Quando eu a conheci, descobri que havia conhecido seu ex-marido, bem na época que os dois estavam se separando. Separações são sempre traumatizantes, e a dos dois foi especialmente difícil porque eles se conheciam desde a infância e haviam se mudado há pouco tempo para Curitiba. A história de vida de um está totalmente envolvida com a do outro. Antes de conhecê-la, eu tinha uma opinião neutra sobre ele. Faziamos defesa pessoal juntos, e como ele é da minha altura (acho que um pouco mais baixo), era comum fazermos duplas nos exercícios. As coisas que ela me contou pintaram um retrato horrível, de uma pessoa com quem eu jamais conversaria se soubesse. Não apenas pela maneira como o casamento acabou – ela parando de trabalhar no que gosta em função dele, e depois sendo maltratada justamente porque estava sem emprego – como pelas opiniões, pela maneira ambiciosa e mesquinha de ver a vida.
“Saí com um cara ontem, só pra conversar. É difícil me acostumar com outro homem, porque o ex era um verdadeiro jumento”. E era mesmo. Eles moravam em outro estado, aí ele se encantou por Curitiba e decidiu vir morar aqui. Ele estudou pra um desses concursos que oferecem salários altíssimos, e passou num dos primeiros lugares. Tudo com o objetivo de escolher a vaga de Curitiba. Ela tinha contatos e emprego lá, e se mudou em função dele. Aqui, arranjou um emprego, mas a área dela não paga muito bem. Aqui, ele voltou a estudar e logo começou a arranjar namoradas na faculdade. Ele a convenceu a abandonar o emprego, e disse que ela precisava passar num concurso igual ao dele. A desigualdade salarial fazia com que ele se sentisse explorado. Ela não conseguia estudar aquilo, começou a engordar e ficar infeliz. E ele, a desprezá-la por ser uma simples dona de casa. Ele até estava planejando uma viagem à Europa, sozinho; se ela quisesse ir, que trabalhasse e economizasse.
“Tenho pensado sobre que tipo de homem eu gosto. Porque o meu ex era um jumento”. Como eu ainda frequentava a defesa pessoal, o ex acabou descobrindo que eu virei grande amiga dela. Sem que as outras pessoas percebessem ou entendessem, ele passou a me virar a cara. Eu jamais falei mal dele, mas confesso que foi por pura falta de oportunidade – dava vontade de dizer pra todo mundo que ele considera fracassados todos com renda inferior a dez mil mensais. Enquanto minha amiga ralava pra reconstruir a vida, o outro fazia yoga do DeRose. Fomos ver
Mamma Mia juntas e ela se emocinonou muito com
The winner takes at all, porque parecia falar do que ela estava vivendo. Só que nem tudo era como eu pensava. Ou, pelo menos, como eu estava entendendo:
– Ele foi meu primeiro homem. Nos primeiros meses doeu muito, demorei pra me acostumar. Porque o ex era um verdadeiro jumento…
– Espere. Durante todo esse tempo, eu achei que você dizia que o ex era um jumento porque ele te tratava mal.
– O ex me tratava muito mal mesmo. Mas era um jumento porque era (e começa a me mostrar com mãos paralelas e dedos arredondados as proporções ajumentadas do orgão sexual do ex-marido).