Eu acredito em inconsciente. Acredito naquela metáfora que mostra um iceberg e o nosso consciente é apenas aquela pontinha que fica para fora da água, enquanto por debaixo existe uma montanha. O consciente fala uma coisa, acredita, se programa, jura, mas ele é muito pouco. Muitas coisas que achamos que são completamente racionais surgiram lá debaixo e são meras desculpas pro que o inconsciente quer; noutras vezes, a cabeça tem a melhor das intenções e o inconsciente se recusa.
Eu acredito que somos seres sociais. A teoria dos contratualistas, como de Hobbes, Locke e Rousseau, fala de um dia que as pessoas se reuniram e decidiram formar um governo, dar a ele mais ou menos poder, usar suas habilidades em conjunto; na realidade, nunca houve esse dia – linguagem, cultura, relações, habilidades, tudo surge junto na espécie humana. Atualmente, somos muito apegados a noção de gênios, de ser diferente, de fazer suas próprias regras, mas até esse desejo é algo social. Na verdade somos sempre muito parecidos com as nossas famílias, o meio em que vivemos, nosso país, nossa época histórica. Mesmo aqueles que se destacam em alguma coisa, quando estudados de perto, receberam condições favoráveis do seu meio.
Por sermos seres sociais, eu acredito que o poder corrompe. Que quando um ex-líder estudantil se torna político e, anos depois, está tão corrupto quanto os outros, não devemos nos sentir vingados – “olhaí, mau caráter também”. Não são todos lobos disfarçados que se revelaram. Há algo no poder que confunde, perverte, altera, que força a uma adaptação. Por isso eu não acredito que a solução seja votar no mais puro, no mais radical, no que vai quebrar tudo. Não é uma questão de pessoas e sim um sistema.
Eu acredito que temos obrigações para com todos os outros seres humanos (também animais e com o nosso planeta). Nossa incapacidade de se pensar como grupo que nos levou à situação absurda que temos hoje, onde de um lado poucas pessoas ganham em minutos mais do que são capazes de gastar, enquanto milhões mal têm para a subsistência. Que por mais que eu pessoalmente não tenha escravizado ninguém ou não tenha feito nada que prejudicou a família do marginal, como espécie, como humanidade, temos que lidar com isso. E quando digo lidar com isso, é querer que a ele o mesmo que quero para mim: comida, abrigo e felicidade.
Eu acredito que a vida é muito complicada. Que apontar os erros é muito mais fácil do que corrigir, mas ainda assim é necessário. Quando enxergamos a sujeira dá desespero, não sabemos por onde começar, dá vontade de dar as costas e ir embora. Ou de encontrar uma solução radical. Sabe aquela história de catarse, gritar, jogar pro alto, quebrar tudo? Sempre existe o dia seguinte, e depois de um surto dá mais trabalho arrumar. Assim como a vida é complicada, as soluções que valem a pena também são. Nunca será rápido e ninguém pode nos salvar.
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