Andei pensando bem sobre a necessidade de comprar roupas novas e me vestir um tantinho menos informal o tempo todo. A coisa não começou por causa da separação ou um pouco antes dela, como eu achava. Na verdade, lembrando bem, eu só comecei a realmente me preocupar com roupas e sair um pouco mais bonitinha por aí quando comecei a namorar o Luiz. Eu tinha vinte e quatro anos. Até então, passava batom muito raramente e ouvia indiretas de todos de que deveria comprar umas roupinhas, cuidar das unhas, fazer combinações melhores, parar de achar que camisa do Olaria FC era super legal de usar pra sair. Foi pra combinar com aquele mauricinho que eu passei a me vestir melhor. Passei a me vestir tão melhor que cheguei até a acreditar que gostava de me arrumar.
Não é que eu não goste, que pra mim tanto faz. São desejos conflitantes. Eu:
É pra você mesmo, obrigada!
Tem um episódio do Seinfield que ele dispensa um cara que queria ser próximo dele com o seguinte argumento: olha, eu já tenho três amigos, não tenho tempo pra mais, desculpe. Eu me identifico com isso porque não sou lá tão popular. Basta dizer que mais de uma vez eu me apresentei sem ter amigos na platéia. Mas é que, com os poucos que tenho, eu já me sinto bastante amada. Sim, me sinto amada. Tão amada que me pego com algumas exigências de pessoa que tem amor demais. Por exemplo: carona. Quero as de boa vontade. Sabe como é carona, tem dias que tem várias opções e tem dias que… bem, tem dias que a pessoa tem dinheiro, um carro enorme, vai passar por quatro lugares diferentes onde poderia te deixar mas não quer. Porque vai atrasar, porque vai desviar do caminho, porque, ai, precisa mesmo? Essa carona eu não quero. Pode me deixar andar na rua escura de noite mesmo, não ligo. Sério. Se é pra se sentir exploraaado porque teve que rodar duas quadras a mais, não quero. Outro mimo: gosto de reuniões alegres. Estou acostumada com grupos piadistas. Estou acostumada com gente que dá importância ao que eu falo, que ri das minhas brincadeiras, que não está muito interessado em curriculum vitae. Então, quando tenho que ir pra uma reunião que não é assim, prefiro nem ir. Se é pra voltar para casa com a expressão dura de quem não deu um sorriso espontâneo, minha casa é muito mais interessante. Às vezes a gente obtém mais carinho e amor de uma mocinha atrás do balcão do que da própria família. Amor é uma maneira de ser, um estado. Tem gente que é amorosa e gente que não é. Se é pra ser duro, controlado, filtrando palavras, prefiro ir em famílias alheias. Conheço pelo menos duas ótimas, e pra qualquer coisa que eles me convidem eu vou correndo. Por fim, como não falar de homens. Porque quando se reivindica amor, amor, amor, parece que estamos falando – quero um homem, um marido. Não é apenas isso, é um Também. O homem tem que fazer parte disso, dessa roda de amor. Tem que ter a boa vontade, o carinho e a espontaneidade do amigo, da carona, da família alheia. Não pode ser outro departamento, outras atitudes. Não tenho paciência para os truques, o fingir-que-não-quero-pra-ele-passar-a-me-querer. Não posso ter que segurar os gestos e as brincadeiras chulas, não posso ter que vestir outras roupas e criar outro mundo só para ele estar lá. O outro mundo, separado do meu, só pode ter menos amor. E o que eu quero é amor, amor, amor, mais amor.
Sim, eu quero dançar um solo. Sim, eu quero ser escritora. Sim, eu quero amor.