“A dança é uma forma de meditação muito poderosa”. Ouvi isso apenas uma vez e concordei, mas na verdade eu nunca havia lido nada a respeito e nem relacionado uma coisa com a outra. Mas a frase ficou martelando no inconsciente e um dia estava sem ter o que fazer e decidi buscar no Google alguma linha de pensamento que relacionasse dança com meditação. Cheguei nas Danças Sagradas de Gurdjieff. Adorei a parte teórica – a dança como uma forma de quebrar padrões de movimento, lidar com o controle e a frustração são coisas que vivi muito desde que me embrenhei nesse caminho. De um lado, começar a dançar desde cedo dá uma riqueza muito grande, mas de outro, começar tarde acaba servindo como uma forma de luta e autoconhecimento que eu também considero bonita. Mas nem tudo é perfeito: a execução das Danças Sagradas, pelo menos nos vídeos que eu vi, me pareceu bem decepcionante. São chatas e quadradas.
Uma coisa leva à outra e comecei a me interessar por Gurdjieff e querer ler suas teorias. Gostei muito dele; eu e Gugu (ou Gudigudi?) já somos íntimos. Como toda teoria mística, tem coisas que não tem como comprovar e não fazem sentido (com o que vivemos no dia a dia), aí ou você acredita ou desacredita. Acho que sou meio louca, porque quanto mais duro o autor, mais eu gosto. Os que falam de amor e dão lições de moral me enchem de tédio, gosto dos que dizem que o universo é matemático. Gugu e Krishnamurti jogam nós, as pessoas comum, na lama. Pra Krishnamurti, a gente fica o tempo todo com os pensamentos ao léu, perde o momento do que está vivendo, dispersa toda energia em besteiras e com isso perde a iluminação. Para Gurdjieff, somos máquinas loucas, que fazem tudo no automático e “dormimos” o tempo todo. No fundo, me parece que eles falam da mesma coisa.
Agora vem a parte da leitura torta: perguntaram para Gurdjieff sobre o livre arbítrio, se existia. Ele disse que sim e não. Que existe, mas não pra nós. Existe para o homem desenvolvido no pleno uso das suas faculdades, pro sujeito que encontrou a iluminação. Para nós, não. É possível dizer que um trem ou uma máquina de lavar têm livre arbítrio? Porque é isso que nós somos, pura e tão somente máquinas, totalmente determinados pelos nossos condicionamentos. Sem a capacidade de formar um Eu constante que realmente escolha para onde ir, as coisas aparecem e nos atingem, nos levam de um lado ao outro, nos decidem. É uma vida regida pelos acidentes. O homem comum não têm a menor influência sobre o seu destino.
Quer dizer que eu não tenho a menor influência sobre o meu destino? Nada, nadinha de nada? Tudo que me acontece vai me acontecer e pronto?
Então tá liberado relaxar e aproveitar a viagem.