Agito

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Só tive oportunidade de fazer uma das meditações do Osho uma vez. São meditações em grupo e é preciso que alguém coordene. O grupo daqui de Curitiba se reunia num lugar, dia e horário muito ruins pra mim, algo como ter que cruzar a cidade pra meditar às 21:30 de terça. Mas foi legal. De acordo com Osho, não dá para pedir pra uma pessoa agitada como a ocidental simplesmente se sentar e aquietar a mente. Nossa mente está sempre agitada, estamos sempre falando e nos movendo. A que eu fiz, começava com a gente falando sem parar. A gente fala, fala, fala, não tem mais o que falar, se esgota. Só depois chega a parte de ficar em silêncio e ele vem como uma benção.

Peguei uns livros e desde a semana passada meu sonho tem sido sentar no sofá e lê-los. Os dias têm me obrigado a problemas pequenos e enormes, gastos, deslocamentos, prazos, água e mais água, em gotas e jorros. Passo por minha própria sala e parece que os livros estão atrás de uma vitrine. Quando eu finalmente puder sentar com calma e ler um pouco, ahhhhh!

Curtas porque eu estive lá, nos 80´s

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Eu não imaginava, que no movimento pendular da história de moralidade x imoralidade, eu estava na geração imoral. A última.

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Sabe aquelas piadas que todo mundo conhece? Tinha uma que era assim: tinha um louco ou burro que não sabia o nome das partes do corpo humano e ia fazer uma prova. Aí a pessoa ensina pra ele o que é mão, pé, joelho, etc. Aí ele passa no teste, ganha os parabéns e perguntam como é que ele conseguiu. Ele colocava o indicador na testa e dizia: “Usei a bundinha!”. Vivo querendo usar esse “usei a bundinha” e além de não ter mais público eu seria muito mal interpretada.

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Quando o Jornal Nacional falava de algum desvio de verba ou prêmios de loteria, fazia sempre cálculos do tipo “com esse dinheiro, daria para construir 100 casas populares”(a tela se enchia de cem casinhas) ou “com o valor do prêmio é possível comprar 26 carros populares” (a tela se enchia de fusquinhas). Aí eu pensava – E quem é o burro que com esse dinheiro todo vai construir um monte de casinhas ou comprar uma frota de fuscas?

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Uma maneira de citar uma coisa que não fazia o menor sentido ou passar por um sacrifício em vão era “levar injeção na testa”. Não só a expressão perdeu sentido como não foi substituída.

Beleza x função

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Quando dizem que sem a beleza o mundo pode existir perfeitamente, as pessoas mais “de humanas” costumam ficar sem saber o que responder. A minha resposta é: cite ou me mostre, em qualquer tempo ou lugar, uma civilização onde as coisas sejam só funcionais. Onde a construção seja apenas uma cobertura, o caminho seja apenas um amontoado pra pisar. Mesmo da mais simplória das civilizações, já viu um vasinho que seja apenas um oco sem cor, sem simetria, sem textura? Não existe essa data anterior à beleza, a fase do funcional puro, onde apenas a partir daí começa a preocupação com o luxo que é fazer as coisas serem bonitas. Nós queremos mais. Sempre que possível, o homem tenta tornar o que o cerca belo e especial.

Uma conversa após ver fotos antigas

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SC: outra vida. Mesmo.

FM: por isso que eu digo – na minha outra encarnação… tem coisas que é quase como se fosse outra pessoa

SC: considerando que a gente agia e reagia de forma diversa da de hoje, é outra pessoa mesmo

FM: agora ´cê imagina gente que fez a mesma coisa a vida inteira e com as mesmas pessoas

SC: deus me livre

FM: eu não gostaria de ser assim. Isso me consola com relação à ideia de não ser um sucesso

SC: esse negóz de sucesso eu já sublimei

FM: eu acho que o ideal é igual ter diploma – se um dia alguém tenta te pisar por isso, você saca da gaveta

Nenhum homem é uma ilha

Um amigo escreveu sobre o suicídio, colocando-o como um direito inalienável. A raiz do seu argumento era bastante simples: a vida é minha e faço dela o que quiser, inclusive terminar. Tão simples quanto limitada, ingênua. Eu não o respondi, assim como não fui numa palestra sobre drogas, donde era quase certo que de algum canto surgiria o argumento: o corpo e a vida são meus, então eu tenho o direito de estragá-los como quiser. Não fui porque nesse momento não resistiria em pegar o microfone e me expor para explicar que Não, que o drogado não tem o direito de encher o seu corpo do que quiser, mesmo que ele nem abusasse – o que me parece impossível – do acesso aos seus parentes quando começasse a bater o desespero. Os acontecimentos políticos mais recentes trouxeram à tona o problema do Golpe de 64 e a tortura – afinal, aquelas pessoas mereceram? “Eles só eram jovens idealistas na aparência, na verdade eram comunistas perigosos“. Minha resposta é um redondo NÃO, sob todos os ângulos. Ressalto aqui apenas um motivo, o mesmo que usaria para falar do suicídio e das drogas: nenhum homem é uma ilha. O que se faz a um indivíduo afeta o seu entorno. No mínimo, o sujeito tem uma mãe. A morte, a subtração ou o sofrimento de uma pessoa nunca é apenas ela e suas escolhas, suas consequências – tudo vai respingar no seu meio, tornar infelizes aqueles que se importam com ela, interromper a trajetória de muita gente. Não é apenas egoísta pensar que tudo bem se eu estiver confortável e feliz, mesmo que sobre bases sangrentas  – é ilusório.

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Curtas sobre programa de decoração

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Eu sempre me pergunto – quem paga essa reforma? Vocês dirão “o programa, lógico”. Olha, não é tão lógico assim. Uma vez, na minha adolescência, me interessei por uma dessas transformações de revista, era uma sessão tipo Um dia de Nova. Entrei em contato com eles e soube que a mulher transformada pagava tudo, de maquiador ao sapato. A única vantagem era a honra de aparecer na revista.

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Você assiste os programas pra pegar dicas e descobre que a dica mais importante é ter dinheiro para fazer tudo de uma vez e sob encomenda.

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A mudança começa com “arrancamos os rodapés, tiramos o piso, alteramos a parte elétrica”, ou seja…

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E os objetos? Nada sai por menos de quinhentão. Da cadeira assinada à luminária pseudo rústica que desce do ponto de luz do canto da parede (que não existem em casa nenhuma). De vez em quando aparece um objeto simples e barato – só que ele está numa composição com outros 54 idênticas.

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Ainda sobre os objetos, agora sobre os “faça você mesmo”: será que alguém tem coragem de fazer? Pra todos você tem um trabalho do cão e um resultado tão fuén que parece que o objetivo é nos convencer de que vale mais a pena pagar por eles.

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Agora a última sobre os objetos: dá pra ver que o acabamento da decoração é dado por um monte de objetos fofos e inúteis. Um lado meu curte, acha acolhedor, etc. Outro pensa – olha quanto tapete pra bater, como faz quando essa cortina encardir, as folhas ficarem amassadas, imagina pra tirar o pó desse monte de coisa? É o lado dona de casa.

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Eu sempre acho que essa história de bater um papinho com a gente, nos expulsar durante alguns dias e entregar tudo pronto nos mínimos detalhes é o sonho de todo decorador. Tratar com o mau gosto alheio deve ser um saco, o que eles querem é fazer o que lhes dá na veneta.

Essa merda chamada música brasileira

 

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Eu, sentada no fundo do ônibus, uma adolescente do meu lado e ao lado dela uma mulher que discursava contra a “burrice e ignorância do povo brasileiro” desde que o ônibus saíra do terminal. Era pérola atrás de pérola. Era crise econômica, racismo de negros com os brancos, decadência moral, tudo merda.

E a música? A música brasileira é uma merda. Não se salva nada.

Oi? Essa foi realmente radical. Nem Bossa Nova, nadica?

Sabe, antes eu me perguntava quem comprava essas merdas. Ivete Sangalo, como é que consegue vender. Aí eu descobri que eles não vendem nada, são todos sustentados pelo governo. Roberto Carlos, aquilo é uma merda, é o governo que sustenta ele.

Até a parte da Ivete eu tinha atribuído a um preconceito com a música baiana, mas nem o Roberto Carlos? Como imaginar um mundo sem Detalhes?

Tuuudo o governo que banca. Por isso que eles fazem aqueles show de graça e enche de gente. Que merda que é a nossa música. Toda essa merda aí, Gil, Caetano, tudo sustentando pelo governo. Quem é que ouve Chico Buarque, aquela merda?

Nem o Chico? Eu não gosto de dar bola pra maluco, mas desta vez quase perguntei o que afinal era música boa. Vai que era um gosto apurado igual do Milton e só ouve Bach. Mas a adolescente do meu lado foi mais rápida:

– E o Cazuza?

– Era um playboy! Mas era foda.

– E Legião?

– Foda, foda, foda!

Vocês não imaginam a força que eu fiz pra não começar a gargalhar.

 

Curtas sobre as outras mulheres

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Diana Vreeland. Conheçam. Tem no Netflix.

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“Mas”, ressaltou a Suzi enquanto assistíamos o documentário, “eles não resistiram e tiveram que mostrar que apesar de excelente profissional ela foi uma péssima mãe”. Os pequenos machismos do nosso dia a dia.

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“Eu estou apaixonada!”, disse com tanto entusiasmo que quase lhe dei os parabéns. Naquele momento, ela era a jovem cheia de perspectivas e eu era a vovó de cabelos brancos.

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Ex de um amigo. A primeira reação diante das fotos é dizer “Uau!”. Lábios enormes que ela faz questão de ressaltar com batom vermelho. “Então era assim que eu deveria ter reagido”, pensei, depois de uma vida inteira de batom cor de boca.

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“Procure a estrela mais brilhante do céu. E quando a encontrar, saiba que ela não é uma estrela e sim um planeta: Vênus.” Também quero.

Um lugar dentro de si

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Há de se amar a cultura, o conhecimento; geralmente identificamos isso como amar os livros. É que os livros nos permitem tanta coisa, são tão ricos, mas vamos fazer justiça: existem documentários, revistas, teatro, música, HQs, etc. O importante é amar a cultura, a informação, o estudo. Somos todos muito incultos. Somos sim, nós brasileiros, um país que investe tão pouco em educação e tem currículos tão defasados. Nós que temos atrás de nós gerações de incultura, nós que não lemos nem dois livros por ano, nós que não tivemos sociologia e filosofia nas escolas. E recentemente, nós que não precisamos decorar mais nada porque existe o Google. Não vou discutir o quanto saímos perdendo enquanto país porque isso é amplo demais pra este bloguinho. Quero falar da perda pessoal. Eu vejo que quem lê, quem tem amor ao conhecimento tem aonde ir quando tudo lhe falta. Essa pessoa pode estar sem dinheiro, sem amor, sem amigos, sem possibilidades, tudo dentro de si pode parecer escuro e sem perspectiva – mas ela tem interesses e esses interesses podem preenchê-la. Falo de cadeira. Ela pegará um livro do seu autor ou assunto preferido e isso lhe bastará por dias, horas, o tempo que ela quiser. Enquanto isso, o coração descansa e o tempo cura o que precisa ser curado. Ao contrário de tarja preta, não tem contra indicações e torna a pessoa melhor no final do processo. Seu universo se tornará cada vez maior. É uma espécie de poder, é como ter um refúgio dentro de si. Dá uma independência danada. Um bom livro, um lugar confortável, luz e está feito. Para mim, a falta desse lugar é a maior perda de quem não ama o conhecimento.

Guilhotina

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Hoje a guilhotina nos parece algo bárbaro, mas quando ela foi criada era um ato de misericórdia. Ela permitia matar com muito mais facilidade e impunha um sofrimento menor ao condenado. Antes dela os recursos eram amarrar os membros em cavalos ou golpear a pessoa com um machado. Às vezes o carrasco errava a mão e quebrava a mandíbula do sujeito, ou deixava membros pendurados, ou quebrava o pobre coitado todo sem matar e ele sentia tudo, estrebuchava, sangrava até morrer. Com a guilhotina não – com ela não havia problema de mira, força ou habilidade, quem ia lá tinha a morte garantida, rápida. Não é o que qualquer um preferiria?

Algumas situações na vida se tornam tão insustentáveis que a única misericórdia possível é a da guilhotina: mate sim, mas seja eficiente e definitivo.

Curtas porque a vida é feita de pequenas vitórias

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Num dia você tem dentes branquinhos e perfeitos e quer morrer de pensar em exibir dentes com braquetes de novo. Nem tanto tempo depois, acha que ganhou um presente porque o ortodontista concordou em, daqui há meses, trocar seis braquetes metálicas por estéticas.

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Meu supermercado voltou a vender Gengibirra, bem timidamente. Achei uma perdida na Páscoa, que abracei e levei como se fosse um ovo kopenhagen. Depois começaram a aparecer uma aqui e outra ali. “Vou aproveitar que não tenho nada pra levar e passar no super pra comprar uma Gengibirra”. Tem que mostrar pra eles que elas fazem falta.

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Nem te perguntei, Ernani, mas tenho que eternizar isso:

Viu, Fernanda? Tua foto está invadindo todos os espaços do Sul21. Quase todos os blogs foram grilados pela tua foto. Os colunistas devem ser os próximos. Mais umas horas e tua foto substituirá as ilustrações de todas as matérias. Primeiro o Sul21, logo o mundo.
Philip K. Dick poderia escrever um conto com isso.

Meio sacanagem colocar como vitória a ocasião em que invadiram um site que me hospeda, mas não é todo dia que chego perto de conquistar o mundo.

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Eu tinha uma sala de estar envergonhada, tudo meio branco, material de costura pelos cantos, bicicleta numa parede distante. Dia desses enfezei, e resolvi assumir de mim para mim mesma que ninguém nunca vem aqui, muito menos para jantar. E se por acaso alguém aparecer, vai ser um ou outra vez na vida. Reorganizei tudo, transformei num grande atelier de costura e deixei a bike bem visível e de fácil acesso. Cada vez que passo por ali sorrio e me parabenizo.

Formigas

Estou vendo um longo documentário sobre o Darcy Ribeiro e estudar a história desse homem é estudar a história do Brasil. São cinco episódios e estou no quarto. Agora, ele está com Salvador Allende. Antes disso ele já foi discípulo do Rondon junto com os índios, lutou com Anísio Teixeira pela escola pública, fundou a UNB, foi ministro da casa civil do Jango, estava lá quando ocorreu o golpe de 64 (offtopic: bastante angustiante acompanhar o golpe de 64 e relacionar ao que vivemos hoje. Nas semelhanças e nas diferenças), foi preso, exilado no Uruguai, na Venezuela, Chile e fez contribuições para a antropologia de todos esses países… Onde o homem punha o pé criava um agito, revolucionava, produzia. Vejo que ele foi um péssimo aluno de medicina, pois gostava muito mais do social do que da sala de aula e dou risada de mim mesma. Rio porque toda vida sempre fui CDF mas, ao mesmo tempo, eu achava que pertencia à mesma categoria de pessoas que o Darcy. Acho que todo xóvem se vê assim, ai de quem nos contrarie. Mesmo entre aquelas que ocupam cargos importantes e entram para a história, me parece que existem dois tipos de pessoas: as que se destacam e realizam um trabalho apenas por serem a pessoa certa na hora certa. Sua presença é circunstancial. Darcy é o outro grupo, muito mais raro do que se faz crer, de gente que você pode colocar em qualquer canto e vai se destacar, vai revolucionar e subir. É provável que eu e você nunca tenhamos conhecido alguém assim. Adivinho que tem que ser inquieto, extrovertido e definitivamente bom de papo. Novamente rio: tenho uma necessidade aguda – característica dos introvertidos – de sentir o ambiente, saber onde estou pisando; alguém com tanto cuidado com os sentimentos alheios e senso de adequação jamais seria um tipo desses. Claro que cada Darcy precisa de várias formigas para não deixar que seus planos se desvaneçam, tudo tem seu lugar no mundo. Apenas que a maturidade é assim: a gente não investe mais naquilo que não somos.

Aparelho, crush e solidão

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Logo depois de colocar o aparelho, olhei meu reflexo e disse que estava horrorosa. Meu ortodontista defendeu seu trabalho e disse “ah, não fala assim!”. Talvez, de tanto colocar aparelho, ele consiga ver beleza em dentes metálicos. Já eu sentia minha boca enorme, obstáculos, coisas em lugares que até meia hora e dez anos atrás estavam lisas. Eu ainda era aquela, lisa. Coloquei massinha pra dormir, xinguei muito no twitter, economizei sorrisos. E por força, há tantos dias sem nunca ter trégua na sensação, sem poder tirar e nem me recusar a continuar, tenho deixado pouco a pouco de ser quem eu era. Durante quanto tempo a gente consegue resistir e guardar algo que não está mais lá? Falo mais do que um sorriso branquinho – falo do calor, dos assuntos, dos objetos, das expressões nos olhares novos e antigos. Estou falando da vida que muda de forma contínua e em todos os detalhes. Quando estamos infelizes queremos correr, correr, correr. Corri, consegui, agora estou em outro lugar. Nem melhor e nem pior, outro. Aí me pego segurando as lembranças como quem atravessa uma piscina com um papel na mão. Eu não sei mais o que é estar acompanhada. Eu desligo o alarme de manhã, eu apago as luzes da casa à noite. Imito os uivos da Dúnia quando vou encher o pote de água, como diante do computador, verifico os risquinhos na bateria do celular, carrego quilos na mochila em viagens de ônibus pela cidade inteira, em qualquer horário. Um dia não foi assim, eu me lembro; quando eu tinha outro nome essa casa tinha mais gente, eu não conseguia dormir sozinha e comentava em voz alta qualquer coisa interessante que via na internet. Um dia meus pés foram bonitos, meus cabelos enroscavam e a minha pele era macia. Hoje não sei. Olho para essas lembranças e… vai ver que são apenas implantes de memórias, igual dos replicantes. Eu me pergunto qual o ponto de querer um homem. Fora o hábito da carência e da programação feminina, fora o sexo, qual o ponto? Fui acusada de não querer realmente nada com ninguém, senão teria tentado me aproximar do crush. Um crush que nunca esteve longe, em nenhum sentido. Não nego. Agora ele está com namorada e “Olha a prova de que eu não tinha chance, quem gosta de uma perua dessas jamais gostaria de mim!” – digo com a certeza de quem se vê no lado oposto às peruas. Mas qual lado é esse, o que um homem buscaria em mim? Nunca soube direito, nunca fui boa nisso. Eu era recém-formada e morava com a minha mãe a última vez que essa questão se apresentava. E achei, quando me casei, que essa questão estaria resolvida para sempre. Eu me desacostumei em ter quem se importe com os meus horários, me veja nos fins de semana e se apresente como algo meu. Eu estou tão só – às vezes isso é flutuar, às vezes é não existir. A vida tem trocado todas as células e os objetos de quem eu fui, nos mínimos detalhes, até nos que ainda amo. Minha solidão é dor e é incômodo, mas também é meu berço, meu alimento, meu cobertor. Carrego comigo galáxias, desenho em nuvens, choro e sorrio pro vento, à espera de saber o que fazer com tudo isso.

Curtas pra reclamar

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Existem duas etapas sobre decidir escrever, uma fácil e a outra difícil. A fácil é “Vou escrever um livro sobre X”. A difícil é tudo o que vem em seguida.

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Um lado meu gosta de flamenco mas outro… pelamordedeus, vocês sabiam que existem outras formas de cultura?

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Existe um caso de amor entre grãos de arroz e aparelho.

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Em algum lugar das regras de etiqueta internéticas facebookianas, deveria estar escrito que não se atualizam eventos do facebook diariamente. Pra isso existe blog.

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Baladas perdem a graça para comprometidos. E festas de casamento – descubro agora – perdem a graça para solteiras quando não há perspectiva de homens interessantes. Crente comigo não dá, MESMO. Sorry.

Chantagem

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Quando eu acho que as coisas estão ruins pro meu lado, emperradas, complicadas ou por algum motivo estou querendo uma ajudinha da sorte, eu faço alguma caridade. Geralmente, doo sangue ou roupas. Como eu acredito que a gente faz e recebe de volta, desse jeito eu deixo o Universo em dívida comigo e o obrigo a vir em meu socorro.