Brahma criou o universo e a participação dele nas histórias termina aí, só os outros dois deuses da trindade aparecem interferindo na nossa história. Quando o Dharma (A Lei) precisa ser reestabelecido, Vishnu reencarna. Ele é a força de manutenção, então os avatares dele são régios, calmos, doces, como Lord Rama; Shiva, que simboliza a força destrutiva, aparece em avatares mais guerreiros, fortes, radicais, como Hanuman, o deus-macaco que auxilia Lord Rama a derrotar Ravana.
Um dessas encarnações de Shiva é o não tão aprazível Rudra. Não é um deus fofo, o nakshatra dele é associado ao trovão e ele representa o aspecto furioso de Shiva, a ira que destrói as injustiças. É um tremendo guerreiro e um sábio renunciado. A própria palavra renunciado já dá a pista: ele passa muito tempo em meditação, vive coberto de cinzas, vive semi-nu, dorme na floresta.
(O que eu adoro nesta história de Rudra e Sati é o quanto o que realmente tem valor só é visível para os que têm olhos para ver. Ele era o Deus Shiva e…)
Sati era uma das filhas do riquíssimo rei Daksha, um brâmane muito poderoso e conceituado, versado nos complicados rituais védicos. As histórias hindus das princesas que querem casar estão cheias de festivais, de provas que elas inventam como erguer arcos com encantamentos ou coisas do tipo, proezas que têm o objetivo de fazer com que os homens possam se exibir e que elas possam se encantar com o noivo. Pois o olhar de Sati recaiu sobre alguém que nem ao menos queria se casar: Rudra. Ela realizou todo tipo de austeridade para se mostrar digna dele, e foi viver também na floresta e com a roupa do corpo. Daksha não aprovou a escolha e nunca entendeu como a filha pode rejeitar um reino para ficar com um mendigo; se ele já não achava Rudra sua pessoa favorita, com o passar do tempo passou a odiar o genro.
Daksha realizou um festival e Sati quis ir porque sentia falta da sua mãe e suas irmãs. Rudra disse que não era uma boa ideia, mas ela quis ir de qualquer forma. Todos haviam sido convidados e eles não, depois chegando lá o rei recebeu a filha com frieza, ela viu que não havia oferendas a Shiva… foram várias desfeitas até ela não aguentar mais e começou a discutir com seu pai. Como um pai e bramana podia ser tão cego, não via o quanto ela estava feliz e as imensas qualidades de Rudra; como uma filha podia se achar grande coisa e desrespeitar e envergonhar o próprio pai na frente de todos – e daí pra baixo. Sati – que havia se tornando um poderosa yogui – lamentou que nenhuma austeridade que ela praticasse mudaria o fato de que ela e Daksha eram pai e filha, que ela tinha o sangue dele, sangue que ela gostaria de arrancar de si, indigno, que num próximo nascimento ela pudesse nascer filha de alguém melhor. Ela então começou a se rasgar, enfurecer… a rainha e o as irmãs, assustadas, queriam que Daksha a parasse, e ele nada fez. Na sua fúria, Sati entrou em auto-combustão e queimou até virar cinzas.
Mas e Rudra? Conto no ano que vem…
(Eu tirei a história daqui, se quiser conferir. Mas já vou adiantando que ele vai apenas até onde eu já contei…)
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