida que podem ser simplificadas: começa pela casa, passa pelas finanças e a família, e termina com o desenvolvimento pessoal. É um livro prático, simpático, com dicas excelentes. Mistura o útil, o bom senso e o senso de humor. A parte da casa é a minha preferida:

Presentear de coração aberto
O método mais popular para se livrar de objetos é deixar que as futuras gerações os joguem fora. Acontece que, geralmente, as queridas futuras gerações acabam por constatar que não querem 95% dos objetos tão amados e valiosos, nem que seja de presente. Ande por sua casa juntando todos os objetos guardados que você possa dar para outras pessoas. Depois dê esses objetos às respectivas pessoas ou mande-os para elas; mas não deixe de perguntar se elas estão interessadas neles. “Dar de coração aberto” é uma das melhores formas de se livrar de peso inútil.

Estou sempre consultando esse livro. Algumas coisas são bem fáceis de fazer, como jogar fora o excesso de canetas. Outras, como a de dar festas todo mês, me fazem pensar em diferenças culturais (e financeiras) dos autores do livro. Algumas parecem sem importância e em outra época da vida se tornam valiosas. Eu acho que o grande barato do livro está naquilo que você capta – a idéia de que ser mais simples é (ao contrário do que possa parecer) ser cada dia mais seletivo. De canetas a amigos.

Insuportando

Minha mãe dizia que dentro de mim havia uma outra, uma Fernandinha; enquanto a Fernanda exterior era uma pessoa calma e controlada, a de dentro reagia aos berros. Enquanto a de fora falava “tudo bem” e era conciliadora, a de dentro xingava todas as gerações dos outros quando contrariada.

Não sei o que está acontecendo – se são os florais que estou tomando ou se é a proximidade dos 30 que me torna cada dia mais ariana. O fato é que a Fernandinha está cada vez mais saliente. Até eu me estranho. Ultimamente tenho sentido uma vontade irresistível de dizer verdades pra certas pessoas. Cada vez com mais antecedência, tenho cortado todos que não me fazem bem. As preocupações do tipo “nossa bela amizade” ou “vai parecer que eu…” fazem cada vez mais barulho na minha cabeça. Pior: não apenas não sinto culpa como depois que faço eu me sinto beeeeeeeeemmm!

Restará pedra sobre pedra? Estarei me transformando numa troglodita? Esse lado neandertal sempre esteve aí ou é a revolta por anos de silêncio… Só resta aguardar os próximos capítulos.

Carnaval 2007

É impossível não lembrar agora dos muitos carnavais que passei em Salvador, na casa do meu pai. Não que eu um dia tenha gostado de carnaval – ainda o odeio; não que eu um dia tenha de desgastado pulando atrás de um trio elétrico ou que tenha pulado atrás de alguma coisa. Não que eu saisse de casa durante o carnaval. O que torna este carnaval semelhante aos muitos carnavais que passei em Salvador é o cheiro, a textura e a brancura da Hipoglós.

Nem eu lembrava o quanto a minha pele fica vermelha por causa do sol. Estou com aquele lindo bronzeado de pedreiro, com as marcas das camisetas que usei ontem e hoje. Depois de passear o dia inteiro com a Flávia, o Elson, a Darlene, o Mauro e (ontem) o Rômulo estou vermelha com uma grossa camada branca por cima. Descascarei como uma cobra, tenho certeza. Minha expectativa agora é que esfrie – vai dar um vergonha andar por aí desse jeito…

Maionese

Sabe quando as pessoas vão parar no hospital por intoxicação alimentar depois de uma festa? Então, eu não iria. Isso porque a culpa é sempre da maionese e eu não gosto de maionese. Quando tem maionese pra passar no cachorro quente, tudo bem, mas só aí. Na minha casa nunca tem maionese e eu não sinto a menor falta de maionese.

Mas eu não sei o que a maionese tem que não gostar de maionese às vezes se torna um problema. Primeiro, porque há sempre alguém pra levar uma maionese numa festa. E há sempre alguém na festa que repara no que os outros colocam no prato. Aí eu digo – eu não gosto de maionese. As pessoas não se conformam. Sabe aquele papo de que lésbica é uma mulher mal comida? Todo mundo pensa a mesma coisa de quem não gosta de maionese. “Ah, mas da minha você vai gostar!”. Aí a pessoa me explica que a dela é diferente, que é batida, tem iogurte natural ou que vai maçã. Veja bem, eu digo – eu não gosto de maionese.

Às vezes a pessoa é muito insistente e eu coloco um pouco de maionese no meu prato. É ruim, mas eu como. Depois eu não coloco mais, e sou obrigada a dizer – eu não gosto de maionese. Aí a pessoa fica aborrecida comigo! E eu lá tenho culpa?????

Observação: Este texto pode ser lido de outra maneira. É só substituir a palavra maionese por carne. Com a diferença que eu jamais coloco um pouco no prato.

Como trato meus leitores

O Ale me lançou o desafio de falar do meu relacionamento com meus leitores. Dá até vergonha de falar alguma coisa depois de ter lido como ele trata os leitores – um verdadeiro manual de cavalheirismo virtual. Confesso que quando comecei a freqüentar o blog do Ale e ler sobre esse tema, tive vontade de responder os comentários. Conto aqui porque tudo não passou da vontade.

Ao contrário do site do Ale e outros que estão relacionados lá do lado, este blog não busca leitores e nem publicidade. Sempre disse que se um dia ele alcançasse uma centena de leitores eu o explodiria. Mantenho. Este blog nasceu com a intenção de me ajudar a escrever a minha dissertação, e realmente ajudou. Assim que terminei, pensei seriamente em destruí-lo. Por que não fiz? Porque ele se tornou um ponto de encontro com meus amigos, uma maneira de dizer a várias pessoas algo que a distância ou o tempo não me permite falar.

Eu divulgo pouquíssimo esse site e os leitores fiéis que conquistei são surpresa pra mim. Considero esse site auto-bigráfico, pessoal, idiossincrático. Como disse no post anterior, acho muito irresponsável sair por aí dando pitaco em assuntos que não entendo. Se fosse para escolher, gostaria muito de ter um site mais antenado e culto como o Catatau, mas não teria embasamento pra isso por isso prefiro deixar para quem entende.
Como aqui freqüentam amigos, eu acabo respondendo meus comentaristas quando os encontro pessoalmente, quando conversamos por msn, por scrap ou nunca comentando. A Teca pediu pra eu ir pra academia vestida de ovo gigante. A Pessoinha respondeu o post sobre o celular criando uma comunidade no orkut. Problemas técnicos do blogger levaram o Ricardo a comentar meus posts no seu próprio blog e a Flávia a me procurar no msn. Tem gente também que freqüenta e nunca comenta. O Connan é um desses leitores e foi obrigado a comentar por msn uns textos pra eu acreditar que ele realmente lê! Por outro lado, uma postagem que eu considerei inadequada me levou a moderar os comentários, embora até hoje eu nunca tenha barrado mais nada.
Um último motivo que não me leva a comentar é algo meio idealista. Quando faço uma escultura, procuro dar o nome menos explicativo o possível. Procuro não limitar a interpretação de quem vê. As pessoas vêm até mim com interpretações lindíssimas sobre meu trabalho e me perguntam se significa aquilo. Sim, é aquilo, apesar de eu nunca ter pensado nisso. Uma obra, uma vez lançada ao mundo, não pertence mais a quem fez. Gosto de pensar isso sobre os textos. Tenho a impressão de que responder é explicar demais, fechar demais. Que cada um entenda da maneira que quiser e puder.

Quanto a passar a bola pra alguém… se você tem o link relacionado aí do lado, sinta-se convidado 🙂

Intelectualoidísmo

Acabei de ouvir a entrada de uma reportagem no Fantástico que começou assim:

Surgiram as cidades. Com o tempo, o que era um lugar tranqüilo de se viver começou a sofrer conflitos. E desses conflitos surgiu a necessidade de fazer aquilo que hoje chamamos de leis.

Correto? Erradíssimo. O que hoje entendemos como cidade surgiu com a Revolução Industrial. Ou seja, era fruto de um processo intenso de migração em busca de empregos nas fábricas. As cidades nunca foram lugares tranqüilos, elas nasceram sob a pobreza. Assim como é errado dizer que as leis surgiram com as cidades. As leis existem em qualquer lugar, em qualquer conjunto de pessoas. Onde há sociedade há leis.

Pseudo-intelectuais me cansam e o jornalismo parece estar cheio deles. Reportagens feitas de ouvir falar e de pesquisas no Google. Pessoas que revestem o seu senso-comum de alguma leitura e saem por aí dando de dedo nos outros – acham que ter opiniões polêmicas é sinônimo de ser crítico. Muito jornalismo é feito dessa maneira extremamente irresponsável. Por causa dessa tendência de repetir senso comum os sociólogos são muito críticos em relação ao jornalismo.

Saber quem foi Balzac e ler Machado de Assis apenas quer dizer que a pessoa leu bons romances. Isso não torna ninguém apto a discutir política ou genética. Citar meia dúzia de livros faz com que alguns se vejam como melhores do que os outros. Gente que atribui à cultura da classe média o valor da mais alta cultura – e aí desprezam tudo o que há de diferente, regional ou “primitivo”. Você realmente entende ou tem alguma vivência sobre o assunto? Então é melhor calar a boca e escutar um pouco.

Briga de vizinhos

Meus vizinhos aqui do lado estavam quase se matando há menos de 1 minuto. Os mesmos vizinhos que tentaram me passar a perna com a história do muro (um dia em conto direito). Eles tem dois filhos – o menino vive levando pito (eu ouço tudo daqui, como vocês podem notar) e a filha tem uns 8 anos e fala daquele jeito chato de bebê. A mulher é uma maluca, que acha que pode resolver tudo no grito. Fez isso com o Luiz quando ele foi perguntar do muro, faz isso com o filho, faz isso com o marido e até o coitado do cachorro dela não tem o direito de latir.

Tomara que o cara tenha chifrado a diaba. Em nome de quê alguém que é destratado todo dia vai se conter?

O inegociável

Ouvi agora de manhã uma dessas histórias chocantes. É uma amiga de uma amiga minha. Essa mulher é uma super bailarina, solista de dança flamenca. Linda, cabelão até a cintura, maravilhosa. Foi para São Paulo, tem uma companhia de dança, sempre viajando em apresentações e cursos, alguns internacionais. Casou com um homem maravilhoso, apaixonado e rico. De repente aparece uma doença rara, que ataca o sistema nervoso. Dois meses entre a vida e a morte, remédios fortíssimos que a deixaram careca e a faziam delirar. Ficou incapaz de fazer qualquer coisa sozinha, nem as mãos a obedeciam. Era pra ela ficar tetraplégica, mas o preparo físico dela fez com que ela perdesse a sensibilidade apenas da barriga pra baixo. Agora ela está de volta a Curitiba, se recuperando.

Tudo na vida tem como negociar. A solidão, a falta de dinheiro, os problemas na auto-estima, o trabalho ruim, as brigas com a família, a enxaqueca, a gordurinha. Mas a saúde é tudo. Eu sei que o que eu vou dizer é o mais lugar comum dos lugares comuns, mas va lá: quem tem direito de se queixar tendo saúde?

Marketing Pessoal

Hoje foi o último dia de um curso de marketing pessoal que eu não fui. Uma amiga que vive a mesma situação que a minha (que eu chamo de Adolescência Perpétua) queria que eu fosse, que seria de graça pra mim. Fazer esse curso seria a solução dos nossos problemas, que escreveríamos certo nossos curriculos e falaríamos com as pessoas certas, esse tipo de coisa. Por um lado, eu acho que algumas dicas são legais de saber. No meu caso, nada que a vasta experiência em Recursos Humanos do Luiz não supra. Fora isso, sou ideologicamente contra algumas abordagens desses cursos.

Primeiro essa questão de falar com as pessoas certas. Existe a lenda que se você segue os caminhos normais, o curriculo se perde por aí em portarias, mesas, arquivo morto ou é jogado pro alto. Que pra conseguir um emprego, você tem que deixar o curriculo na mesa do diretor, se puder entregar em mãos melhor ainda. Tudo mentira. Os Recursos Humanos não são tão lixos assim – eles guardam os curriculos por assunto e recorrem a eles quando tem vaga. Sem dizer que o tal diretor vai odiar receber curriculo – ele não tem nada a ver com o assunto e o papel vai voltar pro Recursos Humanos.

A minha outra questão é bem mais séria. De acordo com esses cursos, você tem que formar uma rede (network) de possíveis pessoas que possam te ajudar no futuro. Se você encontra alguém importante, nunca suma da vida dessa pessoa. Um dia esse amigo pode virar um QI (Quem Indica) e te dar um emprego. Então o que se tem que fazer é ligar pra todo mundo, mandar cartão e ser bastante social pra ser bastante lembrado. Como pessoa tímida e idealista, eu protesto veementemente! Ser amigo de alguém porque um dia ele pode te arrumar emprego é podre. É horrível, é uma falta de consideração com a pessoa que pensa ver em você um amigo verdadeiro.

Essa coisa de ser marketeiro em tempo integral, ver em tudo um potencial pra dinheiro, transformar o contato com os outros em obrigação… eu acho tudo isso uma violência terrível contra si mesmo. Prefiro não ter a tal rede de contatos. Prefiro ser amiga de quem eu gosto e tratar educadamente quem eu não gosto. Que o meu curriculo espere humildemente junto com os outros, lá no Recursos Humanos. Mas pelo menos eu não terei que passar o dia inteiro sendo quem eu não sou pra talvez um dia ganhar dinheiro através dos meus “amigos”.