De novo, parece política mas não… talvez seja

humanidade

Quando Moro aceitou ser super ministro, eu disse que foi a pior decisão da vida dele. Veja bem, assim que ele aceitou, o governo nem tinha começado e todos estavam com muito ibope. Minha previsão foi baseada em algo muito mais trivial: ele teria como superior um homem desorganizado. Que prometeu plenos poderes, que prometia ser uma opção melhor, mas desorganizado. E pessoas desorganizadas são como bombas. Às vezes, são muito mais prejudiciais do que uma pessoa maldosa. Quando você está com um desorganizado, acaba tendo que trabalhar o dobro, se antecipar, estar sempre correndo atrás e equilibrando os pratos. Odeio depender de gente desorganizada. Um maldoso pelo menos sabe o que está fazendo, tem noção de que estraga o teu sono e os fins de semana. O desorganizado acaba com a tua vida e ainda por cima se sente vítima. Ser desorganizado, ficar de aparecer e sumir, avisar em cima da hora não é charme. No máximo, defeitos que as pessoas toleram em prol de outras qualidades.

Curtas ansiosos e fora do lugar

Passarei uma semana acordando 4:30. É exagerado e não é. É pra dar tempo de tomar banho, café tão cedo eu não consigo, andar tranquilamente, pegar os ônibus que mesmo atrasados meu levarão aonde eu preciso. Se tudo atrasar, ainda chego no horário. Quando chegar meia hora mais cedo e esperar pelos outros, é provável que me xingue pelas horas de sono perdidas. Mas no fundo eu vou saber que é o preço que pago por ser quem eu sou: uma pessoa que se cobra demais e não conta com a sorte.

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Uma vez fui num iridologista. Fui com meu então marido, que ia ficar me esperando na sala espera e o iridólogo o mandou entrar. Guardei pouquíssimo do que o sujeito me disse, lembro das fotos do meu olho bem grande numa tela de TV e ele me falando algumas coisas a respeito do meu temperamento e da minha saúde. O que guardei foi a frase: “você é uma pessoa de grandes medos e grandes coragens”. Talvez nem isso tivesse guardado se o meu ex não tivesse dito que foi a melhor definição já feita a meu respeito. De acordo com ele, nem registro o perigo de situações que fariam os mais machos recuarem, e ao mesmo tempo temo coisas tão estúpidas que ninguém imagina.

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Uma lembrança tola. Eu havia combinado de encontrar minha mãe para almoçar antes da minha aula na faculdade e no intervalo dela. Eu a buscaria e iriamos juntas, mas como atrasei ela já estava no restaurante. Eu me desculpei e disse que o ônibus atrasou. No seu silêncio, ela me disse que “claro, você sai em cima da hora. Aí, quando as coisas não dão todas certo, você diz que o ônibus atrasou”. Ou seja, eu não fui sempre assim, ansiosamente pontual.

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Outra lembrança: eu comecei minha segunda faculdade e conversava com os outros alunos mais velhos. Havia uma lá de cinquenta. Ela me falava que havia sido de movimento estudantil, que era do tipo que falava, que era isso e aquilo. Mas isso antes, quando era jovem. Com o viver, havia se tornado calada, não dizia o que pensava, tímida, não levantava a voz. E eu pensava: “então por que você não recupera aquela moça, se você tem ela aí dentro?”. Hoje eu entendo.

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Uma que dança desde criança foi parar na vida acadêmica e escreveu no seu Insta sobre o quanto lutava contra o seu sentimento de estar fora do lugar. E eu comentei: “sinto o mesmo que você, só que invertido. Na academia, eu estava no meu lugar.” Um dia houve um lugar.

livro da vida

Láááááá longe

Eu arranjei um bico que vai me obrigar a ir em escolas estaduais durante alguns dias. As coisas não foram da maneira como deveriam. Sabe quando o atrapalho vem desde cima e vai fazendo um efeito dominó e quem está embaixo é que sente mais o impacto? Bem assim. Como pessoa extremamente organizada, correta e tensa, não gostei e reclamei. E fui ficando de mau humor. Não pude me organizar com a antecedência que gostaria, reclamei em grupo de zap, estava quase organizando levante dos insatisfeitos. Aí, finalmente, com muito atraso, chegou a lista das turmas e escolas. Como temia, lidarei com adolescentes, aqueles animais barulhentos cheios de hormônios. Aí fui de puta mau humor procurar o endereço e ver como chego em cada uma. Sou ninja em Google Maps, conheço vários segredos. Um deles é você inverter as rotas de ida e volta. Bem bobo: coloca o endereço de ida e volta, vê o que aparece, e depois inverte os endereços. Às vezes faz um diferença imensa.

Descobri um ponto de ônibus totalmente novo perto de casa, uma linha que nunca peguei. Já senti uma cosquinha. Estudei quando dá pra ignorar parte dos trajetos e ir a pé. Não conheço ninguém que já tenha cruzado a cidade inteira de ônibus como eu. A escola mais longe é num lugar muito bróder, que eu ia quando comprava tecido, conhecia o nome de todas as ruas. Mas o que matou mesmo foi quando entrei nos sites e vi as escolas. Pátio pequeno, as árvores, as paredes feiosas. Eu estudei em Escola Estadual. Toda escola estadual tem um pouco desse combo de falta de manutenção, mesmo quando elas são mais centrais (como a minha era).

Quando fiz segundo grau, não tinha linha de ônibus até a minha escola, e andávamos um montão a pé. Sol do meio dia e aqueles estudantes todos de azul subindo a rua, era uma pernada boa. Garrei afeto vendo a foto das escolas, tudo muito familiar. Assim como já gosto antecipadamente do novo caminho de ônibus que vou pegar. Claro, tô falando isso porque é pouco tempo e vai entrar um dinheirinho… Ter que ir longe e andar tanto sempre fez parte da minha vida; puxei pela memória e percebi que jamais tive o prazer de morar do lado de onde precisava ir. Quem sabe eu vá, ache péssimo, detestável, odeie os adolescente e lamente não estar numa posição que possa recusar dinheirinho, mas por hora eu tive um insight cheio de afeto: isto que é o que todos querem distância – o ônibus, o esforço, a escola pública – está entranhado em mim. É esta vivência que me faz nunca olhar o “povo” como “eles”. Nós nos olhamos nos olhos, nós balançamos juntos no ônibus lotado de manhã.

(E viva Chile!)

xadrez

Ro-ti-ne-i-ra

jacaré e caracol

Levei muito tempo pensando que era por não ser tímida, por ser antissocial. Depois pensei que fossem questões razoáveis, como pensar em logística de como chegar, de onde tirar o dinheiro, que não é assim que se decide. Não teve nenhum grande fato, apenas um dia me deu uma luz: gosto de rotina. Mesmo que seja um convite positivo, se ele não é feito com antecedência, organização, cronologia e previsão orçamentária, minha tendência é ranger – me atrapalha, não vou gostar, como é que eu vou fazer? Acho que preciso de pelo menos uma semana para considerar que o fato novo foi apresentando com prazo razoável, para ter tempo de passar pelos quatro estágios do luto e encontrar com a pessoa com a cara apropriada. Sim, luto, porque sou tão apegada à minha rotina que não poder limpar os armários ou ficar de pijama no sofá antes de dormir me parece sempre melhor do que qualquer outro programa. E quem diria que um dia pensei desejar que minha vida mudasse todos os dias, de todas as maneiras possíveis.

Zen p*** nenhuma

O A arte cavalheiresca do arqueiro zen é um dos livros da minha vida. Eu cresci querendo viver uma experiência daquelas, queria encontrar um mestre oriental e me embrenhar uma arte que me ajudasse a superar o ego. Agora, em recente surtada flamenca, estava me perguntava que diabos eu estou fazendo lá, eu seria tão mais feliz se lidasse com o meu terror de me expor no palco da mesma forma que lido com outros terrores – não me coloco na situação. Pergunta se eu tento saltar de paraquedas. Ele fica lá e eu aqui, tudo bem.

Tal como o autor do livro, me vejo levando anos pra aprender o básico do básico, uma simples respiração. Aí entra o inconformismo de quem sempre se saiu muito bem em outros assuntos que exigem leitura e perfeccionismo, conquistava os professores pelo seu empenho, e agora se vê reduzida à condição de aluna com quem se precisa ter paciência. Enquanto outros mais jovens disparam felizes e cheios de ritmo, eu me vejo atacada de todos os espíritos malignos do meu inconsciente e começo a errar o que fazia até agora pouco, mas de forma anônima. Olhou pra mim, puf: coração disparado, bloqueio, derrota antecipada. Como é horrível sentir ódio de si mesmo, de sentir que ser tímido é uma condição problemática de ser sem nenhuma vantagem.

O corpo leva muito tempo. O corpo resiste ao QI e cultura, às leituras e estratégias, aos insights reveladores. Ele não se deixa dobrar às terapias milagrosas e nem a conclusões muito bonitas com o objetivo de mudar de rumo repentinamente. O corpo leva anos pra fazer um luto, por mais que a gente queira se encher de remédios e substituir o que foi perdido pelo modelo mais recente. O corpo leva anos pra adotar um gesto. O corpo não está nem aí se a condescendência das pessoas te incomoda, se você acha que merece mais, se você é o fodão em outra atividade. Assim como ele não está nem aí se você é um fracasso em tudo e gostaria que, naquele espaço, a história não se repetisse. O corpo leva anos para aprender uma simples respiração. Quem sabe o corpo do outro não, quem sabe o corpo do outro conquiste em três anos mais do que você conquistou em nove. Conquista sim que eu vi, com estes mesmos olhos do meu corpo. Mas acha que o corpo se importa? Ele vai continuar no ritmo dele. Lento, muuuuuito lento.

E ainda estou de mal com o fato de ser tão tímida.

falta muito

Alvo

alvo

Eu vi acontecer muitas vezes com outros e vi acontecendo comigo: a pessoa não acerta. Você fica calado, mas no fundo quer que a pessoa pergunte. Aí ela não pergunta, leva à sério o teu silêncio quando não deveria. Pergunta quando não era mais para perguntar. Ou pergunta, mas não faz a pergunta certa. Te conhece faz tempo, te viu agir e reagir, mas daquela vez você pretendia revolucionar e merecia uma confiança a mais. Não confia, se deixou levar por um histórico. Ou quem sabe… Aí eu me dei conta que o agir certo comigo era um ponto tão difícil de encontrar que era como acertar o centro de um tiro ao alvo. Existia 1% de agir certo, todo resto era decepcionante. Aí que eu vi que o problema era meu, de eu comigo – meus traumas, minhas expectativas, minhas dores. Num mundo cheio de motivações torpes, quem sabe o único que realmente se possa exigir do outro é que tente fazer seu melhor. Mesmo que o melhor nos caia mal, mesmo que o melhor nos exija demais.

Super mapa

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Eu já me perdi de maneiras tão espetaculares que me dá vergonha. Desde sair de um prédio e ter a opção direita e esquerda, e optar pelo 50% errado a levar um papel com o endereço anotado, depois de ter visto no mapa, dizerem que eram alguns metros – e parar quase em outro bairro. Sei lá o que são dez ou cem metros enquanto estou andando. Imagine o quão problemático é pra alguém que se propõe a fazer tudo à pé e de ônibus.

Compensei tanto que talvez até tenha desenvolvidos uns neurônios que não eram ativos quando eu nasci. Agora, antes de entrar no prédio, me obrigo a guardar o ponto de referência para quando eu sair. Quando vou para um lugar novo, o mapa que eu faço é super completo, com indicações precisas de onde devo virar e a genial ideia de informar cada rua com que vou cruzar no caminho, para que eu tenha certeza que estou no lugar certo a cada etapa. Isso sem falar que eu pego a pessoinha no Google Maps e faço ela andar por tudo antes de eu mesma verificar na vida real.

Uma amiga me perguntou há poucos dias se eu gosto de Curitiba. Já me debati bastante com essa questão e também é muito interessante que sempre me façam, o que mostra que há uma disparidade no ar entre nós. O que me fez plantar de verdade os pés aqui foi quando percebi o quanto é importante pra mim que a cidade me permita esse tipo de mobilidade. Não dá se for muito quente, não dá se for uma cidade que precisa ter carro, não dá se for muito violenta. Então é isso, tamu juntas, Curi.

Curtas de Marie Kondo na alma

Já haviam me alertado que exame pra glicose, sozinho, não esclarece muito. O lance é o tal da glicose glicada. Aí, apesar da minha glicose ainda estar aceitável, deu que a glicada já está em estado de alerta. Por coincidência, minha padaria lançou uns bolos minúsculos. Deve corresponder a uma fatia. Mas, na gordice do cérebro, tô comendo um bolo inteiro ainda.

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A casa onde meu pai vivia vai ser posta à venda e sei que vai ser um trabalhão sair de lá. Nossa, que trabalhão. Minha mãe que não vê a casa desde a separação, não entendeu como eu podia afirmar tão enfaticamente que daria um trabalhão. Me expliquei assim: “sabe aquelas limpezas que você faz todo ano e sempre joga alguma coisa fora? Então, lá eles nunca fizeram”. Nossa, então vai dar um trabalhão mesmo. Pois é.

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Fiz uma mini Marie Kondo aqui quando arrumei o guarda-roupa. Coloquei os vestidos juntos, as saias juntas, as camisetas juntas. Abri um espaço milagroso no guarda-roupa. Sempre parece que não vai dar, porque eu já tenho pouca coisa e tenho pouco espaço, etc. Arrumações desafiam as leis da física.

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Tem uns troços no meu mapa astral que me avacalham de uma maneira que… ensaiei várias vezes escrever um post sobre um deles, mas tenho me segurado. Primeiro, porque algum infeliz pode ter o mesmo aspecto (não conheço ninguém) e querer se jogar da ponte. Depois, porque uma vez usaram contra mim coisas que escrevi aqui e não foi nada legal. Pois. Uma das coisas duras e necessárias que descobri com meu mapa é que não sou realmente uma pessoa fácil. Tem todo um contexto e tal, mas o tal aspecto fala de “rejected and scorned by society” (rejeitado e desprezado pela sociedade)

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Quando arrumei o guarda-roupa, constatei que realmente preciso de mais camisetas. Esta constatação me deu uma carta branca interior para comprar uma camiseta que eu já tinha achado legal, mas não ia comprar agora porque tive uns gastos. Lá dos meus amigos da Vudu. Aí vou falar sobre o comprovante de depósito, abro o chat e… eles me chamam de “comunista paulistana escondida em Curitiba”. Tô ficando boba: fiquei com calorzinho no peito e pensei que até que tenho feito algumas coisas certas na vida.

be happy

Vai parecer ser um post político mas não é

Pensei nisso quando li sobre o SNI, Serviço Nacional de Informações. Ele foi criado (ou fortalecido. Estou fazendo o post de memória, porque é apenas uma reflexão apolítica) para combater a ameaça comunista ao recém-criado Regime Militar – que gostava de se intitular Revolução de 64, Contragolpe de 64, justamente porque era centrado na ideia de que o Brasil estava na iminência de se tornar um país comunista. Vejam bem, um órgão nacional, que centralizava informações. Tinha escuta telefônica, funcionários, polícia, fichas com biografias de vários suspeitos, espionagem. O que também quer dizer que tinha sede física, orçamento, funcionários públicos, secretárias, gente pra carimbar, gente pra ir ao banco, o escambau. Isso pra não falar do braço violento disso tudo, com os torturadores. Tudo para combater a ameaça comunista que vinha de jovens, na sua maioria universitários. Mesmo com idealismo, com ajuda soviética e com inteligência, era óbvio que o Estado ia acabar ganhando essa queda de braço. Ganhou. E quando acabaram os jovens comunistas, eles começaram a partir para cima de outras pessoas, mesmo sabendo que elas não estavam travando guerra ideológica nenhuma. Porque, veja bem, o que as pessoas esperavam? Que aquelas pessoas, funcionários, declarassem que o trabalho delas acabou, recolhessem todos os papéis, devolvessem as mesas e os imóveis e pedissem demissão?

Penso que temos diversos SNIs no cérebro. Vi um documentário que compara nossos hábitos a marcas de esqui na neve, que vão se tornando cada vez mais fundos quando alguém passa por cima, até chegar ao ponto de não conseguir se desviar dali. Você tem certeza de que cada dia é uma tristeza igual a outra ou que é realmente necessário e racional sofrer de maneira intestina a cada notícia?

ja posso ir

Feito à mão

“Fala galera, preciso que vocês encontre o amor da minha vida que a vi ontem por volta das 22:30, subiu em Joana Bezerra e desceu na Estação Tancredo Neves. Me ajudem!” – aí tem a foto de uma moça dentro do ônibus sem olhar para a câmera. É uma postagem do perfil “Te vi no bus PE”, mas tem de outras cidades também. Não tem de Curitiba, deixo aí a sugestão. Achei muito bonitinho, os comentários e as legendas são ótimos! (Viu, pessoas que andam de carro, quantas emoções vocês estão perdendo?)

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Imagine um canal que o sujeito só se filma com um celular de resolução ruim e pouca memória, que o impede de postar mais de 15 minutos de vídeo. Além disso, o celular fica imóvel e ele fica sentado falando. No máximo, coloca umas fotos e uns poucos pedaços de vídeos e mostra capas de discos antigos e livros. E se eu te disser que o canal do cara é massa e ele é super carismático, uma verdadeira enciclopédia sobre os Beatles. Estou totalmente viciada no The Beatles School.

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Eu assisti este vídeo um número vergonhoso de vezes e mandei pra um monte de gente. Carisma e talento são assuntos que me fascinam e, quando encontro um, me delicio e tento entender. A história, o modo de contar, o encadeamento, os gestos, a linguagem… Paulo Vieira é maravilhoso. (a partir de 6:30)

Um conselho quase vegetariano

abobrinha-recheada-com-proteina-de-soja

Para ser bem precisa, eu não sou vegetariana. Eu como carne de peixe, derivados de leite e não consumo muito ovos, mas mais por um problema em preparar ovos do que realmente ter cortado da minha dieta. Quando eu parei de comer carne, há 27 anos (!!!), o gesto não fazia o menor sentido para quase todas as pessoas. Elas me olhavam com uma expressão de “pra quê?”. Então, vocês podem imaginar que os produtos com o objetivo de substituir carne praticamente não existiam, eu tive que largar na marra mesmo. Agora, quando eu digo que não como carne, as pessoas dizem que me invejam e me admiram. Eu parei de comer carne porque lia livros de yoga; hoje o não comer carne está muito mais ligado a um amor aos animais, a não querer que alguém morra para se alimentar.

Hoje é mais fácil do que era antes, há apoio e há comidas para substituir. Mas, mesmo assim, é difícil. Lembro que levei ainda alguns anos salivando com o cheiro de carne. E comida não é apenas uma relação com o próprio alimento, ela é interação social. Parar de comer carne afeta a ida ao churras, o almoço de família, aquela vez que você está na rua resolvendo problemas e precisa comer alguma coisa. Implica em ter apenas uma opção no cardápio, a pagar mais caro que os amigos e ainda sentir fome, porque a carne sacia mais. Parar de comer carne nos torna os “chatos” que precisam de um prato separado. Não quero dizer o que as pessoas devem ou não fazer, eu mesma nunca levantei a bandeira de parar de comer carne. Se mudou a minha vida? Olha, quando a gente faz algo há tanto tempo, nem consegue medir, não comer carne se mistura com a minha vida. O que eu quero fazer aqui é dar um conselho sensato, baseado na quantidade de histórias de pessoas que vem me falar que tentam parar de comer carne e não conseguem. Minha sugestão:

Se você tenta parar de comer carne e não consegue, que tal criar o dia da carne? Uma vez por mês, que seja, você se permite, vai no costelão, come o teu bife preferido. Assim, quando bater a ansiedade, vai conseguir se segurar porque não é pra sempre. E nem vai achar que colocou tudo a perder – e, por consequência, abandonar o projeto – porque comeu um bifinho.

Céline

te devolvo o texto com pequenas correções

Parei de mostrar o que eu escrevo para amigos que também escrevem me cobrirem de porrada. Eu sou tão amiga de ser realista comigo mesma que não dava as coisas que eu escrevo para os que elogiavam e sim para os que me maltratavam. Minha primeira reação era ir chorar no travesseiro, jurar que nunca mais tentava e, depois de me acalmar, voltar furiosamente ao texto. Mas parei. Assim como parei há muito tempo, tanto que vocês nem devem lembrar, de reclamar não ser lida e não ser publicada, ameaçar parar de escrever. Eu sei que não vai acontecer. Escrevo se tiver um, escrevo se não tiver nenhum. Não é algo que venha de fora.

Eu não pretendia tocar no assunto porque quem sabe vocês nunca leiam, nunca saibam direito como e porquê, mas o escrever se tornou uma vida paralela tão importante pra mim, que nem sei o que farei sem a Céline. Acho que estou há oito meses com ela. Ela não tem medo. O mundo caindo em volta e ela não se identifica, não se preocupa com o futuro, nada pode afetá-la. Gosto de fingir pra mim mesma que consigo ser como ela, que ela foi inspirada em mim – quem me dera! As coisas me acontecem e me pergunto como ela encararia, e me sinto melhor. Não quero terminar, não sei o que será de mim quando terminar.

Nada e nada

Clica em Instagram e puxa uma conversa com alguém por historys. Dá uma olhada no grupo mais falante de Whats. O outro resolveu começar uma conversa boa também, dou corda. Vou de novo no Facebook, de novo no Instagram. Percebo que ainda não terminei de ver o vídeo de astrologia. Largo no meio, começo a ver o canal sobre Beatles que meu irmão me mostrou, engato umas três histórias, tudo fora de ordem. Volto pro grupo. Volto pro Instagram. Combino um café, quase comento no outro grupo, mas pra quê, a relação é mínima. Volto pro computador, stalkeio os de sempre, os só em caso de extrema necessidade, os blogs abandonados. Vejo se tem comentário novo no post-terapia do Milton sobre conselhos para ex-separados. Tento começar um documentário novo na Netflix, não gostei, outro também não gostei, tem fase que não sei se nada presta ou se sou eu. Sem history novo no Instagram. Tampouco eu tenho fotos pra postar. Nunca sei o que colocar nos historys, tão bacanas dos outros. Os grupos de whats silenciaram. Já vi o último do Maurício Ricardo, não dô conta de ver os de política antes de dormir. Estou perdida demais nas discussões do twitter, deixa pra lá. Nada de novo nos blogs, nada de novo no Instagram. Já falei da Dúnia, nem se quisesse conseguiria recomendar alguma coisa porque não consegui engatar em nada. Justo quando preciso acordar de madrugada no dia seguinte. E se eu falasse da… não, não pode falar do que não concretizou. Nada no Instagram, nada no Facebook.

cuando la imaginacion no colabora

Quando conheci a Rutinha

overthinker

Numa manhã sonolenta, encontrei um carocinho perto da virilha. Não sei dizer há quanto tempo estava ali, não é um lugar que se costume tocar. Eu havia sentido um incômodo no final da menstruação, como se algo tivesse se estressado, por dentro, com a presença do copinho. Também lembro de ter sentido o desconforto antes, ou seja, pode ser que o carocinho estivesse lá faz tempo. Marquei com uma médica generalista pra dali a dois dias.

Fiquei surpresa dela ter dado ouvidos à minha teoria de que aquilo poderia ter a ver com o inchaço que tive durante anos naquela região. Na época que fiz balé intensamente, eu fazia uns alongamentos insanos (com o resto da turma) e teve uma época que inchou e não tinha o que fazer. Não doía nem nada. Interpretei como se fosse um elástico que estiquei demais e voltou frouxo. Depois larguei o balé e o inchaço passou lentamente ao longo dos anos. A médica quis saber se eu tinha percebido alteração no tamanho, se tinha histórico de câncer na família, se tomava medicação, etc. Não, tudo normal, só um carocinho duro, imóvel e, fora aquele lance no final da menstruação, nem doía. Eu disse que nem fui ver na internet pra não ficar assustada e ela disse que era bom mesmo. Ela me examinou, não achou nada demais, me mandou fazer ultrassom e aproveitei pra pedir os exames de sangue de sempre. Ela me pediu para acompanhar minha pressão porque durante a consulta estava meio alta.

Me saí bem tirando a pressão durante a semana, fiz os exames de sangue e todos os resultados estavam melhores do que fiz há dez meses, uma maravilha. Até que, na noite anterior ao ultrassom, resolvi dar uma olhadinha na internet. Pra caroço na virilha fui mandada para “íngua” e de “íngua na virilha” eu descobri que a íngua faz parte do sistema linfático, combate infecção, e se a pessoa sente a íngua inchada e dolorida é bom, sinal de que o corpo está combatendo uma infecção. Perigoso mesmo é quando a pessoa sente um carocinho duro, que não se mexe e não dói nada… Ou seja, o meu caso. Vi programa do Bem Estar, li artigo do Dr. Drauzio, o câncer do Gianecchini, apalpei todas as minhas dobras, pesquisei sobre quimio, planejei chamar alguém pra passear com a Dúnia durante o meu pós-operatório… De nada adiantou que os exames de sangue saíram normais – li que nem todos os tipos de câncer aparecem em exames de sangue. Eu podia estar com um daqueles que não aparece. Ou lúpus.

Como vocês podem imaginar, quando cheguei no ultrassom e o médico me perguntou onde era, eu já soltei: “achei um carocinho perto da virilha. Pelo que eu pesquisei, pode ser câncer”. O médico era bonito e me chamava de querida, o que me levou a concluir que podia ser gay e me senti totalmente à vontade dele me apalpar perto da virilha. Olhou na máquina, achou o caroço super pequeno e falou pra eu parar com essa história de câncer. Diagnóstico: cisto sebáceo. Não chega nem a meio centímetro. E agora, ao contrário do que era quando o descobri, dói a beça, de tanto que o futuquei.

Na reconsulta, finalmente, a médica achou tudo engraçado e disse que nem ao menos era uma hérnia (“hum, então além de íngua existe hérnia”) para me mandar ter cuidado com esforço. Ganhei parabéns pela pressão, observação sobre alimentação e Rutinha, a pelotinha, fica onde está porque não faz mal a ninguém.

Quando vi um androceu amigo

androceu

(Antes, um aviso: vou encher isso aqui de eufemismos porque já tive post censurado por busca de palavras. Coloquei que o blog é pra todas as idades e consideram isso uma violação da classificação do blog.)

Tentei de todas as formas puxar o nome do blog da memória e não consegui. O cara escrevia muito bem, tinha uns contos picantes. É raro alguém que escreva bem contos picantes, talvez quem seja bom na vida real prefira fazer. O blog tinha centenas de comentários. As pessoas lá ficaram amigas, tinha um chat próprio, comentavam nos comentários dos outros, era a época áurea dos blogs. Eu nunca comentei nada. O entusiasmo com o blog do sujeito foi tanto, que vários leitores começaram a enviar fotos íntimas. Ele começou a publicar, virou uma sessão dos leitores. A tendência natural dos blogs (à exceção deste, porque eu sou louca) é os textos ficarem cada vez menos frequentes, e o cara começou a preencher o vazio com as fotos dos leitores. Chegou um ponto que o blog ficou quase só de fotos – aí eu perdi o interesse e passei a visitar cada vez menos, até esquecer do blog para sempre, inclusive do nome.

Depois de muito tempo, na que foi a minha última visita, fui lá dar uma olhada pra ver se tinha algo de bom. Foto, foto, foto, foto, fui passando direto. Até que uma me chamou atenção. Não é possível, eu pensei. Não sou nenhuma expert no assunto, mas achei o leitor corajoso. Talvez porque iriam se expor, as pessoas colocavam umas fotos bem rotundas, avantajadas, fornidas. E aquele órgão era, até onde eu conheço, pequeno. Como as pessoas sempre faziam comentários tarados, fiquei curiosa pra ver se teria alguma coisa para aquele. Olha, até tinha, elogiavam a ponta, diziam que fariam isso e aquilo com um daqueles. Na verdade, aquele post tinha menos comentários do que os outros, é que o autor da foto respondia os comentários um a um. Depois de um certo ponto, os comentários dele apareceram em azul, ou seja, num link. Aí eu cliquei e era um portfolio que eu havia visto há poucos dias, de uma pessoa do mundo dos blogs. Morro e não conto quem foi, claro.