Não vou listar as últimas novidades de um dia nas redes sociais, que incluem balarorixá estuprador e homem indo ao cinema com onze mulheres. Terminei recentemente a série sobre a vida de Luís Miguel (Netflix) e chama muito atenção a relação entre os pais dele, a maneira como a mãe foi esmagada pelo marido. Eu fui uma menina criada entre meninos, apenas com irmãos, então nunca soube o que era ter do meu lado uma irmã para discutir vestidos, paqueras, dicas de maquiagem. Em compensação, era eu a mais apta a dizer para as minhas amigas o ponto de vista deles, que lhes parecia tão misterioso. No excelente “Que co#o está pasando?” (Netflix), citam que atualmente os meninos já acessam pornografia com oito anos de idade, enquanto as nossas meninas sonham em ser princesas – não precisa ser nenhum gênio para concluir que há um abismo aí. Eu entendo perfeitamente a decepção de muitos homens com aquelas (eu no conjunto) que cortam o cabelo bem curto, “cabelo de homem”; os cabelos longos são um símbolo tão feminino, uma vaidade que dava um trabalho imenso para a mulher e que eles desfrutavam tanto. O cabelo que “não tem onde pegar” pode lhes apontar mais do que uma falta de vaidade, pode ser a recusa de ser levar para dentro da vida deles um universo de delicadezas que, como homens, eles não estão autorizados a acessarem sozinhos.
Mas o que realmente me vem forte neste fim de ano é a constatação da fragilidade das mulheres. Da temerária tendência a confiar, abrir mão e ceder. A dificuldade de ouvir o próprio corpo gritando de insatisfação, a vontade de ir embora, a confiança nos próprios instintos. Será possível criar com cor de rosa, vestidos e constantes elogios à aparência e ao mesmo tempo essa menina ser capaz de levantar a voz, gritar por ajuda, ser grossa quando não há ninguém ao lado para apoiar? Mais do que fora de moda, a feminilidade tradicional nos tem colocado em risco;. quando vejo uma mulher boazinha demais, temo por ela.
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