Pra casar

Estava eu mancando pelas charmosas ruas de Curitiba, quando passei por adolescentes sentados em frente a uma lanchonete. Estavam vestidos como adolescentes, de bonés e moletons; sentavam-se como adolescentes, esparramados pelas cadeiras. Quando passei diante deles, pude ouvir um deles dizer “a única pra casar que eu conheço é a…”. Amigas, colegas, conhecidas, ficantes, ex… tudo vagabunda.

Casar ou aproveitar? Duas opções só pra quem tiver algo balançando entre as pernas.

Afinidade

Começou lá atrás. Meu irmão fez um ano de jornalismo, antes de trancar e passar um ano morando em Salvador. Dessa época de faculdade, ficaram alguns amigos. Um desses amigos, já formado, tinha um colega de trabalho legal e apresentou ao meu irmão. Esse colega de trabalho fez um site e convidou meu irmão pra escrever uma coluna de humor. Nesse meio tempo eu comecei um blog, larguei, entrei no orkut e saí duas vezes e hoje tenho este blog aqui e twitter.

Não sei dizer direito quando e nem porquê comecei a conversar com o Ale. Quando nos encontramos, geralmente é no estilo Sinal Fechado. Mas gosto dele como se fôssemos chegados. A afinidade tem dessas coisas, de ligar pessoas que a vida não fez o menor esforço de unir.

Condições adversas

Logo eu! Não há outra maneira de expressar o estranhamento em saber que fiquei 10 dias em alojamento. Logo eu, que sempre fui fresca, que sempre gostei de conforto e odeio grupos. Eu gostaria MUITO de ter ficado num hotel, sozinha e lendo. No alojamento, eu acordava por volta das 7h e não conseguia mais dormir pelo desgosto de estar numa sala de aula com mais 13 pessoas. Andava até o Centreventos, almoçava sanduíche de atum, fazia curso, jantava barra de cereal e ia correndo assistir as apresentações*. Chegava no alojamento por volta da meia noite, tomava banho e ia dormir. Sempre com as mesmas roupas (o %×$♠@☹☂ßæÜ do Climatempo disse que ia fazer calor!) e acompanhada.

Eu achei que teria algum piti. Que a falta de silêncio me irritaria de tal forma, que em pouco tempo me desentenderia com todo mundo e me isolaria. Sempre me vi como uma pessoa difícil e que mantém um pouco de sanidade porque gosta de solidão. A falta desses momentos realmente me deixou triste e apagou minhas habituais brincadeiras. Mas, ao contrário do que pensava, fui uma boa companhia. Me descobri uma apaziguadora, enquanto à minha volta as pessoas perdiam a paciência e se alfinetavam. Ou seja, para os grupos eu sou ótima mas grupos me fazem mal. Isso sem falar que eu estava no meio de artistas – sedentos por atenção e quem sabe ir para a Globo.

Comprovei o que já desconfiava: só brinco quando estou feliz, meus contatos são governados por afinidade e não utilidade, não sei disputar atenção. Então, sem chances de entrar pra Globo, pro CQC ou pra qualquer coisa que dependa de imagem. Devo ter parecido uma pessoa muito tímida, talvez sem importância. Eu sou aquela lá do fundo que não está fazendo a menor força para ser vista. Pra gostar de mim é preciso olhar com cuidado.
* As apresentações foram a melhor parte da viagem inteira. Assistir dança no meio do festival é como assistir futebol no estádio. As pessoas se envolvem, gritam, torcem, é muito divertido! Nunca mais acharei graça em estar no meio de uma platéia silenciosa.

Oficina Mix 2009

A proposta era a seguinte: em dez dias, com 60 bailarinos com a experiência mínima de 3 anos, montar um musical. Para transformar em realidade, a equipe de Caio Nunes, o poderoso coreógrafo da Globo.

Foi como estar numa grande companhia de dança. Logo no primeiro dia tivemos que cantar na frente de todo mundo enquanto André Gabet avaliava nossas vozes. Apresentamos a coreografia que havíamos decorado antes de viajar e fomos divididos em dois grupos. Esses grupos eram mais ou menos constantes. Isso porque havia teste para papéis, coreografias especiais, entradas específicas. Então podia acontecer de você sair enquanto o grupo aprende uma nova coreografia e depois ter que correr atrás do prejuízo. Ao mesmo tempo que todo mundo se ajudava, era cada um por si.

No meio de todo aquele caos e coisas que não saiam até o último minuto, fomos nos conhecendo e o musical se transformando em realidade. No penúltimo dia, ensaiamos no teatro durante 11 horas. Algumas coisas não deram certo e foram cortadas, enquanto outras foram acrescentadas pra aproveitar talentos particulares. Mesmo assim, todo mundo dançou muito, trocou diversas vezes de figurino (eu trocava cinco vezes) e se sentiu valorizado. A primeira vez que o Caio me chamou pelo nome eu levei um susto. Apesar daquela loucura toda, eles tinham o carinho de nunca deixar ninguém de lado, de saber como cada um era. Isso sem falar da imensa paciência. Acho que eles nos xingavam mentalmente, porque nunca vi tanta gentileza em meio a disputas de ego e erros crassos.

Por falar em erros crassos, eu errei muito. Errei dando tudo de mim, errei com vontade de acertar. Ou seja, me descobri uma bailarina medíocre. Eu sei que minha história é bonita por ter começado a dançar tarde (faz exatos 3 anos) e que vocês torcem por mim, mas é verdade. Nunca estive em meio a gente tão talentosa. Que não apenas pegavam as coreografias rápido como também faziam com perfeição e beleza. A mesma coregrafia podia ficar irreconhecível por causa da qualidade do movimento. Mil vezes decidi parar de dançar. A intensidade do curso e a distância de casa foram tão difíceis que tive crise de choro em plena Feira da Sapatilha. No momento mais bailarinísto da minha vida eu achei que não era para estar ali.

Voltei com um DVD da apresentação. Acho que levarei alguns anos para vê-lo. Meu joelho esquerdo ficou ruim durante a viagem e eu nem conseguia descer escadas direito. Mas foi só voltar para casa que ele está quase bom. Segunda tudo volta ao normal, inclusive no ballet. Como diz aquele provérbio alemão: tudo na vida tem um fim. Menos a salsicha, que tem dois.

Longe de casa há mais de uma semana

Che-gay.

Senti saudades absurdas. Pra vocês terem idéia, pensar meu blog esperava minha volta me fez bem. Passei todo esse tempo sem ver TV ou chegar perto de um computador. Me senti o próprio Dr. Jivago no meio da Revolução Russa, com necessidades elitistas que ninguém à minha volta compartilhava. As roupas na mala estão tão sujas que não dá nem vontade de lavar e sim de incinerar. Saudades de comer direito, da minha rotina, dos meus hábitos.

O que fiz nesse meio tempo? Fui pro Festival de Dança de Joinville e participei de um musical – Welcome on Boardway.

Caminhante parado

Não adianta dizer que não, a gente gosta de rotina. Escolhi viajar, a viagem tem tudo para ser uma experiência fantástica, mas estou em pâ-ni-co. Estarei longe da minha casa, do meu marido, da minha Dúnia e de todas as coisas que eu dizem quem sou. Pra garantir o mínimo de conforto, levo comigo malas enormes e prontas há quase um mês. Mas dentro delas não tem creme noturno e nem notebook. Ou seja, não terei como hidratar o rosto e nem como atualizar o blog.

Até a minha volta, os comentários serão moderados pelo Luiz, porque sempre aparece alguém pra comentar sobre ballet e piercing. Dia 25/07 eu volto com muita roupa suja, algumas compras e histórias para contar. Até lá!

Outro barro

Sônia Braga, por exemplo. Essa não foi feita do mesmo barro que eu. Algumas mulheres têm uma sexualidade exuberante, que salta em todos os seus gestos, o sexo como uma verdadeira forma de expressão. Alguns vêem como putaria pura mas eu acho que vai além. Penso no curriculo amoroso da Sônia Braga (nacionais: Caetano, Chico, Djavan, Pelé, dentro outros. Internacionais: Clint Eastwood, Robert Redford, Warren Beatty, Mick Jagger, Pat Metheny, entre outros) e imagino que ela deve ser muito interessante e desencanada. Algo que alguém (eu) que não gosta nem que estranhos a olhem demais nunca alcançará.

Qualquer um com grande capacidade de vendas ou de ganhar dinheiro não se parece comigo. Nas novelas qualquer um que se proponha fica rico, mas se tudo fosse tão simples… Não apenas não consigo como até mesmo não gosto de convencer. Vender me deixa tão impaciente que ou eu daria o produto de graça ou mandaria o cliente à merda por ele não reconhecer o valor do que ofereço. Totalmente explicado porque minhas esculturas estão encalhadas – queria muito alguém com esse talento pra me empresariar! Ver o Roberto Justus (representante perfeito do tipo) migrando para a área artística me traz um certo consolo!

Por último, qualquer artista expressivo me faz desejar ser diferente. De Maria Bethânia a Maria Callas, Isadora Duncan a Ana Botafogo, Giotto a Caravaggio, Victor Brecheret a Camille Claudel… há neles coragem e rebeldia, um toque pessoal e universal. Que pitada a mais de alguma coisa esse pessoal têm? Penso que há neles uma necessidade de se expressar mais forte do que o pudor ou senso de ridículo. Quando a gente lê seus nomes com letras douradas, não tem noção do que o que eles fizeram foi desmerecido antes de ser louvado. Que eles se propunham a experimentar, a mostrar mesmo pra quem não pediu, algo meio:
A moça de amarelo é minha ex-professora de contemporâneo. Ela nem vai muito com a minha cara, mas eu a considero uma Artista. Dessas de um barro diferente do meu.

Instante

É mágico: num instante que pode durar horas ou anos, pessoas completamente afins se encontram. Nesse momento perfeito, se produz algo belo, fascinante, criativo, divertido e tudo mais que se proponha. Como nada foi feito para durar, se o destino não os separa o tempo se encarrega disso. Picuinhas começam a aparecer e o que era brilhante fica cada vez mais fosco. Mesmo assim, quem estava lá sempre será associado a uma fase bonita. Ficamos abertos e nos apegamos de maneira que em outras circunstâncias jamais aconteceria.

Instantes assim não podem ser recriados. Você pode pegar as mesmas pessoas e tentar fazer igual, que não será. (Isso me lembra uma frase de Marx: A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa) A única coisa a se fazer é amar essas lembranças e estar aberto para viver outras experiências.

(Homenagem aos dias insanos e felizes que um dia vivi no Orkut)

Ballet como tortura

Como para ser bailarina a pessoa deve começar a fazer aula muito cedo, é quase certo que o sonho deve partir primeiro dos pais. Pode ser que a mãe um dia tenha sonhado em ser bailarina; ou que isso seja uma tentativa de deixar a filha magra e graciosa. São muitos os motivos; a partir dele as crianças que passam a freqüentar o esporte mais completo e rigoroso que existe. Claro que uma experiência que envolve corpo e alma marcará uma criança para sempre. A questão é como.

Um dia eu estava vendo um caso fictício num programa da TV local. Nele uma das personagens era bailarina. Pra mostrar rapidamente a infância, mostraram uma cena em que uma menina estava vestida de bailarina num palco cheio de crianças e o professor de ballet lhe dizia:
– Parabéns, Fulaninha, você é muito boa. Em pouco tempo estará no avançado!

MENTIRA! Um professor de ballet jamais falaria isso. Quanto mais talentosa a criança é, mais rigoroso ele se torna. E quando a criança comete sempre os mesmos erros, ela passa o tempo todo sendo corrigida nos mesmos erros. Ou seja, elogios no ballet são raros. O comum é se contrair, sentir dor, levar bronca, lutar pra melhorar e nunca chegar lá. Imagine esse rigor na infância. Pode ser que cada vez que chamem sua atenção, a criança queira sumir. Professoras de ballet foram criadas ouvindo esporro e não costumam medir suas palavras. A menina mais cheinha será chamada de Gorda* e intimada a emagrecer, pois o padrão de beleza do ballet é assim.

Nem todas crianças conseguem dizer aos pais que não querem mais fazer ballet. Porque ter clareza disso não é tão fácil. Como acabar com o sonho da família inteira, que investiu tempo e dinheiro pra ter a filha no palco? Sonhos que se formam em torno de uma carreira (quase sempre improvável), colegas de ballet que viram amigas, gosto por atividades físicas, a magia do palco. A saída é ir sem vontade, ouvir os gritos e não conseguir avançar, chorar e colocar a culpa na dor física…

* mesmo que não lhe dissessem isso, ela sentirá mal ao olhar em torno de si.

F

Minha letra e minha assinatura mudaram muito com os anos, mesmo porquê até uma certa idade os professores viviam me mandando escrever em cadernos de caligrafia. Uma característica constante na minha assinatura é o traço longo no F, cobrindo o resto do nome. Um dia vi uma figura de um livro de Grafologia, que mostrava esse tipo de traço como um grande guarda-chuva protegendo as pessoas embaixo. É sempre complicado fazer essas relações de forma mecânica, mas podemos dizer que meu F é uma característica de pessoas superprotetoras.

Eu só tive clareza do que essa superproteção significava quando meu irmão sofreu acidente de carro. Não gosto de CSIs da vida, não gosto de nada que envolva sangue. Corpo perto de mim só se for bem fechadinho e funcionando. Eu nunca tinha entrado num hospital e não gosto de passar nem na frente deles. O acidente me obrigou não apenas a entrar no hospital, como na UTI, a lidar com médicos (passei a odiá-los desde então), limpar traqueostomia, tirar pus de sonda na barriga e tudo o que aparecia pela frente. As enfermeiras achavam que eu era uma delas. Isso sem falar que estar num hospital público obriga a gente a estar sempre matando algum leão pra ser atendido.

Nada como uma situação de crise pra aumentar nosso auto-conhecimento.

Meme das irritações

Ninguém me passou esse. Estava procurando um meme e a primeira coisa interessante que achei no Google foi esta. Nem li direito porque me identifiquei tanto com as coisas que irritam o Bruno Melo que calhava de eu repetir o post dele. Então vamos lá, o meme é “Escreva sobre 5 besteiras que te irritam“. Só cinco?

1. Na blogosfera: analfabetos funcionais

É foda: eu penso num tema, reflito sobre ele, lapido até ficar numa forma interessante de ler. Aí vem alguém do além, não lê direito o que eu escrevo e se dá ao direito de meter o pau. Por isso que os comentários são moderados. Criticar tudo bem, mas vamos concordar que a crítica deve ter alguma coisa a ver com que é dito no texto? Coincidência ou não, esses analfabetos funcionais adoram anonimato e miguxês.

2. No restaurante: quem se serve como se estivesse na Cerimônia do Chá

Todo mundo que come em buffet já passou por isso. Você com fome e com pressa (porque estar com pressa já é um estado de espírito num buffet) e alguém na sua frente resolve contemplar a comida. Olha as inúmeras opções, reflete, respira… enquanto a fila se avoluma. Aí na hora de se servir, faz questão de pegar 367873 grãos. Nem a mais, nem a menos. Pra isso, se serve de infinitas colheradas e chega até a devolver comida.

Essa é a versão pessoa-chata-na-sua-frente. Na versão pessoa-chata-que-está-atrás, eu me irrito com aquela pessoa que não se serve de nada e fica atrapalhando você. Aí a gente se serve correndo, achando que a pessoa quer justamente aquilo que estamos nos servindo. Só depois você percebe que o mané só queria aquilo que estava láááááá no fim do buffet. Então por que não deu a volta de uma vez???

3. Na filosofia de vida: vegetarianos radicais

Pra esse tipo de gente, não basta não comer carne: tem que encher o saco de todo mundo que come. Eles fazem cara de horror e discursam cada vez que alguém cita um bife. Todos os males do mundo se resumiriam ao fato de comer ou não carne; há poucos dias eu ouvi que o potencial da humanidade é viver 150 anos e não chegamos a esse número pura e simplesmente porque comemos carne. Isso sem falar que tudo é comparável a carne – ai do carnívoro que reclamar de guerra, violência ou espancamento de cachorro perto de um vegetariano. Ele logo será tachado de alguém tão violento quanto porque come carne.

E sabe o que é mais irritante ainda? Que essas pessoas tem um determinado perfil: são jovens, bem nascidos, fazem yoga do DeRose, universitários. Assim que deixam de ser qualquer uma dessas coisas, eles voltam a comer carne. Porque ser vegetariano quando se tem tudo na mão é muito fácil – quero ver ser vegetariano ganhando mal ou comendo em refeitório de empresa. Dá vontade de dizer: “Meu filho, se daqui há 5 anos você continuar vegetariano a gente conversa”. Palavra de quem não come carne vermelha há mais de 15 anos.

4. Na biologia: o aparelho reprodutor feminino

A natureza estava de sacanagem (no mau sentido, o figurado) quando criou o aparelho reprodutor feminino. Ela deixou todas as vantagens com os homens e todas as desvantagens com a gente. Pra começar, aquela antiga queixa: homens podem fazer xixi de pé, enquanto nós temos que nos equilibrar sobre privadas sujas ou segurar o xixi até encontrar um lugar limpo. E os cuidados, as inseguranças, os micos e os gastos que menstruar todo mês nos causa? Como dizia a minha mãe, pior do que menstruar só parar de mestruar.

Sabia que a muitas doenças venérias ficam invisíveis (e até mesmo assintomáticas) nos homens e se manifestam nas mulheres? Porque a vagina é uma caverna escura e quentinha, perfeita para bactérias. Ou seja, o homem esfrega seu bilau em qualquer lugar e continua ótimo, enquanto com as mesmas bactérias a gente faz banho de assento e toma antibióticos. E os critérios de beleza, que agora invadem o que até pouco tempo era chamado de vergonha? Bigodinho de Hitler, virilha profunda, carequinha… como se já não bastassem todos os cuidados com pernas, axilas e buço, o machão que leva uma mulher pra cama pode se dar ao direito de ter nojinho se encontra pêlos lá?

5. Nas celebridades: Paris Hilton

Menos pela Paris Hilton em si e mais pelo que ela representa. Antes, para se tornar uma celebridade, era preciso se destacar em alguma coisa. Nem que essa coisa fosse somente o rebolado. Hoje em dia é possível ser famoso através da fama. Esse é o caso da Paris Hilton. Ela é famosa por ser famosa. Ela não faz nada, e nas poucas vezes que fez alguma coisa seu desempenho foi medíocre (dizem que até video do boquete é ruim). Ela vive de festa em festa e nem mau exemplo o suficiente é.

Não existem mais limites na tentativa de aparecer. Fico pensando nas pobres coitados que fazem de tudo para serem famosos. Que fazem plásticas esdrúxulas, que aceitam serem filmados 24 h, que topam comer olho de cabra. Hoje em dia, até ser flagrado fazendo boquete é uma honra se o video conseguir causar algum impacto. Porque tem gente que paga pra aparecer, não importa como e nem porquê. No outro extremo, há celebridades tão celebradas que não podem nem pintar o cabelo em paz. Menos, né?

Será que adianta repassar em meme pra alguém? Adoraria ler a irritação de: Ricardo, Anne, Pickler, Ligia, Julie, Queroul e .

A grande amiga

Soa péssimo dizer isso, mas não gosto de ser considerada A Grande Amiga. Quando começam a me elogiar demais, me dá até um ruim. Não é à toa que pessoas pela qual tenho grande afeição e admiração não se encontrem muito comigo. São todas pessoas cheias de projetos, amigos, estudos, ocupações, família e tudo o mais que torna uma vida completa. Quando nos vemos é ótimo. No dia seguinte, cada um vai pro seu lado porque há tantas outras coisas interessantes pra serem feitas que PUF! quando nos damos conta muito tempo se passou. E a cada reencontro – demore ele algumas semanas ou anos – as afinidades estão todas lá.

Quando alguém te elege a grande amiga, isso é uma responsabilidade. Depois de cada encontro, a pessoa ansiosamente já começa a contar os dias para o próximo – que tem que ser próximo! Há uma obrigação de contar tudo sempre, como se qualquer omissão rompesse a intimidade. E por falar em intimidade, ah! As grandes amigas sofrem o mesmo problema dos casamentos no quesito intimidade. O outro já não se preocupa mais sem ser agradável, em dar o melhor de si. Você não é a grande amiga? Então tem que suportar os lados mais feios, agressivos e grosseiros da personalidade do outro. A amizade deixa de ser um encontro feliz para ser um pacto onde tudo deve ser aturado, até mesmo coisas com a qual você nunca quis conviver.

Não elejo ninguém Grande Amigo. É mais uma chantagem do que uma declaração de afeto. As pessoas que gosto e admiro percebem isso nos meus gestos. Elas têm num lugar muito especial no meu coração e isso basta.

Burro-especialista

Na terminologia psico-empresarial-idiota do momento, o nome disso é foco. Uma pessoa focada seria aquela que tem um objetivo e jamais se desvia dele. Na prática, o que vemos são criaturas que só respiram e vivem pra um assunto. Nos funcionários, quem lê Quem Mexeu no Meu Queijo pra baixo e vê qualquer filme com equipes como uma metáfora da vida empresarial; no ballet, gente que não apenas ignora qualquer outra forma de expressão artística como também ignora qualquer outra dança que não seja o ballet; nas religiões, naqueles que só lêem os livros sagrados e só ouvem musicas de louvor. Eu poderia me estender infinitamente nos exemplos, porque pra ser burro-especialista basta encontrar um assunto.

O efeito imediato é que esse tipo de gente é completamente mala. Se você quer perguntar algo sobre a área de interesse dele, vá em frente. Mas depois de ouvir a resposta, saia correndo – é tão raro alguém dar ouvidos a um tipo desses que todos são carentes*. Ironicamente, ser burro-especialista não ajuda ninguém a ser bom no que faz. Quem não se desvia, quem só trilha pelo conhecido, quem vive em função da cartilha, jamais é criativo. Pra ser bom, é preciso ter o que dizer. E ninguém tem o que dizer se não saiu viveu.
* O que nos leva ao antigo dilema Tostines: são carentes porque são malas ou são malas porque são carentes?

História verídica envolvendo mistério, humor e guarda-chuva

Num dia chuvoso, há mais de 6 meses, me rendi ao apelo dos vendedores e comprei um guarda-chuvão vai à dez. Comprei um quadriculado azul e cabo arredondado. Num outro dia chuvoso, não muito tempo depois, cheguei na academia e o porta guarda-chuvas estava cheio. Deixei meu guarda-chuvão lá e quando cheguei não o encontrei mais. Fui logo dizendo pras recepcionistas que tinha sido roubada. Mas aí eu reparei que no lugar do meu havia outro guarda-chuva muito parecido. Do mesmo tamanho, com o mesmo cabo arredondado e quadriculado azul. As únicas diferenças é que o azul era mais escuro e o guarda-chuva automático. Me disseram que os guarda-chuvas tinham sido trocados e que eu devia levar aquele. Meio na dúvida se era isso mesmo e sem alternativas diante da chuva, levei. Quem havia saído ganhando era eu, porque aquele guarda-chuva era melhor. Nos primeiros dias, achei que a velhinha míope (já supondo preconceituosamente) me pararia na rua exigindo o guarda-chuva de volta. Isso nunca aconteceu, o tempo passou e adotei o novo guarda-chuva.

Há poucos dias atrás estava chovendo. Cheguei na academia e o porta guarda-chuvas estava cheio. Deixei meu guarda-chuva automático lá e… É exatamente isso que você está pensando: quando eu saí, meu guarda-chuva havia sido destrocado. Lá estava ele, o guarda-chuva não-automático de quadriculado azul que eu comprei há mais de 6 meses. O bom filho à casa torna e eu ri. Nunca saberei com que ele ficou todo esse tempo.