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Uma das minhas peças mais antigas, em terracota. |
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Po
r causa de uma reportagem na TV, com meu ex-professor de escultura, andei fuxicando no FB e descobri que minhas antigas colegas de atelier ainda estão lá. Iguais, apenas mais velhas. Olhei para elas e tudo o que vivemos juntas voltou, o fazer escultura voltou: pensar sobre a próxima peça, montar uma estrutura, pesquisar, o trabalho braçal de fazer e tirar o molde, e escolha do material de acordo com o orçamento, a ausência de perspectiva de um dia vender o trabalho. Eu esculpia muito rápido e isso tornava tudo ainda pior. Lembro do cheiro do atelier, da umidade, da maneira como o tempo parava quando estávamos
lá dentro. O atelier tinha algo que nos puxava, como um buraco negro, como uma dimensão fora do tempo. É como se elas tivessem ficado aprisionadas lá dentro. Fico feliz de ter fugido, eu vivi intensamente essa última década. Se estivesse lá, estaria ouvindo as mesmas piadas, vivendo as mesmas picuinhas.
.oOo.
Qua
ndo alguém me pergunta de uma das minhas esculturas, digo que fiz em uma outra encarnação. Não há maneira melhor de definir meu sentimento com relação a certas coisas do meu passado, que foram tão importantes, tão intensas, mas que nada dizem respeito ao meu presente. Não tenho saudades e nem amargura, são coisas da minha encarnação passada.
Recebi uma notificação do correio pra pegar uma encomenda e pagar mais de cem reais, e levo um susto achando que é uma das minhas compras do
Ali. Aí o Luiz me explica que o pacote é dele. Por causa de uns parangolés, ele fazia encomendas no meu nome e essa é uma delas. Ele me pediu meu RG e CPF pra poder pegar o pacote pelo correio em meu nome. Veja bem, RG e CPF, documentos importantíssimos. Sorte que ainda nos damos muito bem.
– Quantos pacotes em meu nome ainda vão chegar?
– Tem esse e depois mais uns três.
– Três!?
– Eu não tenho culpa se o correio demora tanto. São encomendas que fiz antes de janeiro.
Eu já desconfiava: janeiro de 2014 também é encarnação anterior.
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Tem
os nos aventurado por aí, eu e minha
Drogon. O nome dela acabou se mostrando muito adequado, porque eu tinha a expectativa de pendurar a bicicleta na sala – acho tão legal, tão decorativo! – e descobri o porquê de bicicletas leves no mercado. Eu não consigo erguer a minha bicicleta, quanto mais pendurar numa parede. Ela realmente é um dragão.
Dizer que temos dados voltinhas não é muito exato, o que temos feito é o trajeto que pretendo fazer de bicicleta no futuro, pra ver se meu corpo acostuma. As distâncias não são o problema e sim o fato de que eu moro num lugar alto. Pra sair de casa é tranquilo, pura descida. Pra voltar… Eu volto – esbaforida e querendo chamar uma ambulância, mas volto. Só que depois, lá por umas 19h, estou imprestável.
Um efeito colateral inesperado, o único motivo pela qual estou tocando no assunto neste post: tenho feito muito cocô. E não é só isso: u
ns cocôs fedidos. Tenho certeza que não são resíduos recentes. Quem diria que mesmo andando, nadando e sapateando, um exercício diferente tiraria de dentro de mim umas sujeiras pré-históricas.