Todos esses links noticiando que o Nelson Mandela morreu, o que está doente, ou que está dançando quadradinho de oito de tão saudável, que lembrei de uma história. Espero que a Camila me perdoe por contar, caso um dia ela veja isso daqui.
Conheci a Camila fazendo faculdade. Ela é natural de Moçambique. Passamos quase todo período de faculdade separadas, porque ela era amiga da galera e o povo lá me detestava. Um dia nos cruzamos no corredor e trocamos algumas palavras. Foi uma simpatia imediata, aquela vontade de conversar que não acabava mais. Só que ela estava justamente nos últimos dias por aqui, porque iria terminar o curso em Santa Catarina. Foram dias de amizade intensa. No fim, a super galera nem ligou quando ela se foi, e sua despedida foi comigo e outra amiga no apartamento onde ela vivia sozinha com o gato, o Poulantzas.
O nome Poulantzas me era familiar, era o nome de um dos teóricos que havíamos estudado em ciência política. Foi para contar a história do gato Poulantzas que eu fiquei sabendo de um fato que causou uma impressão muito ruim na Camila sobre os curitibanos. Foi assim:
Camila tinha um namorado. Um namoro morno, com saída com os amigos, visitas ao apartamento, nada muito entusiasmado da parte de ambos. Eles estavam juntos há poucos meses. Um dia a Camila comentou com ele que era afilhada do Nelson Mandela. Era e não era, não tinha muita importância para ambos. A história completa era que Moçambique havia tido uma guerra civil quando ela era criança e os pais dela era muito ativos politicamente. Quando ela nasceu, seu padrinho era um amigo dos pais dela muito ligado ao Mandela. Só que esse sujeito morreu cedo, e como forma de homenagem, o Mandela passou a ser o padrinho dela. Só isso.
Camila contou essa história para o namorado e do dia para a noite tudo mudou. O namoro ficou importante, ela foi apresentada para a família dele, passou a frequentar a casa, ficaram praticamente noivos. A sogra passou a tratá-la com deferência e o namorado lhe deu um gato persa de presente, o Poulantzas. Camila percebeu tudo aquilo e ficou assustada, do que teria motivado essa mudança. Até que um dia ela e o namorado estavam conversando, e ela se questionava sobre o que faria quando terminasse a faculdade, das dificuldades de arranjar emprego, etc. Ele: “Você fala essas coisas só pra fazer charme. Você sabe não tem nada com que se preocupar, sendo afilhada do Mandela…” Ela não aguentou e terminou o namoro.
Cartada final: o namorado pediu o gato de volta. Que ela devolvesse o gato ou pagasse por ele. Sem escolha, a Camila teve que recomprar o Poulantzas.