Arquivo mensal: agosto 2008
Doçura
É que, na verdade, não dá pra decidir ser doce de uma hora pra outra. A doçura é uma característica pessoal, uma maneira de olhar as coisas, uma relação com as pessoas e consigo mesmo. Quem é doce de verdade nem precisa se esforçar pra isso. Não precisa de frases feitas, não precisa de presentes caros. A pessoa realmente doce é assim com todo mundo que mereça – da pessoa amada ao cachorro.
Existe gente tão doce que mesmo virtualmente a gente sente o aconchego do abraço delas.
Hitler nas Olimpíadas
Teoria das cagadas sucessivas
Loucura, medo, excitação, pressa, felicidade
Som de tijolo
Agora tem uma obra no caminho que eu faço com a Dúnia todos os dias. Só não quebrei tijolo nenhum porque justamente naquele trecho a rua é de terra e o som seria ruim. Tenho vontade de abraçar um daqueles tijolos e caminhar alguns metros até alcançar o asfalto. Mas aí eu não teria como jogar a culpa no cachorro.
Casamento
Depois, o casamento é feito de rotinas e acordos. De que lado da cama cada um dorme e qual dos dois levanta primeiro de manhã. Como são divididas as contas, quais são as prioridades, o que vai ser no futuro? Além do quem sai, quem fica e a que horas, tem a questão do com quem sai e quanto tempo sai. Quem são os amigos, quanto tempo se dedica a eles, que liberdade se tem com eles. Até os momentos de solidão tem que passar por esse crivo.
Por fim, o casamento é feito de sentimentos. Um dia ficar junto foi tão importante que nada foi capaz de interromper essa vontade. Depois de tudo arranjado, depois dos anos terem diminuído o desejo, depois da convivência ter transformado a fascinação em intimidade, o que resta? Dizem que só depois da paixão ter morrido é que surge o amor. Aquele outro está a seu lado sempre – e isso pode trazer uma abertura e um carinho que não tem comparação com qualquer outro tipo de relação.
O sentimento é apenas uma parte do casamento, e nem é a parte maior. É por isso que casamentos resistem a terceiros, a escapadas, ao tédio, a falta de respeito, a rotina. Quem chega de fora, por mais interessante que seja, está sempre em desvantagem – e o casado que se apaixona, sempre o canalha. E todas essas coisas a gente só percebe depois que casa. Eu sou do time que achava um absurdo alguém gostar de outra pessoa e não se separar por causa disso. Somente hoje eu sou capaz de entender o que ela escreveu.
Uma frase solta
Pero lo esencial es que la oposición entre los primogénitos por un lado, y los segundones, los obreros e los criados, por el otro, queda relegada a un segundo plano, sin quedar abolida, sin embargo, por la oposición entre el ciudadano del pueblo y el campesino del caserío.
Não entendeu nada, né? Me explico: como eu nunca deixo os livros que estou lendo aqui no escritório, tive que roubar o jogo e buscar entre os livros mais próximos na minha papelada de faculdade. O primeiro que eu achei foi El baile de los solteros: la crisis de la sociedad campesina en el Bearne, de Pierre Bourdieu.
Bourdieu é um autor que adoro à distância, por ser brilhante e complicado de ler. Nesse livro, ele volta à sua terra natal e percebe que as regras de casamento campesinas e a desvalorização do homem interiorano estão causando impecílios enormes para o casamento, e os homens estão “ficando para os tios”. Ao lado do Elias, Bourdieu é meu autor sociológico preferido. Esse lado tão humano dele, de ser genial e ao mesmo tempo gauche, faz com que ele coloque os problemas de uma forma que ninguém colocou antes. Nossa, deu até saudades das ciências sociais!