O lado feio do piercing de nariz

Eu falei das minhas dúvidas aqui e contei aqui que coloquei piercing no nariz. Como a Flávia disse, com o tempo o piercing se torna mais uma maneira como os outros nos vêem, porque a gente esquece que está usando. Mas o piercing, especialmente de nariz, tem características que requerem um pouco mais de cuidado. Não é nem de longe como fazer um furo na orelha. O corpo não acostuma com um metal no nariz.

1. Colocação

Quando me disseram que dava pra sentir a dor da colocação, não fiquei com medo. Afinal, sempre fui doadora. Fui pro estúdio sozinha, conversei com o cara, ele limpou e marcou uma marca de espinha pra colocar o piercing bem em cima (mas não ficou) e eu fechei os olhos quando ele pegou o troço pra perfurar. Nossa, aquilo doeu TANTO! Só depois eu fui ler que o nariz e a língua são os lugares mais dolorosos pra colocar piercing. É uma pele grossa, então sentir a perfuração ali não é pouca coisa. Durante alguns instantes senti como se tivesse um palito de dente na minha pele. Aí ele fez uma manobra, enfiou o dedo no meu nariz (pensou que trabalhar com piercing era fácil?) e tudo tinha acabado.

2. Dias depois…

Pra quem está vendo, o nariz não fica inchado mais que um dia ou dois. Mas pra quem é dono do nariz, ele dói durante semanas. Não dá pra encostar no piercing, não dá pra tirar meleca, não dá pra enxugar o rosto, não dá pra nada. É como se o nariz ocupasse metade do rosto. Pior ainda quando a dor diminui um pouco. Aí a gente esbarra no piercing de bobeira e fica gemendo. Acordei no meio da madrugada com dor porque tentei coçar o nariz.

Limpar o piercing nesse período é um problema. Uma amiga que pôs no umbigo recebeu a recomendação de girar o piercing, coisa que não me disseram. Nos primeiros dias aquilo dói demais e mal dava pra encostar, quanto mais girar. Isso sem falar que o cara fez uma espiral por dentro do nariz, o que não me dava muito espaço para manobras. No início o buraco fica grande e isso dá medo. Eu sentia gosto de Protex na boca quando limpava o piercing. Apelidei o buraco de Minha Terceira Narina.

3. A troca

Uma amiga disse que não trocava o piercing porque tinha dificuldade de achar o buraco. Achei aquilo engraçado quando ouvi e nem um pouco engraçado quando troquei de piercing. Meus planos eram não trocar nunca, mas um belo dia acordei e a pedrinha estava preta. Levei mais de 40 minutos na operação. Primeiro, pra tirar. Eu estava tão bem colocado, que não sabia pra que lado manobrar. Na hora de colocar o novo, drama total. Eu não conseguia achar o buraco de dentro. Minha hipótese é que o buraco ficou meio de lado porque eu não rodava o piercing. Depois de escangalhar todo meu nariz, descobri que só consigo colocar o piercing reto e tenho que entortá-lo por dentro.

Aí, como fui eu que coloquei e entortei com as minhas próprias mãos (tentei com um alicate mas não tive coragem), eis que o piercing caiu de novo com o nariz ainda escangalhado. Parecia cena de filme de terror trash: aquele buraco todo largo, saindo água e sangue e eu enfiando um metal nele de todas as maneiras possíveis. Era aquilo ou desistir do piercing. Eu, que tenho horror a sangue, nunca pensei que seria capaz de fazer um negócio desses. Tudo pela vontade de continuar a ter piercing. Dizem que refazer o furo depois que fecha é muito mais doloroso do que na primeira vez – e a primeira já foi traumatizante o suficiente!

PS: Colocar o piercing durante o banho é mais fácil. Vai por mim.

Série Carne – Exposição Prorrogada

Boas notícias! A exposição da série Carne foi prorrogada por até o fim dessa semana. Quem foi gostou. Olha o comentário que a Teca colocou aqui no blog:

Agora entendi o tema dessa série..fui visitar a sua exposição hoje, na hora do almoço…

corpos humanos, belos, masculinos e femininos, mas…MUTILADOS!!! faltam cabeças, faltam braços, mas ainda assim, humanos. Amei a escultura, a primeira à direita de quem entra (q está no banner). Tenho q admitir q akela peça sem cabeça me desconcertou. Primeiro, pela posição sentada, meio desprentensiosa, como se estivesse a admirar uma paisagem, se não fosse pelo detalhe de não ter cabeça….afe….
Ainda q os detalhes das mutilações sejam os que mais chamem a atenção, não pude deixar de reparar na preocupação q vc teve com detalhes da anatomia humana, músculos, detalhes de coluna vertebral e pés…senti seu lado bailarina aí..tô certa??

beijocas e parábens pelas peças!

Que tal passar lá e julgar por si mesmo?

Local: 2º andar da Biblioteca Pública do Paraná
Rua Cândido Lopes, 133
Horário: de 8 às 20 horas
Entrada: franca

Eu te darei o céu, meu bem

Aconteceu há menos de 1 mês. Num restaurante, fomos abordados pelo pessoal do Hotel Pestana e nos prometeram hospedagens grátis se fôssemos conversar com eles. Fomos. Esperamos naquela recepção linda e babamos. Passeamos pelo Hotel e babamos mais um pouco. Depois fomos para uma mesa numa conversa a sós. Isso foi na hora do almoço e nos deixaram famintos. A vendedora elogiou meu vestido, minha faculdade e disse que tinha uma prima bailarina. Vimos o quanto a rede é grande, que tem hotéis maravilhosos no mundo inteiro, que os são quartos incríveis e as paisagens de sonho. Enfim, usaram com a gente todo o manual de técnica de vendas.

Em resumo, eu diria que eles abrem pra gente as portas do paraíso e depois fecham. Tudo aquilo que todo mundo quer mas só as celebridades da ilha de Caras ganham pareceu estar ao nosso alcance. Tudo sem café da manhã, mas já me imaginei saindo de um castelo português pra achar uma padaria… Foi quando nos falaram do preço. Novamente, técnica de vendas: um valor absurdo de cara pra na hora de baixar parecer mais justo. Mesmo assim era muita grana.

Saí de lá faminta e totalmente deprimida, me sentindo a mais pobre das pobres. Depois o Luiz me provou que a oferta não era assim tão imperdível. De onde eu concluo que estaríamos ralados se não fosse ele quem cuida do dinheiro. Por mim, não apenas seríamos sócios do Pestana Holiday Club, como também teríamos Juicer da Walita e um par de Ped Egg!

(Contra) As regras da conquista

Não é à toa que existem tantas revistas femininas – para diferentes idades e camadas sociais – e que todas elas se dediquem ao mesmo assunto: como conquistar os homens. Até no meu Google Analitcs aparece: que tipo? que seio? mulherão ou magérrima? Antes de falar o que eu penso, quero deixar claro que reconheço dois problemas fundamentais desse assunto:

1. Contando as estatísticas, a desvalorização da mulher a medida em que ela envelhece e o grande número de homens que se voltaram para o outro lado da força, é mesmo um difícil encontrar um homem para chamar de seu;

2. Como diriam as feministas, a mulher ideal está ligada a uma idéia de diminuição: juventude, traços delicados, corpo magro, voz fina, escassez de pêlos, modos discretos, poucos parceiros, etc. Ou seja, existe essa parte de critérios estéticos. A mulher mais de acordo com os padrões tem mais pretendentes e seria bobagem negar isso.

Agora sim, aonde quero chegar:

Eu acho que há um exagero nessa idéia de conquistar os homens. Como já disse uma vez, eu acho que a pessoa tem que ser legal, não apenas legal para os homens. Já conheci muitas mulheres que voltavam todas as suas energias pra idéia de casar. Elas não se interessavam por música, cinema, livros, arte… seu universo se reduzia aos homens! Eu fico me perguntando o que essas mulheres falam quando finalmente um homem aparece na frente delas. Uma que eu conheci passava a semana inteira malhando como louca e quase sem comer, a base de café e barra de cereal. Tudo para, no final da semana, ir pras baladas magra e se encher normalmente de comida em companhia masculina.

Apesar de não parecer, os homens pensam com a cabeça de cima também. Existe a questão da afinidade, conversas interessantes, gostos em comum, comportamentos, idéias, admiração… as mesmas de uma amizade. Pode pesquisar: as pessoas costumam se encantar por coisas imprevisíveis. As regras não são dogmas; às vezes dá certo, às vezes não. Repito: embora não pareça, os homens reparam na pessoa que está por trás do decote.

(Tem os que não reparam, mas obviamente esses não valem a pena)

Beijinho não!

Não é exato dizer que eu sou arisca a contato físico e detesto beijos no rosto. Se bem que, em certas ocasiões, deixo as pessoas pensarem exatamente isso. É que pra mim, beijos e abraços não são coisas banais. Quando gosto de uma pessoa, é algo natural. Quando não gosto, é um sacrifício até dizer bom dia… E o que fazer se os dois tipos de pessoa freqüentam o mesmo ambiente? Prefiro deixar de beijar os dois. Isso sem falar dos marmanjos que aproveitam o cumprimento pra conseguir de você um contato físico que jamais teriam de outra forma. Aí dá birra e não gosto mesmo.

O mais engraçado é que as duas vezes que eu virei pra beijoqueiros e disse

Chega! Eu confesso: detesto dar beijinho no rosto. Eu dava só porque eu sei que você gosta, mas agora não quero mais. Estava me forçando. Por mim, dou apenas oi de longe.
eu não estava de mau humor. Nos dois casos eu estava em dias tão excelentes, que olhar pra aquele rosto de lado apontando pra mim forçando um beijinho me pareceu fora de propósito. Não poderia ir no impulso – o dia era tão bom que nem um beijo malquisto iria me tirar do céu.

Escola de Música – cobrança imoral

Em maio do ano passado comecei a fazer o curso de canto numaa Escola de Música que chamarei de Wagner Haus. Eu já tinha estudado lá quando pertencia a outros proprietários e a localização central era muito boa pra mim. Quando me matriculei, li e assinei um contrato que dizia que eu deveria avisar com antecedência de 30 dias quando fosse me desligar da escola. Por saber que as escolas em geral sofrem com alunos que somem durante as férias e só faltam querer o dinheiro de volta, não vi nada de mal naquela exigência.

Hoje fui lá avisar que teria que me ausentar durante alguns meses. Quero fazer um curso em julho e pra levantar o dinheiro deveria abrir mão de alguma coisa. Perguntei se não era possível pagar alguma taxa de manutenção, porque eu realmente pretendia voltar depois do curso. Aí fiquei sabendo que, graças àquele item dos 30 dias, eu seria obrigada a pagar a mensalidade do mês de abril. E nem o fato de avisar 1 semana antes do fim do mês me ajudou a abater esse valor.

Embora com respaldo legal, achei a cobrança dessa mensalidade totalmente imoral. É como se eles quisessem castigar quem vai embora tentando pegar o último dinheirinho. Fico pensando se fosse algo mais sério, como um acidente ou uma mudança, e eu ainda tivesse que pagar essa mensalidade de desligamento. Por causa de uma mensalidade, eles perderam uma aluna que pretendia ficar anos lá.

Então, amigos e leitores que pretendem freqüentar uma escola de música em Curitiba: a Escola de Música Wagner Haus, no centro, não é uma boa opção.

Escolhas

Mesmo quando a gente não admite, sempre temos escolhas. Até mesmo ficar sem fazer nada pra esperar passar é uma escolha. O fato das escolhas não serem como a gente deseja (eu nunca tive a escolha de ficar milionária) não alivia o fato de que elas estão lá. Às vezes, olhando de fora, parece que teremos tais e tais conseqüências boas ao fazer aquela escolha. Só que, quando chegamos do outro lado, descobrimos que as coisas não são como pareciam. Quando as desvantagens superam em muito as vantagens, a gente se arrepende. Aceitar uma escolha, mesmo quando errada, mostra que envelhecemos.

Por outro lado, podemos não aceitar de jeito nenhum aquele estado ruim. Podemos saltar e saltar entre escolhas, na esperança de que a situação melhore. Podemos acreditar que qualquer coisa é melhor do que a imobilidade, e sermos otimistas de que tudo vai ficar bem pelo simples motivo de que estamos nos empenhando para isso. Escolher a mudança mesmo quando não há garantias, numa busca constante e irresponsável por aquilo que parece melhor, é a marca da juventude.

Embora as aparências apontem para o contrário, acho que a nossa sociedade está cada dia mais velha. Não vejo por aí o desejo de mudar, o inconformismo, a vontade de ser e fazer diferente. Acho que atingimos um padrão de conforto/consumo tal, que desde cedo as pessoas estão dispostas a tudo pra conseguir um lugar ao sol. Mesmo que isso signifique abdicar da sua própria juventude.

Encerro com uma frase do Lawrence da Arábia, do livro Os sete pilares da sabedoria:

Quando lhe revelamos nossas, intenções, ele suspirou, pois estava fisicamente cansado depois de meses de serviço na vanguarda, e mentalmente cansado, com a passagem dos anos despreocupados da juventude. Ele temia a maturidade, que lhe traria a carga do pensamento ponderado, habilidade e arte requintada, mas carecia da poesia da adolescência para tornar a vida exuberante. Fisicamente, ainda era jovem, mas sua alma mutável e mortal estava envelhecendo antes do corpo. E ia morrer antes do corpo, como acontece com quase todas as pessoas.

Ariano Suassuna não gosta de café

Essa entrevista, que está em três partes do youtube, é engraçadíssima e eu vi no dia em que passou. Logo nos primeiros minutos, Ariano Suassuna declara que não gosta de café mas “tomava por pura falta de personalidade”. Eu mesma, depois que casei, descobri que a minha necessidade de café é bem pequena. Tão pequena que o único pó de café que entrou aqui em casa foi um solúvel, que eu ia usar pra uma receita e acabei jogando no lixo, anos depois, intacto.

Falo dessa parte porque – por falta de personalidade ou não – também levei muitos anos pra ter clareza de que não gosto de algumas coisas. Comi melancia durante muitos anos, e hoje não suporto nem o cheiro; nunca gostei de doce de abóbora, uma das poucas especialidades da minha mãe; até hoje não tive coragem de contar pra algumas pessoas que eu não gosto de bacalhau, porque sei que elas entrariam em pânico com a idéia de que “não há nada que se possa preparar pra você!” – reação exagerada diante do fato de que não como outros tipos de carne. Não gosto também da famosa maionese, assunto da qual já tratei aqui.

O normal

Não é à toa que existe a profissão de psicólogo. Porque o normal é isso, resolver as coisas na conversa. É ter amigos que fazem mais mal do que bem e continuar tentando. Tentar consertar com DRs infinitas, durante anos, até o destino dizer que chega. Virar pra um adulto formado, uma pessoa cheia de opiniões e manias, e tentar modificá-la com argumentos razoáveis. Virar pra um cafa e tentar mostrar pra ele que a gente não magoa quem quer ter do lado; ou tentar mostrar pra um egocêntrico que o mundo não gira ao redor dele. Porque tudo bem magoar e magoar, desde que o afeto seja verbalmente afirmado. Gosta porque pisa ou pisa porque gosta? Pouco importa, porque como disse O Pequeno Príncipe, “és eternamente responsável por quem cativas”.

Embora seja totalmente condenável, às vezes as pessoas rompem. Aí a normalidade manda que se anuncie pra todo mundo o motivo do rompimento. Todos os amigos, principalmente os em comum, devem ficar sabendo dos detalhes, dos sapos engolidos e dos vários perdões. Pra que ninguém duvide que todas as alternativas foram esgotadas. Senão, todo mundo vai pensar que foi repentino, que foi sem motivo – e não há nada mais imperdoável do que aqueles que não perdoam. Porque somos todos cristãos e devemos oferecer a face, o coração e o bolso pra quem quiser bater.

Exposição da série Carne

Começa amanhã, dia 18, a minha primeria exposição individual do ano. Talvez seja a última das últimas de obras inéditas, já que há 2 anos eu não esculpo mais. Essa série, chamada de Carne, é constituída de 5 esculturas vermelho-sangue. Quase todas mostram o corpo humano em pedaços, como carne mesmo. Nem belo e nem feio, o corpo humano como uma coisa orgânica. Quem estive for de Curitiba ou estiver em Curitiba e quiser dar uma passada lá, deixará uma artista-blogueira muito feliz!

Por falar em artista blogueira, lá do lado tem o link do meu site de esculturas. Quem não conhece, acessa aí o Fernanda Guo. Além de lindão, foi a Flávia que fez!

Data: 18 a 31 de março
Local: 2º andar da Biblioteca Pública do Paraná
Rua Cândido Lopes, 133
Horário: de 8 às 20 horas
Entrada: franca

Duas histórias soteropolitanas

Eu tinha uns 12 anos. A Juliana era a única menina loira e com piscina no condomínio. Uma vez ela estava hospedando uma prima, que deixou as umas coisas num quarto e deu falta de um anel. Ela acusou a Edelweiss, que teria ficado sozinha lá. A Edelweiss negou e ninguém acreditou nela. Aí a notícia correu e todos no condomínio começaram a chamar a Edelweiss de ladra, falar mal dela e hostilizá-la abertamente. Mesmo sem estar 100% convicta da inocência da Edelweiss, tomei as dores dela. Porque achava que um anel estúpido não justificava essa crueldade toda. Naqueles 3 meses de férias, não conversei com mais nenhuma criança do condomínio. Alias, nunca mais voltei a falar com as crianças do condomínio.

Claro que a notícia chegou na minha casa. Meu irmão mais velho – que estava dando em cima da prima da Juliana – todo dia dava um jeito de me chamar de idiota e me encher de indiretas. E era acompanhado pela minha vó, que morava em Bauru e estava hospedada no meu pai. Mas o auge mesmo foi quando Manuela – outra prima da Juliana, que morava pertinho de casa – deu uma grande festa, em que todas as crianças do condomínio foram convidadas, menos eu e a Edelweiss. Meu pai chegou em casa bufando e levou quase uma hora, entre argumentos (“você está trocando uma amiga por mais de 40!”) e ameaças (“você vai lá agora e vai pedir desculpa pras pessoas!”), mas não conseguiu fazer com que eu mudasse de idéia.

***

Eu tinha uns 22 anos. Há meses, meu irmão mais velho estava fazendo propaganda da Chapada Diamantina. Ele já tinha visitado a região algumas vezes. Me contou das trilhas, das paisagens, das aventuras e me garantiu que quando nos vissemos de novo, ele teria tudo preparado pra minha primeira viagem à Chapada. Finalmente, num mês de janeiro, fomos eu e minha prima para a casa do meu pai. Como os dias se passaram e nada de viagem, um dia cobrei do meu irmão aquela viagem dos sonhos para a Chapada.

Ele já estava preparado para aquele momento. Me explicou o quão custosa era aquela viagem – ônibus, acomodações, refeições, guias turísticos, etc. Disse que não tinha dinheiro nem para ele mesmo, quanto mais eu e minha prima juntos. E que se pedisse dinheiro para o meu pai, certamente ele negaria. Mas, se eu usasse de minha influência, meu pai não me negaria nada. Para compensar mais de cinco anos de ausência, meu pai sem dúvida pagaria a viagem dos três, e tudo mais o que eu pedisse. Aquela viagem maravilhosa dependia única e exclusivamente de um pedido meu. Um pedido que eu nunca fiz.

Tarada por homens feios

Eu tive uma amiga que a gente dizia que tinha tara por homens feios. Porque namorar gente feia uma vez ou outra, tudo bem; já ela parecia olhar pra uma multidão de homens, apontar para o mais feio de dizer “é esse!”. Na época em que eu e o Luiz começamos a namorar, ela começou a namorar um que apelidamos de O Esbagaçado. Depois, ela arranjou o Moai (clique pra entender o apelido). O Moai era realmente impressionante. Ele tinha os traços tão brutos e rústicos, que eu o olhava com olhos de escultora. Eu morria de vontade de fazer um busto dele; pareceria que eu esculpi o mais atávico dos homens… Acho que, a essas alturas, os dois já se casaram e tiveram mons… filhinhos.

Numa conversa sobre homens, ela uma vez olhou fundo nos meus olhos e disse “você sabe que eu não ligo para as aparências”. Eu: “Ah, já eu ligo sim. Eu preciso achar o homem bonito, preciso sentir atração física por ele!”. Seria ela o retrado da profundidade e eu da futilidade? Pois eu acho que a coisa não é por aí. Acho, inclusive, que os ex-namorados dela teve se sentiriam muito ofendidos se soubessem que, no fundo, ela também sempre os considerou feios.

Lanço aqui uma teoria: pela menos uma vez na vida, há de se desejar e conquistar alguém lindo. Pra saber como é entrar num lugar e tudo parar quando você entra nos braços da beldade. Pra se colocar a prova, pra se permitir, pra ter o gosto. Nem que seja pra depois achar bobagem e nunca mais repetir.

Como fazer amigos e parecer lunático para as pessoas

Eu conheço duas pessoas que teriam tudo para ser diferentes: uma segue uma filosofia de paz e a outra de violência como defesa. Ao mesmo tempo, as duas gostam muito de vendas, livros de auto-ajuda e Quem Mexeu nos Queijos da vida. Amigos, colegas e alunos são encarados como network. Uma me disse com todas as letras e a outra eu sei que também leu o famoso Como fazer amigos e influenciar pessoas. Eu percebo claramente a maneira como elas aplicam aquelas regras fundamentais: causar uma boa primeira impressão, tratar as pessoas pelo nome, sorrir e olhar nos olhos quando cumprimenta, etc. Embora não seja íntima de nenhuma das duas, sou tratada de maneira esfuziante e entusiasmada quando as encontro. Eu e todo mundo.

O pequeno problema dessa abordagem, é que não é todo dia que as pessoas têm energia para serem esfusiantes e entusiasmadas. Aí você diz Oi, esperando aquele sorriso e a pessoa mal olha na sua cara e quando muito solta um grunido. Ou seja: aquele entusiasmo todo não era causado por você, era apenas uma técnica. E sem fazer ela esforço, você não significa nada.

Olha, se é pra ser assim, prefiro ser tratada de um jeito sem gracinha e sincero.

Quando a paixão vira casamento

É tão diferente transformar poucas horas por semana em um convívio intenso! A coisa acontece pelo desejo, pela vontade de mais e mais. Quando finalmente se concretiza, a paixão passa a ser cercada de horários e obrigações. É natural e esperado que seja assim. Não dá mais tempo de sentir aquela saudade, aquela contemplação, aquela rememoração, os planos para o futuro. Porque o futuro está logo ali, e o próximo encontro chega tão rápido que você nem teve tempo de pensar no anterior. Não dá pra esperar pela inspiração, porque agora ela deve ser sempre. Mesmo inspirado, existe gente ao lado, pessoas que parecem ser tão melhores. Por que alguns ficam pelo caminho, por que você e não outra pessoa? Perguntas sem resposta como uma paisagem em movimento. Nos momentos de cansaço a gente não sabe mais o que está sentindo. E se eu parasse, e se eu desse um tempo? Só que você não some e nem dá tempo nenhum, porque ao mesmo tempo que cansa, a rotina vicia. Já não dá mais pra voltar a ser como antes, não dá mais pra ser apenas um amante. Porque quando a paixão vira casamento, ela se torna também um sentido de vida.

Assim sou eu com a dança.

As verdades de um meme mentiroso

Então, o meme mentiroso foi um sucesso. No final das contas, ninguém sabia mais o que era verdade. Nem a Teca, que me vê quase todos os dias, consegui acertar tudo. Vamos primeiro às mentiras:

1. Desde criança, de uma maneira ou de outra, eu sempre dancei.
A Anne, leitora fiel e amiga, está certa. Mas em defesa da Teca, devo dizer que não escrevi que sempre dancei ballet pra não facilitar pra ela. A verdade é que eu peguei ódio de ballet quando era criança e passei quase a vida toda detestando dança. Fiz um pouco de dança de salão, mas não levava à sério e era mais pra pegar homem. 😛

4. Prefiro vinho a cerveja.
Quem me conhece pessoalmente sabe que eu não prefiro nada, porque não bebo nenhum tipo de bebida alcóolica. Não suporto o cheiro, não gosto de gente bêbada perto de mim. Sim, eu sou chata.

5. Não vivo sem meu mp3.
O Luiz até tentou me dar um, mas eu o impedi. Não gosto de vento geladinho incomodativo que o fone faz dentro da orelha. (Sim, fone de ouvido faz um”vento geladinho incomodativo”!)
No mais, o ballet me deixou neurótica com peso; sou incapaz de imitar sotaques; sou um desastre na cozinha (não que eu não saiba cozinhar, é que minha comida é muito ruim!); raramente uso mas sei andar de salto (como observou a Flávia, me equilibro em coisa pior!) e sobre o rato, vai aí um retrato da blogueira quando jovem:

O nome dele era Thor. Depois de ensiná-lo um semestre inteiro, fiquei com dó de deixar o bichinho virar comida de cobra.