Eu li, acho que no livro da Glória Kalil, que pra saber o valor da roupa é só dividi-la pelo número de vezes que você usou. Essa conta é pra dizer que a peça cara que resiste a muitas modas e se torna essencial no seu guarda-roupa pode ter saído mais barato do que a blusinha vagabunda. Só que eu fiquei cismada em perceber que algumas peças minhas saíam quase de graça, porque acabo favoritando peças que comprei em promoção. Uma calça jeans que usei até esburacar e que, à primeira vista, me pareceu muito roqueira pra mim. Tem uma blusa de moletom, e além de eu não ser chegada em moletom, é rosa. Tento me livrar dela e não consigo. Ambas estavam naquelas araras da C&A de últimas peças, quase de graça. Fiquei cismada que tipo de coincidência ou masoquismo é esse, e percebi que talvez o que melhor explique isso seja Bauman (!!!).
De acordo com Bauman, o nosso excesso de opções não nos deixa felizes e sim eternamente insatisfeitos. Porque nunca conseguimos provar tudo para ter certeza antes de escolher. Então, temos as tais relações líquidas, sempre na expectativa de que a próxima será melhor, porque a certeza de ter feito a melhor escolha é impossível. Quando você não tem escolha, simplesmente aceita. Como os casamentos antigos, onde no máximo você escolhia entre o vizinho e o sujeito que frequenta a sua igreja. Minhas peças em promoção me tiram a ansiedade da escolha perfeita, faço mais esforço para me adaptar do que normalmente faria e, como resultado, somos felizes. Isso me lembra quando eu herdava roupas das minhas primas. Quem era rico o suficiente pra nunca herdar roupa não sabe o que é esperar numa peça escolhida por outra pessoa a renovada no guarda-roupa que não poderia acontecer de outra forma. E o quanto isso às vezes é muito legal.
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