C
arnaval, assim a
Madonna, é dessas coisas que eu fui criada para não gostar. E
meu pai querer me obrigar a pular atrás do trio elétrico quando eu era criança não ajudou em nada… Passei alguns anos fugindo dele e torcendo para as férias escolares acabarem antes do carnaval. Os anos se passaram a deixei de ter essa preocupação, e morar em Curitiba torna para mim o carnaval apenas um feriado grande, com rumores de coisas que acontecem em outras cidades. Aqui, pra mim, não chega nem uma bolinha de confete.
No litoral tem carnaval. E o meu amigo Ricardo é de lá. Ele postou algumas fotos no FB dele, mostrando a preparação, a fantasia elaborada dele e dos amigos, as poses, as figuras, a festa toda que fizeram. E me peguei com vontade de estar lá com ele, de também vestir uma fantasia, andar por aí, tirar um monte de fotos. Fiquei com vontade de também fazer parte daquela família tão calorosa, de viajar de carro para vê-los, de ficar hospedada, de voltar depois da festa. Fiquei com vontade de entrar no universo dele.
A
í lembrei de outra coisa, que eu quase transformei em post porque me causa um certo incômodo que não sei direito como expressar. Também no meu FB compartilha-se muito mensagens sobre o quão difícil é encontrar alguém que saiba escrever direito, sobre candidatos que são eliminados ao escreverem
concerteza ou
quizer. Também são erros que me doem a vista quando vejo, eu entendo exatamente o que tais mensagens querem dizer. Só que quando falamos desses erros, estamos falando de erros básicos de escrita, e quando falamos de erros básicos de escrita, geralmente estamos falando de pessoas que tiveram uma formação escolar ruim. Escola, gente, apenas escola. Aquele lugar que nos passa um monte de informações, quase todas inúteis. Escrever certo ou errado não me informa nada sobre o caráter de alguém, sobre sua doçura, sobre sua capacidade de amar, sobre coisas essenciais num relacionamento. Eu jogo tudo isso no lixo quando digo que para chegar perto de mim, o primeiro requisito é ter uma linguagem escrita impecável. Encontro muita gente que escreve bem e muito menos gente com quem tenho vontade de me relacionar. Vocês têm certeza que escrever direito é tão importante assim?
Também não sei se conseguiria ficar com quem escreve
concerteza. Mas eu vejo isso como uma forma de fracasso. Isso me mostra o quanto algo sem importância consegue adquirir uma importância que não deveria. Ligar para bobagens como essas apenas exibe a minha incapacidade de lidar com as diferenças, a minha incapacidade de negociar, o meu el
itismo cultural. Porque eu sei que o que eu quero, em essência, nada tem a ver com isso. Tem a ver com o Ricardo, de quem eu tanto gosto, pulando carnaval. O meu coração precisa se sentir quentinho. E quando alguém de quem eu gosto me mostra um universo diferente, eu me pego com vontade de estar lá, de misturar o meu universo com o dele. Amar me tira de mim mesma, me leva a conhecer algo que sozinha eu jamais alcançaria.