Velho, velho e gift

Fiquei muito emocionada quando vi esta propaganda com o Elton John. Mandei pra amiga cujo filho está aprendendo guitarra, e sei que ela se identifica muito com o final da propaganda. Pra mim a propaganda toca mais de outra forma, legado é um tema importante pra mim. Talvez por sempre ter tido a tendência de fazer amigos mais velhos. Não falo em legado num sentido financeiro, e sim como história construída, o que você pensa da sua própria trajetória quando olha para trás. Aquele sorrisinho do Elton John no final da propaganda diz tudo. Uma das coisas que me fez querer chacoalhar e gritar no ouvido de algumas pessoas neste período recente da nossa história: o que você pensará a respeito das suas escolhas quando olhar para trás?

Ainda sobre velhice: fui, com amigos, fazer uma apresentação num asilo. Era o mais bonito e bem cuidado e feliz dentro das circunstâncias, mas era um asilo. Um lugar aonde vão pessoas que, na sua maioria, estão impossibilitadas de cuidar de si mesmas. E me vi menos tocada, menos emocionada que os outros. Talvez por já ter acompanhado deterioração física de perto, de saber o quanto o mundo se estreita. Ou, antes disso ainda, eu pesquisei cegos. Uma das minhas entrevistadas, a que tinha a história mais dolorosa, me ensinou que todo mundo tem limitações, a diferença é que a deles está evidente. Acho que para trabalhar com o sofrimento precisa ter uma aceitação muito profunda do que ela me disse.

O último ponto, voltando pra propaganda. Passei a ficar doida por Your Song, como quem ouve pela primeira vez. Meu verso preferido é: My gift is my song/ This one for you. Uma tradução rápida seria: Meu presente é a minha música/ Esta é para você. Mas gift também significa dom. Do mesmo modo, com este blog, me sinto dizendo continuamente: My gift is (to) write/ this one for you.

Agora o jogo virou, pá

Uma vez um português me perguntou até que ponto nós, brasileiros, estudávamos a história de Portugal. Acho que até D. Pedro II voltar, eu respondi. Aí ele pensou um pouco e disse:

-Que bom. Depois é só porcaria.

Bem, esse diálogo faz quase vinte anos e, de lá pra cá, Portugal tem merecido usar o meme “parece que agora o jogo virou, não é mesmo?” com a gente. Ou melhor, conosco.

Quando eu comecei a tentar ler autores sul-americanos foi que eu me toquei do quanto éramos um país orgulhoso que usa a diferença da língua como desculpa para se manter à parte da América Latina. Desculpa sim, porque temos muito mais dificuldade em entender inglês do que espanhol e consumimos muito mais tudo que vem da língua inglesa. De maneira semelhante, foi meu recém adquirido amor pela música portuguesa – sou fã do Miguel Araújo como nunca fui fã de nenhum outro cantor na minha vida – que me fez ver que viramos também demais as costas para os portugueses. Passei a ver entrevistas do Araújo e do Zambujo, vi o Tiago Nacarato cantando no The Voice e outros vídeos dele no youtube, Zambujo concorreu ao Grammy Latino com um álbum com canções de Chico Buarque; todos eles com gravações de músicas nossas e/ou participações de brasileiros, falam dos nossos compositores, têm a música brasileira como uma influência. Eu agora sei estes nomes, mas quantos de nós realmente sabemos alguma coisa sobre os portugueses? Eu mesma não sei, gosto de uns autores e uns músicos. Tenho a impressão de que é muito natural, em Portugal, estar a par do que acontece aqui. Depois de Dom Pedro II voltar, eu só sabia que eles mereceram uma música fofa do Chico: Sei que há léguas a nos separar/ Tanto mar, tanto mar/ Sei também quanto é difícil, pá/ Navegar, navegar.

Sim, claro, agora sabemos que eles estão bem. E graças a um governo de esquerda, o que torna um contra-senso brasileiros que foram lá para fugir da Dilma ou eleitor do candidato que promete exilar esquerdistas. Há os que dizem que eles nos devem, porque fomos a colônia mais rica e tal. Mesmo que a dívida exista, porque o laço sempre existirá, ainda assim a migração me soa como parente que sumiu vinte anos e volta porque agora está doente.

De boas

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Meu irmão mais novo sempre foi a pior pessoa para se brigar e me pego agora aplicando a mesma técnica que ele. Apenas que ele não brigava. Quando a gente briga com ele, é unilateral. Pra ele está tudo bem; ele não sente necessidade de ter nenhuma conversa séria pra esclarecer, assim como também não muda o comportamento dele. Pode parecer meio óbvio, técnica moralista exortando as pessoas a serem boazinhas, mas eu, que tentei durante muitos anos brigar com ele, posso atestar: é difícil pra caramba. Você não consegue sustentar a hostilidade durante muito tempo sem se sentir um idiota.

Trigão

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Tem aquelas teorias apocalípticas. Em algumas vertentes religiosas, já é coisa dada e institucionalizada. Pode ser arrebatamento, com as pessoas simplesmente sumindo, levadas por Deus ou por OVNIs. Ou pode ser que a desgraça se abata sobre a Terra, e por um mecanismo mágico de méritos, a cratera abre só do lado do justo e ele não cai, a comida falta só do outro lado da cidade, idem para a energia elétrica e o wi-fi. Porque – estávamos eu e uma amiga conversando – existem aqueles que falam dessas teorias com uma naturalidade que beira o desejo. Quando acontecer, dizem, vai ser separado o joio do trigo. Boa parte da humanidade vai se ferrar e não acontecerá com ele, porque é o próprio Trigão no meio do joio – pelo menos no seu próprio ponto de vista. Como não pensar nisso quando se fica em casa, puro e noveleiro, enquanto tantos estão pela noite,  pecando, sendo promíscuos, bêbados, ladrões e imorais? Mas, Trigão, eu não teria tanta certeza. Primeiro porque é bastante complicado não ser atingido de alguma forma quando muitas pessoas sofrem, o mundo não gira da mesma forma. Depois, porque um desejo tão grande de destruição também diz muito a seu respeito – e não é algo bonito.

O outro

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Eu tenho uma amiga que parece ser viciada em indignação alheia. Cada notícia chocante do noticiário a mobiliza de um jeito que ela acompanha os desdobramentos, fica indignada, perde a saúde e o bom humor. É meio estranho ficar com a saúde abalada porque num dia um avião com desconhecidos caiu e no outro uma criança também desconhecida foi vítima de violência, mas ela é exatamente assim. Por outro lado, conheço uma que é indiferente a praticamente tudo; eu a conheço há anos e ela nunca comentou qualquer notícia. Em compensação, um dia ela veio me falar num tom de fim de mundo que o cabeleireiro da filha errou o corte e a menina estava triste.

É fato que, daqui, minha tristeza não ajuda em nada a vítima de tsunami na Índia. A não ser que a tristeza me motive a ir lá atender as vítimas, ou que eu faça uma doação, ou até mesmo reze. Em defesa da minha primeira amiga, ela é uma das pessoas mais éticas que eu conheço. Ela é esforçada, idealista e já se prejudicou inúmeras vezes para ajudar os outros. É daquelas pessoas que ajudam a tornar o mundo melhor. Pena que ela não tenha encontrado a medida de ser boa também para si mesma.

Eu percebo que o meu grande sofrimento neste pós-eleição não é nem com quem ganhou. Eu percebo que nem tenho raiva do sujeito. Considero aquela pessoa um oportunista que, como tal, viu uma oportunidade surgir na sua frente e fez de tudo para agarra-la. É o modus operandi dos oportunistas. O meu problema é com a indiferença gigantesca ao sofrimento alheio. De que, com a desculpa de “minha tristeza não ajuda em nada”, lavarem solenemente as mãos e só se importarem que algo atinja as duas ou três pessoas do círculo mais íntimo. Já temos péssimas notícias em curso, várias pessoas já estão sofrendo. É isto que eu não consigo perdoar e, sim, este sentimento torna meus dias mais pesados. O egoísmo gigantesco, a falta de humanidade, de compaixão, tem ficado cada vez mais clara com a indiferença às absurdas notícias da transição.

Mais quebrado do que arroz de terceira

motorista

Quando minha carona estacionou o carro, o ônibus estava no tubo e eu o perdi. A cobradora estava conversando com duas amigas. As amigas iam num centro espírita e a cobradora estava em dúvidas. “É que eu sou católica”. “Nós também somos, deixa eu explicar, o espiritismo aceita”. E começou a contar, com um tom de voz que só pessoas que gostam de falar de religião têm, sobre ter ouvido falar há anos e não se interessar, e agora viveu coisas difíceis, e ela sentiu no seu coração algo inexplicável, uma vontade urgente de ir. No meio da história, entrou no ponto o cara que corre. Não sei se ele é íntimo, mas quando a cobradora perguntou como ele estava, sua resposta foi ótima: “Hoje eu estou mais quebrado do que arroz de terceira”. Eu saquei discretamente o celular discretamente pra anotar, mas não precisava – a frase é tão maravilhosa que provavelmente lembrarei pro resto da vida. A mulher contou que sai tão bem das reuniões, que no primeiro dia parecia ter deixado quarenta quilos lá, que ela sai leve, eufórica. Meu primeiro ônibus chegou e fui perdida nos meus pensamentos. Saí dele e entrei no outro, que fica muito tempo parado. Entrei e sentei. Logo em seguida entraram duas mulheres, que cumprimentaram efusivamente o motorista. Pensei que eu deveria ter cumprimentado também. Mas aí eles começaram uma conversa animada, os três. Elas dizendo que era muito ruim trabalhar à noite. Ele contou que a “amiga delas” – percebi uma certa ironia – tinha ido na viagem anterior. Começaram a falar de uma outra conversa, um certo clima, uma história de que haviam passado mel nele. “Ela conta tudo pra gente, tudinho”. Aí falaram que iriam perguntar pro motorista anterior qual o nome dele. Que sabiam o nome dele. Ele as desafiou a dizer qual era. “Lourenço”. Ele disse que era quase isso, que era Lawrence. “Nome de artista”. Eu acreditei, mas aí ele colocou um outro nome em inglês depois. Elas também ficaram na dúvida. “Será que eu vou ter que mostrar a identidade?” – ele fez charme. Aí elas falaram que Lourenço era uma das alternativas, que também podia ser Marcelo. Ele riu, disse que não tinha cara de Marcelo. “Mas também podia ser Alberto. Ou Capeletti”. Todos riram. Elas desceram. Eu desci quase em seguida, pedi pro Lawrence ou Capeletti me deixar numa esquina. Agradeci, desejei um bom trabalho e desci a rua pensando no quanto papo de ônibus é maravilhoso.

A grandeza de Saturno

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Há algumas semanas, recebi um e-mail, desses de spam que a gente se inscreve e depois se surpreende quando recebe a newsletter, falando que era um dia especial para louvar Saturno. Era bom para quem tem um Saturno fraco no mapa (o meu não é dos melhores), estivesse passando por um período de Saturno ou apenas quisesse melhorar sua relação com o planeta. Sugeria jejum, um mantra que eu procurei no youtube e achei bacana e ler os trechos de um livro chamado “A grandeza de Saturno”. Não sei se tem em português, achei em inglês (The Greatness of Saturn) num site com livros de graça. Vi muitos vídeos de astrólogos, védicos e ocidentais, falando do quanto a maturidade os fez gostar de Saturno, que o tal retorno de Saturno – que a astrologia védica chama de Sade Sati – não é nenhuma desgraça, que é só ser uma pessoa bacana e fazer tudo certo que Saturno te trata bem.

Como o livro é em inglês, estou levando muito tempo e consigo ler pouco por vez. Começa com a entrada de cada planeta, personificado com um Deus, e acho o desenho de cada um tão bonito que me dá até vontade de um dia fazer quadrinhos. Agora que eu cheguei na parte de Saturno propriamente dita. Um rei fala mal de Saturno. Saturno desce, indignado, e fala que ele estava justamente entrando na constelação de virgem, 12º casa contando a lua do rei, ou seja, o rei ia entrar em Sade Sati e experimentar sete anos e meio de provação e aprender a não desrespeitar os deuses. Poucos dias depois, o rei vai comprar um cavalo, que sai voando e abandona o rei numa floresta. Ele anda muito e vai parar numa cidade onde ninguém o conhece. É acolhido por um comerciante muito gentil, e a filha do comerciante resolve testar o rei (lembrem-se que ninguém sabe que ele é rei) pra ver se casa com ele. A moça entra num quarto todo perfumado e tenta seduzir o rei, que até dorme com a cabeça coberta com um travesseiro de tanto medo do que Saturno pode lhe aprontar. No meio da noite, um cisne sai dum quadro e come o colar de pérolas da moça. Na manhã seguinte, ela diz que o rei, além de impotente, é ladrão. Revistam o rei e, apesar de não encontrarem o colar com ele, ele tem as mãos e os pés cortados (!!!!) e passa os resto dos sete anos como pedinte. Na outra história, Saturno conta que fez mal ao seu próprio Guru, que lhe pediu pra reduzir o período de sete anos em algumas horas. Pra tentar escapar incólume do seu curto Sade Sati, o Guru/Rei foi tomar um banho inocente no rio e colheu dois melões no caminho. Enquanto isso, dão falta do filho dele e do filho do primeiro ministro, e quando o Guru/Rei retorna, abrem a mochila dele e os melões haviam se transformado na cabeça dos dois rapazes. O Guru/Rei é condenado à morte. A esposa, diante de tanta desgraça, decide se atirar numa pira funerária. Todo mundo não morre por questão de minutos, porque o Sade Sati acaba e Saturno desfaz tudo – as pessoas voltam a ver melões e os rapazes retornam, eles só tinham dado um passeio. E nas duas vezes Saturno diz: “só fiz isso porque você é orgulhoso”. Eu me pergunto: e quem não é? Se o objetivo do livro era não ter mais medo de Saturno, acho que não entrei bem no espírito…

Caso haja leitores influenciáveis aqui: Saturno governa outsiders, subalternos, idosos, pessoas em fragilidade social. Tratar bem estas pessoas é tratar bem os seus representantes na Terra. Alimentar e vestir quem precisa é ainda mais excelente. Alias, descobri que fazer caridade como “chantagem” com os céus, que eu jurava que tinha inventado, é uma recomendação constante dos astrólogos hindus. E, por favor, nada de falar mal de Saturno por aí. Vai que ele está passando justamente pela 12º casa da sua lua e…

Jantar é um #hojetem

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Uma etapa muito temida por mim é quando o Fulano – depois das apresentações, da conversa fluente, da discreta pergunta feita pessoalmente ou para amigos a respeito do estado civil, e pequenos testes que medem se o nível de interesse é recíproco – convida para jantar. Faço de tudo para não vivenciar isso, tento resolver a situação num passeio no parque, um café, uma carona, mas nem sempre é possível. O sair para jantar nada mais é do que um #hojetem. Os dois estão interessados, sabem que querem muito mais do que uma amizade ou um amor platônico. A parte dele é arranjar um restaurante que tenha um clima mais romântico. E a minha parte, como convidada? Sem dúvida, estar bonita, e só isso eu já acho uma baita pressão. Pra quem anda sempre esportiva por aí, estar bonita às vezes implica em se colocar numa roupa que faz com que eu não me sinta eu mesma, o que gera o problema do que é estar bonita, para quem é o bonita. A lingerie não vai ser a furada do armário, mas também já acho demais partir de primeira pra calcinha comestível. Sendo a instituição jantar tão ligada ao #hojetem, tem que se fazer de desentendida o jantar inteiro e o divertido está nas insinuações e a possibilidade da recusa, se fazer de surpresa quando a mão dele vai parar na cintura, sendo que eu já pensei nos mínimos detalhes e estou nervosa desde que recebi o convite ou já pode ir beijando quando encontra? Uma amiga minha defendia dar antes do jantar, porque já resolvia tudo e os dois jantavam calminhos e mais famintos – mas também já ouvi muitas histórias que mostram que muitos homens são apegados à etiqueta dos três encontros.

O que elas estavam pensando?

Eu entendo uma mulher não se identificar como feminista por aí, mas não entendo uma mulher que, do fundo do seu coração, não se identifique em algum nível com o feminismo em si. Mulheres que chamam feministas de “aquelas peludas” e que se alinham contra. Toda mulher tem na sua vida algum episódio grande de injustiça, de uma clara preferência por uma pessoa de igual ou até capacidade inferior apenas porque ele tem pinto. Mesmo quando a sua mãe se esforça para não ser machista, quando ela lhe diz desde criança que você deve buscar sua independência, talvez ela esbarre ao insistir que você arrume a casa e do seu irmão não cobre tanto, ou que as regras de moralidade sejam rigorosas apenas do seu lado. Uma outra experiência da qual se fala pouco, e acho que é nela que “perdemos” algumas mulheres é quando você percebe que é fácil agir como esperado. Que se ao invés você lutar com sua competência e esbravejar as injustiças, as coisas podem ser mais fáceis se você jogar o cabelo pro lado ou se fingir de burra. Me parece que muitas mulheres contra o feminismo se deixaram vencer por essa ilusão, a do favor, a do “você acha que me pegou e eu já me adiantei aos seus movimentos”. É a tática do ser tão bonzinho que o seu opressor vai perceber o que está fazendo e te erguer e colocar ao lado dele. Spoiler: jamais funciona.

Infelizmente, não me parece que quem tem o segundo perfil um dia vá clicar no documentário Netflix – Feministas: o que elas estavam pensando? O ponto de partida é uma exposição de fotos de diversas mulheres que se identificavam como feministas na década de 70. Alguns rostos são bem conhecidos. Elas contam suas vidas, o que as levou pra esse caminho, o que conseguiram realizar. É simples, é tocante. Imagine o que é prometerem um prêmio de dez mil e resolverem te pagar apenas cinco, ou chamarem para tirar foto dos vencedores o homem de plantão. Eu me vi um pouco em cada história. Que bonito que é sisterhood (traduzida como sororidade), dá um calor bom no peito.

Roupas reencarnadas

ziper jeans

Eu ia fazer trinta nos e achava que seria uma séria professora universitária, então fiz a tentativa número cento e tanto de tornar o meu guarda-roupa sério. Comprei calça social, paletozinho bege, lenço. E me livrei da minha bermuda preferia, uma bermuda quv eu chamava carinhosamente de “bermuda do mano”: ela era larga, ia até um pouco abaixo do joelho, tinha bolsos nas coxas, tinha fivelas na cintura que era meio baixa. Não combinaria com a nova eu, já estava na hora de me vestir como adulta.

Não me lembrava dessa bermuda até um dia estar fazendo uma organização e encontrar um foto minha daquela época e perceber que comprei uma bermuda praticamente igual há poucos meses. Percorri a cidade inteira, páginas e páginas do Ali até encontrá-la, porque tinha uma imagem muito clara do que eu queria e não achava em lugar nenhum Eu queria uma bermuda pra andar de tênis, pegar ônibus de noite sem me sentir desconfortável com olhares. Ela é tudo isso, amo. Assim como também estava olhando outras fotos de quatro anos atrás, e me vi com um casaco comprido e listras grandes em tons vermelhos. Eu comprei, de novo, praticamente o mesmo casaco. Uso pouco porque ele não é muito prático, fresco demais para o frio curitibano e lã demais no calor. Eu me lembrei que o casaco da foto também foi doado pouco tempo depois pelo mesmo motivo.

Pra quem não direito minha idade, entre uma bermuda e outra foram uns dez anos. Mas pelos menos aprendi a não gastar mais dinheiro com paletózinho, lenços de seda e roupas combinando. Nunca serei.

Acalme a sua mente

shiva meditating

Astrologia védica como o próprio nome diz é védica, vem de Vedas, os textos sagrados do hinduísmo. Ir da astrologia ocidental pra védica é como aqueles joguinhos que tem níveis de dificuldade – a ocidental é a baby e a védica é a super hard. Falo tudo isso sem saber, só de olhar a quantidade de gráficos e cálculos que aparecem nos vídeos. Eu vi um onde o astrólogo jurou que uma certa colocação no mapa do Al Gore dizia quando ele ia quebrar o braço. Védica, hinduísmo, taí uma crença que não tem a menor vergonha de ser encarnacionista e determinista. Sim, de acordo com eles já está tudo aí, a alma encarna sabendo tudo o que vai fazer e acontecer, ela só vem atuar. Diz que é a mesma coisa quando vemos o trailer de um filme e sabemos o que vai acontecer, sabemos quem é mocinho, bandido, como acaba, e mesmo assim pagamos ingresso e vamos até o cinema.

Então qual o sentido? Os astrólogos védicos seriam capazes de te dizer coisas tão precisas justamente para provar esse determinismo. Para mostrar que está tudo aí, e por isso está tudo bem. Que não tem como você ter se desviado porque o desvio não é possível. O grande amor – cito justo este exemplo porque estou sem saber o que falar pras amigas – vai chegar na idade e na época certa, não precisa se debater até lá e sair com todas as porcarias do Tinder. Se você crer profundamente nisso, esta crença vai acalmar a sua mente. Não sou eu que estou dizendo isso, foi o que eu vi num vídeo de astrofilosofia. O que aprendi na minha curta vida é que, quando começo a me impacientar por estar demorando demais, lembro que o bom é rápido e o ruim se arrasta – não tanto por algo intrínseco às situações e sim pela tendência a projetar no futuro a felicidade e desvalorizar o presente. Que cada época tem sua alegria e sua dor e, quando a situação muda, também muda de alegria e de dor – e nessa mudança, o futuro tão aguardado pode nos obrigar abrir mão de coisas que também eram muito legais. Nesse sentido, gostei muito do que diz a astrologia védica, embora não consiga colocar tanta fé no determinismo. Concordamos: o negócio é acalmar a mente. Luta na hora da luta, recolhimento quando não chegou a hora.

Curtas aprendizagens

trufas

Uma torneira começou a ficar chata de fechar, até que chegou um ponto que ela pinga sem parar. Já sei que é uma borrachinha que fica bem na ponta da torneira e ela arrebenta com o tempo e tem que trocar. Sei também que pra quem tem o material, é estupidamente fácil. E entrei em contato com o vizinho que troca antes das gotinhas virarem jorro e dei um prazo largo pra ele vir, pra depois não vir me cobrar os olhos da cara.

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Passei muito mal na semana logo após as eleições, um desanimo digno dos dias depressivos das piores fases da minha vida. Aí acabei comentando com uma que me parecia boa pessoa, que estava decepcionada com a espécie humana em geral, e ela falou: agora é torcer. Meu desânimo só me permitiu dizer que torcia para que ele fizesse o mesmo dos seus trinta anos de vida pública, ou seja, nada. Agora ganhei mais uma pessoa que me hostiliza.

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Mas: 1. Há muito tempo eu sei que gostarem de mim é apenas bônus, que as pessoas não têm obrigação desde que ajam com profissionalismo. 2. Isso vai me dar o motivo que eu estava precisando para não ir em confraternização. Como já disse antes, estou decepcionada com a espécie humana em geral.

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Tem uma bandeja com docinhos perto do caixa, vários sabores, todos parecem bons. Pergunte pro caixa qual o mais gostoso deles, ele sem dúvida já provou todos.

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Eu fui num cartomante três vezes. Digamos que foi como se nas três ele dissesse a mesma coisa, com a desvantagem que ele foi falando cada vez menos. Reli essas anotações e é interessante como a gente só ouve o que quer, só dá destaque ao que quer. De lá pra cá, algumas coisas dentro de mim mudaram de tal maneira que o que era ruim agora me soa como algo bom. Estou dizendo para o Universo: agora eu quero, se era isso que faltava, manda!

Dica absoluta para quem pretende meditar

meditação

Antigamente era só coisa de místico, mas atualmente tem muito material falando bem de meditação. Por um lado, stress diminui o tamanho do cérebro; por outro, documentários como Free the Mind (Netflix) dão perspectivas otimistas do efeito palpável que a meditação têm nos nossos cérebros. Alguns amigos têm comentado que começaram a meditar. Existe muito material, existem aplicativos, então vou deixar para cada um escolher o seu método. Quero dar uma dica importante, palavra de quem medita desde a adolescência: descubra o seu horário, posição e método mais viável e combine consigo mesmo que agora é sua rotina. Não adianta planejar acordar às 5h se você não for tão matutino. Não adianta querer ficar em lótus durante uma hora, sendo que a posição lhe é desconfortável e aquela hora vai te fazer falta. Digo pra estabelecer um horário porque eu sei que se você planeja “em algum momento à tarde”, o sono, a internet, ter feito um lanche, mãe chamando e outros fatores vão te distrair e não vai dar certo. Se você tiver um horário fixo e viável, vai acabar adaptando o seu dia a ele. No mais, tem dias que a gente se sente nas nuvens e noutros parece que não fez nada além de ficar sentado repassando todos os problemas. É assim mesmo, e parece que o cérebro gosta mesmo nesses dias. Espero ter ajudado e boa meditação.

Chuva de diamantes

diamantes

Apareceu no meu Facebook esta informação, curtinha:

Netuno é o planeta que fica mais longe do Sol, são 4.503.000.000 km de distância do astro rei. A cor azul não tem nada a ver com oceanos, mas com nuvens de gás. Em Netuno ocorrem chuvas de diamantes, a atmosfera densa e a pressão podem alterar a estrutura química dos gases, fazendo com que parte deles se transforme em diamantes. (Página “O Universo – 19 de julho de 2015)

Eu curti com um coração, mas assim que fiz achei inadequado. Certamente não chovem lindas pedrinhas minúsculas da Tiffany e sim os pedregulhos mais resistentes do universo. A pessoa morreria com uma pedrada daquelas, e a pedra nem ao menos estaria brilhante. De qualquer forma, é uma imagem bonita e daria um bom título de livro estilo Sidney Sheldon.

Achei que a imagem combina bem com o momento que estamos vivendo. Está chovendo diamantes sobre o Brasil. E este blog espera encerrar por aqui a participação política.

A imagem de chuva de diamantes me faz pensar também na resistência que tenho a receber conselhos. Além da falta de confiança no julgamento da maior parte das pessoas, me parece que elas se deixam levar muito pela imagem. Que romântico encontrar escondido. Que divertido fazer escândalo em festa. Que demais gastar todas as economias numa viagem de sonhos. Quando busco o conselho de alguém, não quero que ela veja a circunstância como entretenimento e sim como é que vou conviver com as consequências pro resto da vida.

A luta entre o bem e o mal… em South Park

jesus satan

Jesus e o Satã são personagens que andam normalmente pela cidade, no desenho South Park. Jesus é um sujeito bem magrinho, pacífico, bata branca e barba. Já Satã tem o dobro do tamanho dos outros, é vermelho, tem um peitoral enorme. Um dia, por um motivo qualquer, os dois decidem se enfrentar de uma vez, num ringue de boxe. Os dois tem semanas para se preparar, e elas são acompanhadas pela cidade toda e pela imprensa mundial. Jesus, pacífico, magrelo, se revela aquele tipo que sofre pra erguer qualquer pesinho, não tem muita coordenação, e seu excesso de bondade faz com que ele não consiga ser intimidante. Por outro lado, Satã faz constante exibições de força, levanta peso com facilidade, destrói, fica cada vez mais forte. Não tem como olhar aqueles dois e achar que Jesus tem alguma chance. O mundo inteiro começa a apostar, e do cara da vizinhança ao pastor, todo mundo aposta que Satã vai vencer. Todas as pessoas na Terra apostam em Satã, apenas uma pessoa aposta na vitória de Jesus. Finalmente chega o dia da luta, e Jesus todo magrelo sobe no ringue, Satã fortão sobe também, transmissão ao vivo. Os dois se posicionam para a luta e Jesus dá um soquinho em Satã, praticamente encosta de leve, e Satã se joga no chão como que inconsciente e fica lá até terminarem os dez segundos e Jesus ganhar por nocaute. Todos ficam indignados, porque obviamente que aquele soquinho não foi nada, Satã se jogou no chão e fingiu. Aí que se revela: Satã foi aquele único sujeito que apostou que Jesus ia ganhar. Ele ganhou uma bolada e ainda jogou na cara – quem mandou duvidar que o Bem sempre vence o Mal?