Anelzinho na mão esquerda

Todas essas coisas aconteceram faz tempo comigo, mas como minhas amigas estão casando por aí, lembrei que existem mudanças que acompanham o fato de estar oficialmente casada. Não, não vou falar de maturidade e responsabilidade, e sim o quanto a atitude dos outros muda – de uma hora para a outra – quando a gente passa a andar por aí com um anel dourado no anular esquerdo.

Primeiro, a questão do sexo. Até a gente casar, oficialmente você não faz sexo. Por mais que a primeira vez faça parte de um passado distante, ou você viaje sozinha com um namorado de muitos anos. No dia em que você casa, você deixa de ser socialmente virgem e entra no mundo dos que tem vida sexual regular. Isso faz com que mulheres maduras e velhinhas, católicas e tradicionais, parentes e desconhecidas, se sintam à vontade pra falar de sexo com você. Porque você é casada, você sabe do que elas estão falando. Sim, isso é bem esquisito no começo.

Eu sempre fui uma pessoa totalmente enjoada com relação a baladas & ficadas. Não gosto de lugares onde a gente precisa conversar gritando, e nunca tive vontade de fazer esse esforço pra ficar com um boyzinho fedendo cerveja. Quando era solteira, havia uma pressão muito grande pra ser mais flexível. Em outras palavras, eu não tinha o direito de dizer não. As pessoas ficavam ofendidíssimas quando eu preferia dormir cedo ao invés de ir pra qualquer lugar à noite. Se me chamavam pra uma balada, eu tinha mais é que largar tudo pra ir. E, chegando lá, deveria corresponder à cantada de qualquer homem apresentável. Qualquer lugar e qualquer um, porque ser solteira é como estar num barco a deriva e desesperada pra sair dele.

Hoje continuo enjoada como sempre, mas nunca mais me encheram o saco. Quando digo não a um convite, todos supõem que não posso sair porque sou casada. Simples assim. Ninguém mais se ofende ou acha que eu sou um alien. Quanto ao assédio, eu já disse que ele continua, mas de uma maneira diferente. Só que quando eu era solteira e dizia não, tinha que assistir uma resposta exasperada, que nas entrelinhas dizia: Como assim, “não”? Você está sozinha e eu estou disposto a ficar com você, você deveria me agradecer!. Hoje dizer não aumenta o meu ibope de mulher séria.

Eu sempre digo que nasci para o casamento e não sabia. 😉

Pergunte ao Sr. Destino

Tudo começou naquela terça-feira que vieram duas alunas do Guaíra pra nossa turma de ballet. Quando entrei nessa turma, há mais de um ano, todos me aterrorizavam por serem muito melhores do que eu. O tempo passou e virei amiga de todo mundo, melhorei a olhos vistos e nos acomodamos numa hierarquia fixa de quem era melhor do que quem. Essas meninas, que fizeram ballet todos os dias desde crianças na melhor escola do Paraná, não estavam a par do nosso esquema. Não adiantou a gente saber que a melhor delas só estava para acompanhar a amiga, essa sim a nossa futura colega. Aquelas duas, 15 anos mais novas e mais magras do que eu, se alongavam segurando o pé por detrás da cabeça, faziam com perfeição as variações mais elaboradas, continuavam a girar quando todo mundo já tinha terminado, saltavam em aberturas que eu só vi profissionais fazerem. O que nunca foi mistério para ninguém me bateu no rosto como um tapa: o que eu, com 15 anos e quilos a mais, estava fazendo numa aula de ballet? Soube depois que não fui a única dos presentes que voltou deprimida para casa, mas isso é outra história.

Foi por isso que decidi procurá-Lo. Porque há anos atrás decidi que não procuraria mais cartomantes, e desde então tenho respeitado essa decisão de maiores dramas. Mas agora precisava de um auxílio, uma palavra amiga, um estímulo para me dizer algo sobre essa paixão tão grande – talvez platônica – pela dança. Eu sei que pra quem tem pouco tempo e começou a dançar tarde, eu tenho um certo talento. Mas seria isso o suficiente? Não teria senões demais perto de tanta gente mais jovem, mais magra e mais talentosa que existe por aí? Foi com esse espírito que sentei diante do Sr. Destino e sua bola de cristal:

– Sr. Destino, eu preciso saber se continuar dançando ballet vai me levar a alguma coisa ou se… se estou perdendo o meu tempo, ou se devo encarar apenas como recreação.

Com a sinceridade que Lhe é habitual, o Sr. Destino me respondeu:
– Talvez o ballet te leve a alguma coisa e talvez não. Mas se você parar, sem dúvida nunca vai te levar a mais nada.

Pára tudo!

Quarta passada, na hora do almoço, eu estava me sentindo um pouco tonta. Voltei pra casa e –voilá – estava com quase 39º de febre. O dia inteiro dormindo e dois chás de alho depois, ela baixou para 38º. No dia seguinte eu resisti o quando pude (ou seja, quase nada) mas mesmo assim o Luiz me levou pro hospital. A médica me receitou Cataflan, Paracetamol e um xarope que eu juro que foi feito para bochechos e não para engolir. Assim que comecei a tomar os remédios, uma dorzinha de cabeça e uma leve indisposição surgiram. Com o passar dos dias, comecei a acordar tonta e entendi a tal proibição de lidar com máquinas pesadas. Até que ontem a dorzinha de cabeça virou enxaqueca, a indisposição virou enjôo e a tontura ficou insuportável. Sabe aquelas reações adversas que 1 em cada milhão desenvolve tomando alguns remédios? Então, soy yo.

Por causa dessas coisas, tenho me sentido doente desde quarta. Ontem, enquanto planejava furar a minha testa pra aliviar a dor, senti saudades da febre. Quando a gente está mal, acontecem uma série de coisas, como por exemplo a mudança do meu futuro vizinho e o sujeito que está pintando o sobrado colocar o rádio num volume que torna insuportável ficar dentro do meu quarto. Com dor, comecei a perceber o quanto louça faz barulho, gente faz barulho, carros fazem barulho. No caminho pra cá, peguei uma chuva daquelas que o guarda-chuva só protege o cabelo. Estou molhada, mal-humorada, emputecida e enjoada com tanta intensidade que dá vontade de dar uma desencarnada básica e voltar só no sétimo dia.

Olha, sem saúde não dá.

Meu nome é Dúnia

Antes mesmo de saber que bicho de estimação nós teríamos – pensamos em ter porquinho da Índia ou ferret – já estava decidido que a fêmea se chamaria Dúnia. Isso porque quando namorávamos, sugeri pro Luiz a leitura do Crime e Castigo. Uma das personagens mais importantes é a irmã do protagonista (Raskólnikov), a Dúnia. Ela aparece na Terceira Parte e se torna fundamental no desenrolar dos acontecimentos. O trecho a seguir, além de ser uma descrição de matar de inveja, fala do que Razumíkhin (melhor amigo de Raskólnikov) sente ao conhecê-la:

Era de uma beleza notável – alta, admiravelmente esbelta, forte, segura de si, o que se manifestava em cada gesto seu e, aliás, não tirava minimamente a leveza e a graça dos seus movimentos. De rosto era parecida com o irmão, mas se podia chamá-la de bela. Tinha os cabelos castanho-escuros, um pouco mais claros do que os dele; os olhos quase negros, flamejantes, altivos e, ao mesmo tempo, às vezes, em alguns instantes, singularmente bondosos. Era pálida, mas não de uma palidez doentia; seu rosto irradiava frescor e saúde. A boca era um pouco pequena, o lábio inferior, fresco e rubro, projetava-se levemente para a frente com o queixo – a única assimetria nesse rosto lindo, mas que lhe dava um traço especial e, de passagem, até um certo quê de arrogância. A expressão do rosto era sempre mais séria do que alegre, meditativa; mas, em compensação, como o sorriso combinava com esse rosto, como lhe caía bem o riso, alegre, juvenil, sem reservas! Compreende-se que o ardente Razumíkhin, franco, simplório, honesto, forte como um hércules e bêbado, que jamais vira nada semelhante, tenha perdido a cabeça à primeira vista. Além do mais, como se fosse de propósito, o acaso lhe mostrava Dúnia pela primeira vez no belo momento do amor e da alegria do encontro com o irmão. Depois ele viu o lábio inferior dela tremer de indignação em resposta às ordens ousadas e cruelmente ingratas do irmão – e não conseguiu resistir. (p.217)

Só depois de já ter nomeado a minha vira-lata é que eu descobri que tem muita mulher por aí chamada Dúnia. Aí eu fico sem graça, porque parece que dei um nome próprio de gente pra um cachorro. Só que na realidade, em russo, Dúnia é um apelido – assim como Ródion é o apelido de Raskólnikov:

Fez um fraco sinal de mão a Razumíkhin para que este interrompesse todo aquele fluxo de consolações desconexas e ardentes dirigidas à mãe e à irmã, pegou as duas pelas mãos e durante um a dois minutos olhou atentamente ora para uma, ora para a outra. A mãe assustou-se com o olhar dele. Nesse olhar transparecia um sentimento forte que transbordava em sofrimento, mas ao mesmo tempo havia qualquer coisa de estático, até mesmo um quê de loucura. Pulkhéria Alieksandrovna começou a chorar.
Avdótia Románovna estava pálida; sua mão tremia na do irmão. (p.209)

Viu? Por mais que não tenha a ver, Dúnia é o apelido de Avdótia. Quem quiser dar a filha um nome russo, já sabe. Na foto acima, está a minha Dúnia com cara de “matei toda a minha família e fui brincar com a bolinha”…

Lugares legais para mijar em Curitiba

Já que Cinco coisas legais pra fazer em Curitiba é um dos posts mais acessados deste humilde blog e que a maior parte dos meus leitores é daqui, decidi ser populista e fazer outro post turístico e de utilidade pública. Se até a piuaí fez uma reportagem sobre banheiros, por que não eu? Vai aqui a lista de onde apelar se você sentir aquele chamado da natureza enquanto estiver passeando:

  • No shopping:

Shoppings são, de longe, o melhor lugar para mijar longe de casa. Eles são sempre acima da média, com papel higiênico e higiene garantidas. Os dois melhores xixis de Curitiba ficam entre o Park Shopping Barigüi e o Shopping Cristal Plaza. Os dois são limpos e bonitos. No Barigüi, o banheiro feminino tem serviço de camareira que fornece agulha e linha e no masculino tem máquina de lustrar sapatos. O Cristal não tem camareira, mas o banheiro tem sofá e é tão bonito que parece que a gente está numa balada. E tem Sentax.

O pior xixi da categoria é* o Shopping Paladium. A sinalização de lá é horrível, então é possível dar uma volta imensa porque as placas não ajudam achar o banheiro. Aí você anda por mais um corredor imenso e acha as pias e lá no fundo ficam as privadas. O banheiro é todo pelado e as lixeiras são de plástico. Nem o trocinho pra deixar o bafo cheiroso (no banheiro perto da praça de alimentação) ajuda a dar um ar menos decadente.

  • No McDonalds

Eu acho que pra uma franquia que ganha tanto dinheiro, os banheiros do McDonalds poderiam ser mais cuidadinhos. Sempre tem papel, é verdade; assim como é muito comum a lixeira estar transbordada. A vantagem é que como muito gente circula por ali, ninguém verifica se a gente é cliente ou não. É entrar e mijar. Tem um no começo da Rua XV e outro mais pros lados da Santos Andrade. Isso sem falar nos bairros.

  • No parque

Não, não estou falando pra fazer na moita. Se eu fosse um blogueirO, quem sabe. Alguns parques tem banheiro com entrada de alguns centavos, como o Parque Barigüi. Isso geralmente garante papel e o mínimo de higiene. No Bosque Alemão, não tem entrada mas o banheiro não é dos piores. Já o banheiro do Parque São Lourenço, da última vez que eu passei por perto, dava pra sentir o cheiro de longe… Já a Ópera de Arame, o Parque Tanguá e o Parque Tingüi, só deus sabe se tem banheiro lá, porque eu não vi.

  • Na biblioteca

Esse foi mais um benefício que o hábito de ler trouxe para a minha vida: descobri que a Biblioteca Pública do Paraná é um bom lugar para fazer xixi. O do segundo andar é menos freqüentado do que o do primeiro. Não só não tem que consumir nada, como tem filmes, exposições, palestras, cursos e ainda dá pra sair com um bom livro! Pra ter dicas de livros, pergunte pro Ale. Só não vale ler no banheiro, porque atrapalha os outros usuários!

Mais alguém aqui quer falar dos banheiros da sua cidade? Então, pode considerar isso como um meme escatológico! 😉

*Errata:
Tinha esquecido do Shopping Estação, de longe o pior da categoria shopping. Dá pra dizer que é um verdadeiro banheiro público: feio, pequeno e fedorento. Se puder, evite!

Não entendi e gostei

Quando eu era pequena, tinha impressão que todas as músicas em inglês diziam coisas muito profundas. Quando percebi que boa parte delas falava de pessoa-que-está-a-fim-de-outra-pessoa, fiquei frustada em perceber que elas eram iguais as nossas. Eu achava que elas falavam daquelas questões existenciais tão profundas que a gente nem encontra palavras pra expressar.

Ganhei um pirata da Yael Naim e a-do-ro as quatro músicas em hebraico. Como o CD veio sem o nome das músicas e desconfio que seja uma coletânea totalmente baixada, não faço a menor idéia do que ela está falando. Pra tentar resolver o meu problema, presenteei a dona do restaurante onde eu almoço todos os dias com um CD, porque ela viveu muitos anos em Israel e sem dúvida poderia traduzir pra mim. E foi o que ela fez. Em poucos dias ela me deu as letras em hebraico acompanhadas da tradução. Mas nem tudo é perfeito: como ela não disse qual tradução é de que faixa, eu continuo sem saber qual a música que fala de quê.

Esse problema das palavras e coisas que não podem se expressar faz com que eu goste tanto de música clássica. Às vezes estou tão cansada – dos conceitos, da fala, da minha própria vergorragia mental – que nem ao menos letras de música que não entendo são suficientes. Minha teoria é que, assim como livros, sempre existe algum clássico que lhe diga algo. A questão é saber qual autor/compositor toca você.

Twitter

Quando eu saí do orkut em novembro, achei que estava abandonando de vez essa vida. Abandonei minha pequena popularidade virtual e nunca viveria nada parecido. Outra desvantagem é que havia perdido para sempre a minha fonte de links engraçadinhos. Meu blog é paradão e meu MSN também. Então, no fim do ano, pra conter a minha vontade de entrar no orkut e ao mesmo tempo não ser tão interativa assim, eu entrei no twitter.

Estava redondamente enganada. Achei que lá eu viveria uma vida virtual tão solitária aqui, no blog. Em pouco tempo descobri que perto do twitter, o orkut parece troca de correspondência. Nesse mundo novo descobri celebridades próprias que possuem milhares de seguidores. Até viagem elas ganham. Isso sem falar nas celebridades mesmo: Marcelo Tas já tem 10000 seguidores; ler o que o Victor Fasano escreve é impagável e imperdível, já o Marcelo Anthony… Pra quem gosta dos Malvados ou dos Barbixas, eles avisam cada vez que colocam coisa nova no ar. Aliás, a cada dia recebo uma infinidade de links, todo tipo de coisas engraçadas. Tem perfil que dá as últimas novidades sobre qualquer coisa, de BBB a promoções na internet. Tem gente que não sai de casa sem escrever um “gente, tô indo pro trabalho #fui”. Descobri que nerds viajam e se encontram… inclusive os blogueiros curitibanos. Eles são unidos (!), tem site, calendário(!!), reunião (#ebc) e fui convidada pra um dia aparecer por lá (!!!).

E eu? Eu estou perdida. Olho pra tela perguntando What are you doing? e não sei o que responder. Nem colocar links longos naqueles 140 caracteres eu consigo. Às vezes que tenho vontade de cometer twittercídio – pra quem queria se afastar da vida virtual, isso foi uma armadilha, né?

Tatuagem e piercing

Ontem eu acordei de novo com vontade de pôr piercing no nariz. Na primeira vez que tive essa vontade, encontrei uma menina no elevador com o tal piercing e do térreo ao 9º andar, minha vontade passou – ela disse que a do nariz é um dos mais dolorosos, que infecciona, que faz melecas bizarras e que a gente se cutuca sem querer (na hora de se enxugar ou coçar o nariz) e dói muito. A parte do se cutuca foi a que me convenceu, porque sou muito desajeitada pra essas coisas. Anos depois, conversando com a Sabrina (a do vídeo), ela me desestimulou enquanto tentava me estimular:

– Ah, eu acho que você deve pôr. Eu tenho o meu há anos e não me arrependi. Na hora em que eu coloquei eu desmaiei, mas…
– Você desmaiou enquanto colocava o piercing?
– Ah, é porque eu sou assim mesmo, eu desmaio à toa. É que o cara quis brincar comigo e ficou colocando e tirando a agulha e eu desmaiei. Mas valeu a pena, eu gosto muito, você ia ficar…
– Você desmaiou enquanto colocava o piercing!?!?
– Desmaiei, mas não liga pra isso, o piercing é…
– Você desmaiou enquanto colocava o piercing!? o_O

Quanto à tatuagem, cheguei à conclusão que eu não gosto de nenhum desenho porque não sou uma pessoa visual. Nenhuma imagem é marcante pra mim; a cada ano eu faço uma coisa diferente. Não gosto de símbolos alheios, não sei fazer o meu próprio símbolo, não me identifico com nenhum grupo. Se desse pra colocar um Play no meu corpo, saberia exatamente que músicas eu colocaria. Músicas, pra mim, são pra sempre. Desenhos não.

Fora isso, esses dias eu cheguei à conclusão que se um dia fizesse uma tatuagem, seria na nuca. Acho sexy, tenho cabelo curto, gosto de beijo lá e tal. Quem sabe aos 60 anos eu faça uma tatuagem. Sabe como é, meu lado taurino decide devagar…

A Poça

Outubro de 2008, Curso de Dança Moderna UFPR

Contexto: naquele dia, tínhamos assistido a performance histórica de Isadora Duncan dançando O Mar. Performance que fora do contexto da época é meio… meio simples. Imbuída desse espírito, fui pra aula e comecei a brincar que como não sou nenhuma Isadora Duncan, começaria com um tema menor, como uma poça d´água. Aí está o resultado, com as loucas da Sabrina e a Analu me apoiando. Não deixe de perceber o papel importante da Analu ao pisar na poça d´água e a sonoplastia da Sabrina.

Não adianta correr dentro do trem

Eu nunca passo muito bem por esses períodos de férias. Não é à toa que foi nessa época (no ano passado) que eu voltei pro orkut, depois de 6 meses afastada. Não é à toa que o Luiz comprou o wii fit e sabia que o usaria muito nesses dias. E não é à toa que, apesar de todos os cuidados, ontem me bateu a famosa crise de “não sou ninguém, não fiz nada”.

É incrível como os anos passam e eu sempre me debato com as mesmas questões. Como se eu fosse uma personagem de um romance qualquer e que na verdade não sabe (ou não aceita?) a classificação da sua história – romance, suspense, realismo fantástico?* Nem sei se vai me sobrar alguma crise pra ter na meia idade, porque já tenho olhado pra trás a cada ano!

Vejo que estou sempre tentando correr dentro de trem, sempre brigando com o ritmo próprio das coisas. Ritmo, inclusive, que me impõe uma rotina exaustiva seguida do ócio e vazio completos. Que conquisto e depois não me importo de colher os louros**, porque não é a glória que me motiva. Às vezes eu me sinto o arquétipo do signo de áries, meu ascendente: a Eterna Criança do zodíaco. Mas que sou euzinha pra viver uma vida de arquétipo? Na vida, a gente não tem que construir uma família e uma carreira para ser alguém?

* Lembrete 1: Isso é o ponto de partida pra um filme legalzinho, o Mais estranho que a ficção. Recomendo.
** Lembrete 2: Preciso tomar coragem e ligar pra editora e saber se vão publicar ou não minha dissertação. Já faz 1 ano…

Isabel Allende (ou para ser bom escritor)

Fiz o caminho inverso dos fãs, e fui conhecer a vida do autor antes de me interessar pelos livros. Eu li A Casa dos Espíritos e vi o filme, e agora fiquei com vontade de conhecer as outras obras da Isabel Allende. A biografia é bem interessante, e fala muito do processo de criação. A Casa dos Espíritos conta a história da família, Paula conta a história da filha que morreu, Um plano infinito conta a história do atual marido. Todas essas coisas me fazem pensar do porquê a Isabel Allende é uma grande escritora e porquê esta blogueira que vos fala nunca conseguiu escrever uma página, por mais que alguns amigos (gentis) sugiram que eu escreva um romance. Pra quem quiser um dia escrever, essa minha auto-crítica não deixa de ser uma lista de dicas:

  • Ser uma pessoa imaginativa:

Isabel Allende era do tipo de pessoa que contava histórias o tempo todo – primeiro pros irmãos e agora para os netos. Quando tentou ser jornalista, não tinha a menor credibilidade diante da editora, porque era famosa sua tendência de completar os vazios com a sua imaginação. Era uma coisa dela, as histórias saiam sem esforço. Acho que não dá pra ser uma pessoa super pé-no-chão e achar que diante de uma folha em branco várias histórias surgirão.

  • Estar sempre em contato com a escrita:

Antes de ser autora de livros, Isabel Allende teve uma coluna semanal de comportamento e trabalhou muitos anos na área jornalística. Além disso, sempre foi grande escritora de cartas, o que faz mesmo agora (ela só escreve e-mails pra casos urgentes). Ou seja, ela estava sempre em contato com a escrita, com a narração, com essa forma muito específica de raciocinar que é escrever. Nada melhor pra treinar a escrita do que escrever sempre!

  • Falar sobre o conhecido

Embora as coisas depois os personagens criem vida própria e sigam seu próprio rumo, ela sempre toma como ponto de partida as pessoas que conhece bem. Esteván Trueba era baseado no seu avô, Clara Trueba na sua avó e assim por diante. Tudo de alguma forma é aproveitado: lembranças de infância, contos, recortes de jornal, lendas, lugares visitados. O público não sabe a diferença entre a realidade e a ficção, porque tem muito de realidade lá. O que leva ao próximo item…

  • Não ter medo de se expor

Não posso falar de outros escritores, mas uma marca de Isabel Allende é a franqueza com que se expõe. Pra ela, escrever ajuda a digerir os momentos que ela passa, como a morte da filha. Por isso tamanha identificação com que ela escreve. Ao ler sobre o sofrimento e as dificuldades dela, lemos um pouco sobre o sofrimento e dificuldades inerentes à condição humana. De forma semelhante, percebo que os blogs que eu mais gosto de ler são aqueles que a pessoas se expõem mais, mas de forma universalista. É um ponto dificil de encontrar.

Entonces. Eu sempre admirei a capacidade do meu irmão em escrever ficção. Não consigo inventar uma historiazinha. Entre os estilos de escrita que eu admiro, estão desde a sucessão enlouquecida de fatos de Cândido ou O Otimismo, como a escrita introspectiva de Virgínia Woolf. Sendo assim, o que me restaria seria o caminho da sinceridade universalista – o que eu acho que nem no blog consigo.

De qualquer forma, eu acho que a decisão de não escrever também é muito válida. Tem muita gente por aí que teria feito um grande favor pra humanidade se tivesse pensado nisso antes!

Oxóssi e amor

De todos os tipos de horóscopos e definições, a que realmente me tocou quando li* foi dizer que sou filha de Oxóssi – e nem do candomblé eu sou. Só nele eu vi a combinação de senso de humor e solidão. Os filhos de Oxóssi não tem** problema nenhum em se afastar dos outros. Aliás, em alguns lugares diz que o problema mesmo é um filho de Oxóssi casar. Bem que eu sempre disse que o Luiz é o único no mundo capaz de me suportar!

Eu tenho grande afinidade com amor à distância. Não apenas no sentido de amar os que estão longe, mas também no sentido de manter longe pessoas de quem gosto. As idiossincrasias das pessoas me cansam e ser diplomática é um esforço que nem sempre estou disposta a fazer. Às vezes e algumas pessoas funcionam melhor quando estão longe de mim; às vezes finjo que estou aborrecida só porque assim fica mais fácil de administrar. Sou como a cascavel de um conto que eu li, que virou budista e parou de picar as pessoas. Mas balança o chocalho e finge que vai atacar, só pra não ser maltratada.

Quando gosto de alguém, costumo aceitar o pacote inteiro e nunca tentei mudar os hábitos ou crenças de alguém. Quando sinto ciúme, eu o confesso e isso geralmente me liberta de coibir o outro. Talvez o mais difícil de suportar no meu amor é que exijo dos outros o mesmo despreendimento que o meu. Não sei jogar e não tenho paciência com joguinhos. Se for pra jogar, prefiro me embrenhar sozinha pela mata…

* Quando digo que li, me refiro à busca de informações depois de descobrir. E a gente só descobre quando um pai de santo pergunta isso pros búzios.

**sem acento mesmo. Maldita reforma ortográfica.