Esteja lá em dez minutos

– Estou nos apartamento Granada, no segundo quarteirão do lado norte da Rua Oito. Apartamento 618. Dê-me dez minutos. Prefiro ir sozinha.

A criatura diz isso disfarçadamente, olhando para uma vitrine para fingir que nem estavam conversando e, dez minutos depois, Philip Marlowe estava lá. Ou no Duro de Matar – a vingança, o psicopata assassino ficava ligando pra vários pontos da cidade, passava uma charadinha rápida ou uma indicação de endereço. John McClane e o outro tinham que ouvir direito, adivinhar o sentido, achar o endereço e chegar correndo, senão, lá se iam muitas vidas inocentes. Sempre que leio ou vejo esse tipo de coisa, penso que realmente não tenho a menor vocação para salvar o mundo. Correndo assim, nem se fosse um endereço conhecido. Se quer que eu vá em algum lugar, tem que falar o endereço devagar, dizer se tem alguma loja conhecida por perto e qual ônibus que pega. Da minha parte, vou procurar o endereço no Google Maps e anotar num papel até mesmo quantas quadras eu tenho que andar. Imagina que bonito que seria um filme desses comigo de detetive, tirando o bloquinho de anotações de bolso e pedindo pra criatura repetir o que disse.

No exemplo acima, se Philipe Marlowe fosse, ia parar na rua Guatemala número 118.

Ele e ela

Os pais da minha tinham bastante dinheiro quando os conheci, mas eles haviam sido muito pobres durante a juventude. O casal se fez sozinho. O pai dela, inclusive, aprendeu a ler e a escrever na idade adulta. A mãe foi professora primária e quando a conheci era uma pilha, daquelas pessoas que fazem mil pós ao mesmo tempo, participam de conselhos deliberativos e ainda encontram tempo de corrigir o jeito que a empregada coloca as roupas no varal. O pai trabalhou duro e continuava trabalhando, ele tinha uma empresa que o permitia manter contato com o sal da terra, digamos assim. Era um desses casais bastante improváveis pra quem não conhecia o seu passado.

 

Eu acompanhei muitas coisas naquela família. Um dia a mãe quis pintar a casa, fazer uma grande reforma e o pai embarcou no projeto apesar de não ver necessidade nenhuma. Muito material de construção, pedreiro e tinta depois, tudo ficou pronto, e a mãe ficou insatisfeita com a tonalidade da tinta da fachada, que ela tinha imaginado num tom mais escuro. “Minha mãe fica o tempo todo reclamando da tinta e não se dá conta que o pai fez tudo isso só por ela”. A mãe era um terror com suas reclamações, seus perfeccionismos e tintas que precisam ser de um tom exato, mas eu tinha que reconhecer que sou do mesmo time que o dela. Também sempre fui ansiosa, perfeccionista, e quando as coisas não saem exatamente do jeito que eu quero, corro o risco de perder o sabor de todo o resto.

 

Enquanto isso, o pai sempre quieto, sempre dizendo que sim, sempre na dele. No início eu pensava que era porque a mulher era tão inteligente e ele apenas um homem ignorante, que aprendeu a ler e escrever tarde. Seja como for, um dia eu me toquei: ela se estressa e ele é mais feliz. A vida é melhor pra quem é calmo.

Desde então, tento ser menos ela e mais ele. Não que eu consiga.

Trem fantasma

Não sei se é coisa minha ficar imaginando metáforas pra vida. Oras ela me parece um sorteio, uma coisa aleatória. Em outros momentos, um videogame. Agora estou com uma dificuldade danada de achar uma imagem o que corresponde ao que eu quero, acho que a mais parecida seria um trem fantasma.

Vamos seguindo o nosso caminho. E aparecem coisas no nosso caminho, do nosso lado. Pessoas, empregos, oportunidades, perigos. Como se fossem monstros que surgem de paredes, ou até mesmo alguém vestindo uma roupa de caveira que sobe no carrinho. Depois passa. Só que essa metáfora é muito ruim, porque no trem fantasma, nunca saímos do nosso vagão. Penso em oportunidades que nos chamam que podemos seguir com elas. Aquilo tudo fica nos acenando, nos assediando, fica muito tempo na nossa vista. Digamos que é o cara vestido de caveira, fazendo de tudo pra nos ver gritar. Se dizemos não àquelas tentações, surgem outras, de outra natureza, diferentes. As oportunidades (ou os perigos) possuem o seu tempo certo.

Quando somos, nós mulheres, muito jovens, tem uma fase que os pais ficam muito preocupados. Naquela fase é possível casar com qualquer traste, aparecer grávida, largar os estudos, seguir uma seita. Na adolescência tudo pode acontecer; quando passa a adolescência, vários perigos passam com ela. Se a gente não engravida acidentalmente lá, as chances de engravidar acidentalmente depois caem praticamente a zero. Alguns trastes nos acenam insistentemente, de tal forma que parece o destino, que a gente tem que ir. Depois passa. Do mesmo modo, oportunidades de crescer, de viajar, de arranjar um empregão também nos acenam durante um certo período e depois passam. Depois que as coisas passam, sempre vêm outras, mas essas outras nunca são iguais, nunca mais são aquelas. E a gente só sabe que oportunidades novas são essas quando elas chegam. Então, pra surgir algo novo, às vezes basta esperar, não ir no que te acena naquele momento. Outra coisa surgirá, sempre surge. A vida é surpreendente.

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Sabe uma coisa que passou pra mim? Sociologia. Tenho aqui um restinho de textos, que guardava por desencargo de consciência. A carreira acadêmica me assediou com força, eu mandei currículo tantas vezes pra ser professora, quanta gente disse que eu tinha tudo pra fazer um doutorado. Passou, não foi. Eu disse tanto não que agora não tem mais, acabou essa fase. Assumir isso de uma vez me deixa mais leve.

O macarrão que emagrece

Parecia bom demais pra ser verdade. E era mesmo.

 

Quando comecei a fazer a Dukan, descobri através do site que existe um macarrão de caloria negativa, ou seja, ele emagrece. Podem pesquisar por aí, o nome do macarrão é konnyaku. Em resumo, ele é feito de uma alga oriental de difícil digestão, então o organismo gasta mais calorias para digerir do que ele fornece. Colocando um molhinho sugo e acompanhamentos bem leves, dava pra comer como se não comesse. Melhor ainda: era permitido na fase de proteína pura. Acho que eu não comia massa há um mês, aquilo me soava como o paraíso. Quer coisa melhor? Eu fui atrás.

 

Aí começaram as estranhezas. Fui no mercado municipal durante uns dois fins de semana. Eu encontrei o macarrão, muito conhecido pelos japoneses. Todos me falaram basicamente a mesma coisa: tem em bloco e em forma de macarrão, aqui está, leve pra você. Ele cheira estranho mas é assim mesmo, ele não está estragado. E se você aguentar o cheiro, volte aqui e compre mais. Uma amiga minha disse a mesma coisa, que não tinha conseguido aderir por causa do cheiro. Comprei uma semana, comprei outra, e achei neutro, não tinha cheiro de nada. Que bom, todo mundo com problema com o cheiro e eu não tinha. Ia passar o resto da vida comendo macarrão que emagrece.

 

Até que eu fui no municipal e naquele dia não tinha em formato de macarrão. Acho que compraram tudo para as festas de fim de ano, não sei. Sobraram apenas os blocos. Os blocos eram exatamente a mesma coisa, só que não estavam cortados em forma de macarrão. Se eu já tinha comido tantas vezes e não estranhei o cheiro, que mal tinha? Comprei o bloco bem feliz.

 

Quando voltei pra casa e comecei a cortar, senti o tal do cheiro. Não era um cheiro estranho, era um cheiro familiar, orgânico… até que me dei conta que o cheiro parecia muito o de carne crua. Imaginem, um macarrão com cheiro de carne crua. Pior ainda se pensarmos que eu não como carne vermelha há décadas. Fui em frente, cortei e fiz o macarrão. Só que na hora de comer… Aquele cheiro tinha impregnado o macarrão, as minhas mãos, a minha narina. Comecei a ficar com tanto nojo…

Agora, macarrão pra mim é só o do convencional, o gostoso, o que engorda.

Uma ajudinha

Encheu o saco porque era sempre a mesma coisa, sempre quando tem escrito Pare na rua. Como me disseram, aprender a dirigir é uma etapa da vida. Com o tempo automatiza e tal, e até lá é complicado. Afunda o pé na embreagem e no freio, gira a chave, coloca em primeira, solta devagar a embreagem até sentir o ronco, depois o freio, tira o pé da embreagem, põe o pé no acelerador… Com cinco aulas, dando voltinhas na rua, eu já conseguia fazer curvas, sinalizar, trocar marcha, mas parar no ponto certo no Pare era um troço. Fiz todas as alternativas possíveis: parei antes, parei depois, não parei, fiz curva na terceira marcha, diminuí inutilmente para a segunda, dei partida no carro em terceira, fiz o carro morrer por apertar o freio sozinho antes, fiz tudo certo mas parei muito atrás…
Chegar sempre no mesmo ponto e fazer cada vez uma coisa e nunca ser a coisa certa começou a dar nos nervos e não teve jeito, fiquei nervosa. O professor me corrigiu, o carro morreu, eu tentei dar a partida, morreu de novo, e de novo, eu disse que não sabia o que estava fazendo de errado. No meio dessa discussão toda, uma mulher atravessa a rua bem na nossa frente. Quando ela passa pelo meu lado, se dirige a mim e diz
– Não se preocupa não porque no começo é assim mesmo, viu? A gente fica nervosa e depois acostuma.
Não pude deixar de sorrir e agradecer. Depois, liguei o carro e segui em frente.

Classificados

Meu próprio blog não se cansa de exibir pra mim ofertas dos links que busquei. Procuro um livro pra postar no blog, lá vai o livro aparecer por aqui, nos blogs dos outros, no Climatempo, onde quer que eu clique e que tem adsense. Porque se eu procurei uma única vez, fica registrado o meu interesse e a “inteligência” do sistema fica repetindo a oferta pra aumentar as chances de vender. Algumas vezes, eu pesquisei mesmo, queria comprar mesmo, e comprei. Aí me enche os pacová ter que rever a oferta milhares de vezes. Deveria ter um lugar que a gente clica pra dizer pra eles: já comprei, pode parar de me oferecer!

Pior foi uma vez que, numa comunidade secreta que eu participo no facebook (sim, sou chique e misteriosa), postaram o anúncio do Mercado Livre. Acho que era o anúncio de uma calcinha com cheiro. O link foi colocado lá porque a foto e a descrição eram muito engraçadas. Por causa daquele anúncio, o sistema passou a achar que eu sou a maior tarada. Ai de mim se tivesse que acessar minhas páginas em público. Era entrar no facebook e me oferecerem os produtos mais fetichistas dos sites de vendas. Pior: todos usados.

Tudo é difícil

Sempre que me perguntam se existe uma maneira rápida de ficar rico, eu digo prostituição e tráfico de drogas. Sobre o tráfico de drogas, está aí Breaking Bad pra provar que não é tão fácil assim. E prostituição nem precisa imaginar muito. A não ser que a pessoa seja uma maluca sem critérios, imagine o que é fazer sexo com alguém por quem você não consegue sentir o menor tesão, seja uma questão de cheiro, aparência, idade ou pegada. Ou seja, nem as tradicionais ocupações que dão dinheiro rápido e fácil são rápidas e fáceis.

Tudo dá trabalho. Aos que sonham com um grande amor e casamento, deixa eu avisar que amor também dá trabalho. Conhecer o outro, saber quais são os assuntos proibidos, até onde ir. Sem falar que cada pessoa é um combo, que vem com família, amigos, hobbies e traumas de infância. Amar e ser amado é bom, mas também não é molezinha. 

Não sei se é otimismo ou pessimismo. Na minha concepção, tudo tudo dá trabalho e é difícil nessa vida. Até o que é bom. Então o jeito é abraçar esse trabalhão todo e seguir em frente.

Aos contrários

Não sei porque escrever livros que mostram o quão geniais alguns foram muito novos. De nada me ajuda saber que tem gente que aos sete anos já compunha sinfonias, que aos vinte já escrevia obras primas ou que aos trinta já tinha mudado a história do pensamento ocidental. Nada posso fazer a respeito do meu passado; enquanto alguns entravam para a história, eu perdi meu tempo me achando gorda, pegando ônibus, brigando com algum prestador de serviço ou simplesmente usufruindo do fruto da genialidade alheia. 

Estimulante mesmo é começarem a dar voz ao contrário: casais que se encontram e descobrem o amor aos oitenta, que publicam seu primeiro livro aos setenta, que começam a estudar música aos sessenta, que mudaram de profissão aos cinquenta e por aí vai. Nesse time eu ainda posso entrar.

Coxinha

Tanta coxinha gourmet por aí e eu lembrei de uma história.
Eu parei de comer carne vermelha e de frango há décadas, nem era moda ainda. Quando eu parei, inha que ficar explicando pras pessoas que isso era uma opção alimentar. Não tinha salsicha de soja e mal e mal restaurante vegetariano por aí. Enfim, a vida de não-carnívora era muito mais difícil do que hoje. Tanto que vejo esses vegetarianos radicais e dou risada, já vi muito esse filme. Das diversas coisas que eu parei de comer, uma das que eu mais sinto falta (talvez a única) é coxinha. Eu acho a massa da coxinha uma das coisas mais deliciosas do mundo. Não há o que se compare. Quando vou em festas de criança, abro várias coxinhas e como a tampa delas. O resto, com frango, eu obrigo o Luiz a comer. Não dá muito certo porque ele não gosta de carne de frango e eu não me sinto bem em desperdiçar comida. Aí ficam aquelas bolotinhas comidas…
A história: eu havia terminado o mestrado e a graduação. De futuro da nação, me vi de repente desocupada e desempregada. Fiquei muito deprimida. Um dos meus poucos compromissos era ir pra academia. Fazia um monte de aulas, dava um rolé, ficava conversando com as pessoas. Tudo pra não chegar logo em casa pra ficar quase todo tempo no sofá e na internet. Era uma angústia muito grande e quase ninguém sabia.
Nessa época, a cantina da academia – que vivia mudando de dono – passou a vender coxinha. Só que não era qualquer coxinha, era coxinha com recheio de milho. Coxinha é gordurosa, frita, calórica demais, pesada, tudo o que uma pessoa que se preocupa com sua boa forma não deve comer. E eu era rata de academia, logo, era dessas que não deveria nem olhar. Eu encostava naquele balcão depois das minhas aulas e mandava brasa nas coxinhas. Ai, como era bom! Minha professora de pilates via a cena e ficava indignada, me dava indiretas, comentava. Dava pra ver ela me olhando feio e comentando lá de onde eu sentava, parecia coisa de filme. Ela se sentia pessoalmente atingida, só faltou mandar me prender. Onde já se viu, comer co.xi.nha. Sem dizer que eu estava engordando a olhos vistos.
Eu, naquele balcão, comendo coxinha, era igualzinho bêbado tomando sua cachacinha. A vida estava dura demais.

Oi e beijinho

Se não me falha a memória, a Nadine tinha quatorze anos quando a conheci fazendo flamenco. Era a caçula da turma. Cada vez que errava, ficava tão irritada consigo mesma que quase chorava. Aí começava a errar mais ainda e ficar irritada com seus próprios erros, num ciclo vicioso.

 

Lembro de uma aula, acho que logo depois das férias ou de um período de sumiço dela, que eu estava fazendo aula e a Nadine surge. Quando me viu, ela gritou o meu nome e atravessou a sala correndo pra me abraçar, porque estava com saudades.

 

O tempo passou e eu até mudei de escola. Por causa dessa mudança, fazia bem mais de um ano que não nos víamos. Eu acompanho a vida dela de longe, virtualmente, e sabia que ela estava namorando sério faz tempo e que acabou de passar no vestibular de direito, bem o que ela queria. Ela também saiu da escola de flamenco, provavelmente pra poder estudar. Senão, ela estaria dançando no espetáculo, onde nos reencontramos, ao invés de estar na fila.

 

Ela estava com o namorado e os pais, que eu também conheci naquela época. Desta vez fui eu que chamei pelo nome dela, de longe. Ela me olhou, me disse Oi e me deu um beijinho no rosto. Depois me apresentou ao namorado. Tudo tão adulto, tudo tão civilizado.

Pode ser que o afeto continue o mesmo, mas antes era tão mais bonitinho…

Uma nova cantora no pedaço: Madonna

Fico até constrangida em escrever isso.

Quando a Madonna veio fazer show no Brasil, foi como se todos os meus amigos tivessem saído do armário. Todo mundo amava a Madonna menos eu. Teve uma que ficou a madrugada inteira dando F5 em três computadores no trabalho e numa comunidade do orkut, até achar um link que realmente conseguisse vender seu ingresso. Teve outra, recém operada, que assistiu os shows de São Paulo e Rio, de pé, no gargarejo. Mesmo aqueles que não foram, não se cansavam de me dizer que Madonna foi a trilha das suas vidas, que amavam as músicas, as atitudes, tudo que se refere à Madonna.

Aquilo tudo me irritava. Madonna me irritava. Nunca gostei da Madonna.

Declarar isso publicamente apenas piorou a minha vida. Dica: quando não gosta de alguma coisa, de verdade, fique quieto. As pessoas são terríveis, elas gostam de convencer os outros, elas não se conformam de você não gostar de algo que elas amam. Isso as ofende, mexe com seus brios. Não são apenas os crentes que saem por aí querendo converter os outros, comedores de maionese também. O que já ressaltaram sobre a importância e as qualidades artísticas da Madonna perto de mim não foi pouco. Uma fã dela foi mais longe e me obrigou a ver um de seus shows. Sei lá qual era. Lembro que as coreografias eram muito trabalhadas e que fiquei com uma baita dor de cabeça. Era uma daquelas TVs enormes numa sala pequena, sabem como?

 

Aí vi a notícia de que a Madonna vai abrir uma academia de flamenco. Até o Farruquito nós temos em comum. Compartilhei no FB para os meus amigos. A reportagem fala que é um interesse antigo, que inclusive ela dançou Isla Bonita com um figurino. Fiquei curiosa e fui lá olhar. Aí vi nos vídeos relacionados um que tinha um toureiro e fiquei fascinada. Que bem feito, que lindo, que música. Mas por que mesmo que eu nunca gostei da Madonna?
Puxei pela memória e me dei conta de que minha mãe detesta a Madonna. Assim como ela detesta carnaval e passei boa parte da minha vida detestando carnaval. Como a gente pega visões dos pais emprestadas e não se dá conta! De acordo com a visão de mundo da minha mãe, e que eu compartilhei durante muito tempo, a Madonna contribuiu para deixar o mundo um pouco pior com a sua exaltação da sexualidade (eu disse que estava constrangida ao escrever este post). Quando mais sucesso ela fazia, mais se afundava. Pensem nessas religiões fundamentalistas que vocês vão entender o raciocínio.

 

Na verdade, falando bem a verdade, eu nunca ouvi Madonna. Descobri ´inda agorinha. Madonna, uma cantora nova no pedaço.

Educação

Os pais dão a educação formal. Mas a educação que prepara pra vida, quem dá mesmo são os irmãos. Desculpaê se você está lendo isso e é filho único.
Eu vi como é com os filhos únicos. Eles têm muitos brinquedos. Aí o filho único pega um dos brinquedos do armário de brinquedos e pede pro adulto brincar com ele. O adulto respeita as diferenças de habilidades e QI que existem entre ele e a criança, então na hora de jogar se preocupa em atuar de maneira a estimular a auto-estima dela. Ou seja, ele perde. O adulto não apenas perderá todas as vezes e elogiará muito o desempenho do adversário.
Quando a gente tem irmãos a coisa é na raça. O irmão (ou irmã) não está nem aí se é um ano ou dez mais velho, e por isso mais inteligente e habilidoso. O irmão vai jogar de verdade. Ele não apenas vai vencer quando for a hora de vencer, como também vai rir, jogar na cara, roubar, colocar apelido… O que acontece? Com irmão a gente tem que ficar esperto. Não tem consideração e peninha não, com irmão é psicanálise das ruas.

Cães

Um dia a Suzi contou no FB a comovente história de que ela levou um tombo em casa e os dois gatos – os mundialmente conhecidos Django e Serafa – vieram correndo pro lado dela. E enquanto ela não se recompôs e se levantou, eles não arredaram o pé. Se não me engano, ela completou com alguma coisa sobre a fidelidade felina, a acusação de que eles são traiçoeiros, não amam os donos, etc. Talvez ela nem tenha feito essa colocação, tenha sido apenas o subtexto. Gatos são tão injustiçados, especialmente pelos mais velhos. Meus pais, minha sogra e todos da geração deles que eu conheço não suporta gatos. Eles amam os donos sim, só que do jeito deles.
Quando ela contou isso, um monte de gente comentou, então fiquei com preguiça de fazer uma colocação. O que eu ia dizer é que a Dúnia, esse cão tão fiel e sensível como todos os outros cães, já presenciou uma das minhas maiores quedas. Eu a levei para passear perto de um campinho que tem aqui perto de casa, e quando pisei na grama, – será que havia um buraco lá? Nunca entendi como eu caí daquele jeito – despenquei com tal intensidade que eu ouvi o barulho de algo dentro de mim rasgando. Foi a pior torção que tive na minha vida, e olha que na minha adolescência eu vivia virando o pé. A reação do fiel cachorro? Ficou me olhando de longe e puxando a coleira, como quem diz – vamos logo com isso que eu quero passear?
Aí você olha pra um cão bonito desse jeito e vai fazer o quê?

Tentativa

Eu tive uma professora de português no segundo grau que vivia falando da sua prova de mestrado. “Quando eu fiz a minha prova de mestrado…” e comentava o que caiu, o que ela sentiu, tudo quando é coisa que você pode imaginar. Ela dizia tanto aquilo que até comentei com a minha mãe, que disse que era uma forma nada sutil de dizer aos alunos que ela não era uma professora de ensino público qualquer, e sim que ela era uma mestre.
O ano passou, minha prova do mestrado pra lá, minha prova do mestrado pra cá, e um dia alguém pergunta do diabo do mestrado dela. Aí ela nos conta que ela só fez a prova do mestrado, mas que ela não havia passado… Não tem lei nenhuma que impeça a pessoa falar da tentativa, não é?
Estou me imaginando daqui há alguns anos:
– Quando eu escrevi meu primeiro romance…
– Uau, você tem um romance publicado?
– Não, estou falando de quando eu sentei pra escrever um romance. Só não terminei.

Pas minha nega

Como começar a dizer isso?
Quase que, pela primeira vez em tantos, o primeiro texto do Caminhante Diurno não sai. Digo, definitivamente.
Outra forma de chegar no assunto: alguns leitores se tornaram meus amigos, mas dificilmente meus amigos se tornam meus leitores. O motivo, intuo, é que os que me conhecem pessoalmente me acham tão diferente dessa persona por escrito, sendo que esta por escrito é tão mais séria e mais chata. Eles preferem a pessoa da vida real (ainda bem). Acho que até a pessoa por escrito no Facebook é mais interessante do que esta aqui.
Fui adquirindo muitos hábitos com os anos de blog. Hábitos bons e ruins. Quem lê o que escrevo o faz sem me conhecer, sem saber o meu tom de voz, as minhas crenças, o meu jeito. Às vezes, nem me lê direito. Então fui aprendendo a escrever para uma plateia de leitores anônimos e possivelmente mal intencionados. Não publico coisas que podem se voltar contra mim mais tarde, nem ironias que podem ser entendidas literalmente, nem… ou seja, o filtro foi ficando grande.
Tenho me achado chata, tenho sentido dificuldade de escrever, e os números do blog mostram que o número de leitores não têm aumentado, o que indica que o blog estacionou em todos os sentidos.
Pensei em aderir às newletters, igual o Alê. Mas não sou uma blogueira mega-blaster igual ele, então acho que reduziria ainda mais os leitores de um blog tão pequeno. Se sou tão pequena assim, então a verdade é que aqui já é uma newletter. Vocês são poucos, são as minha nega.
Tentarei – este post é uma carta de intenções – ter um tom mais descontraído aqui. Escrever as brincadeiras que escrevo em outras redes sociais e que me tornam uma pessoa mais leve e interessante lá do que aqui. Ser mais Fernanda e menos Caminhante.
Era isso, negada. Que venha 2014!