De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha
de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que
o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque
foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Chico Buarque/ Quem Te Viu, Quem Te Vê

Será que já aconteceu de um dia uma dessas mulheres que sabem se maquiar, andam de salto agulha e se sentem à vontade de blusa de seda no dia a dia dizerem para si mesmas: “acho que este tipo de roupa não me mostra do jeito que eu quero ser vista, gostaria de ser mais básica e não consigo!”. Porque eu sei que o contrário, da mulher básica se cobrar porque gostaria de ser mais elegante e feminina, acontece o tempo todo.

Comigo o “queria me vestir de maneira mais feminina” é uma crise recorrente. Já tentei mudar minha forma de vestir muitas vezes e somente quando, há poucos meses, fui testemunha da crise de uma amiga minha, me dei conta de que não é um problema exclusivamente meu. Minha amiga trabalha sozinha a e está quase se aposentando. Eu a conheci na academia, então achava normal vê-la sempre de roupas de ginástica. Depois comecei a perceber que ela também estava de legging e camisetas dry-fit no supermercado, na concessionária, no trabalho… Ela se arruma nas poucas vezes por ano que precisa ir a algum evento noturno, e vê-la de vestido, jóias, salto e cabelo de salão acaba sendo estranho. Há poucos meses, em meio à mudanças de vida, ela decidiu que não queria mais ser tão básica, que iria usar “um monte de roupas bonitas mofando”. Ela tirou saias e vestidos do armário, tentou novas combinações, usou de forma diferente o que já tinha… Só que, mais algumas semanas sem encontrá-la (pandemia, folks), e vejo foto dela no Facebook com a legging e a camiseta dry-fit de sempre…

O que me frusta nessa história não é o vestir-se em si e sim a questão do livre-arbítrio. Se não conseguimos mudar algo tão simples como a nossa maneira de vestir, o que dizer do resto? Como acreditar em se tornar uma pessoa melhor, descobrir em si um desajuste e tentar arrumar, ter vindo de um lar desequilibrado e tentar ser saudável apesar disso, abrir-se para um mundo novo de possibilidades? Comecei a pensar sobre a questão da roupa, do porquê parecer simples e na prática não ser, o que o tal fracasso revela.

O modelo de mulher vestida de roupas femininas exige tempo e dinheiro pra conhecer as maquiagens, as modas, as diversas opções de combinações, os cortes mais adequados à nosso tipo físico, que roupa vestir em que ocasião. São roupas que têm cortes mais elaborados e feitas de tecidos amassam, puxam fios, duram pouco ou precisam ir pra lavanderia. E existe aquele ideal que vai além da mera combinação adequada de todos esses elementos chamada “ter estilo”… A crise sobre como se vestir não acontecer com a mulher saia-salto-agulha e ser comum pá nóis – que andamos de transporte público e compramos na C&A em vezes – é bem revelador. Esta crise pode revelar uma incapacidade de geral de mulheres com determinados perfis (de renda, de idade, de cotidiano, etc) em se ajustar a um modelo elitizado. Ou seja: é pra ser caro, pouco acessível e nos deixar em crise mesmo. O ser “básica” é o fazemos mais naturalmente, as roupas que são mais fáceis de comprar e combinar, o que é confortável, o que dá pra vestir sem ter muito dinheiro ou passar muito tempo na frente do espelho. O tênis não machuca o pé, enfrenta qualquer tipo de chão, dá pra correr com ele; a mulher de salto praticamente só pode andar devagar porque é o único que dá pra fazer.

Uma curiosidade: sabem que os pés pequenos das chinesas não eram exatamente um fetiche por pés, né? Eles ficavam quase todo tempo enfaixados, porque doíam. A graça estava no fato da mulher ficar com pouco equilíbrio e ter um andar mais ondulante. Quando deu a revolução cultural, as mulheres com pés pequenos nem ao menos puderam tentar fugir, não dava. Nossa versão ocidental tampouco era confortável: os espartilhos não apertavam apenas a cintura como espremiam as costelas e tornavam a respiração superficial. Não é à toa que as mocinhas desmaiam com tanta facilidade e existem tantos quadros com mulheres languidamente deitadas em chaises-longue. Interessante pensar que tornar a mobilidade feminina algo difícil – tanto literalmente quanto figurativamente – seja um atributo que torne as mulheres mais atraentes aos homens.

Às vezes as pessoas tentam aproveitar uma grande mudança na vida para melhorar o resto. Por exemplo: muda de emprego e já aproveita pra chegar no lugar novo com outro corte de cabelo e uma nova forma de vestir. Tenho uma amiga que aproveitou uma mudança de cidade para chegar como alguém que bebe álcool, porque ela vinha de um meio místico que considerava isso errado e a olhavam feio se bebia um vinho. Os novos amigos já a conheceram agnóstica e não tinham nada contra bebida alcoólica. Tudo porque o convívio faz com que as pessoas tenham um julgamento fechado a seu respeito, e contrariá-lo sempre provoca alguma reação. Os “olha que bonita que ela está hoje”, “pra onde é que você vai desse jeito”, “está toda arrumada, deve estar querendo impressionar alguém” não têm nenhuma intenção consciente de punir ou fazer a pessoa voltar ao que era, mas muitas vezes acabam soando como uma reprimenda por não se estar do jeito como sempre esteve. Para alguns, chegar novo num lugar, sem saberem quem somos e nenhuma ideia preconcebida do que gostamos é uma grande oportunidade. Se hoje podemos desejar ser estrangeiros em algum momento das nossas vidas, nas histórias antigas era comum o estrangeiro ser recebido com desconfiança, porque ele era potencialmente mau e sedutor.

Ser estrangeiro era estar numa posição delicada, que exigia prudência por parte do estrangeiro e cautela por parte de quem recebia. Os locais se perguntavam: ele pode ter saído do país dele porque fez algo de errado e fugiu, ele pode seduzir as mocinhas do lugar e ir embora de novo, como saber o que ele está pensando? Então “quando um homem está viajando e é, portanto, estrangeiro, deve evitar ser rude ou arrogante. Ele não dispõe de um grande círculo de relações e não deve, portanto, se vangloriar.” (Hexagrama 56 do I Ching, O Viajante) Não saber como classificar alguém, não ter como puxar um histórico que permita prever o comportamento, pode gerar ansiedade – mesmo que seja apenas Juliette Binoche chegando na cidade pra fazer Chocolate. O estrangeiro pode até ser visto como alguém sem amarras, mas ele sabe o que carrega dentro de si. Será que o estrangeiro que saiu fugido consegue realmente chegar numa terra nova e se estabelecer em novas bases? Ou será que recairá no seu antigo comportamento e quem sabe tenha que fugir de novo? Pensando nas roupas: será que conseguiremos escolher o novo e transformaremos nosso estilo ou pouco a pouco iremos repetir tudo o que fazíamos antes, usando tudo o que já usávamos, recomprando aquilo da qual nos livramos?

Foram as grandes cidades que, de certa forma, nos transformaram a todos em estrangeiros. Esta sempre foi uma das vantagens das cidades e o que as tornavam atraentes: a impossibilidade de conhecer todos leva a não se conhecer nem os vizinhos, então cada um pode ser o que quiser. Cidades como NY se tornaram lendárias, sinônimos de vanguarda, porque todos os que se sentiam sufocados nos seus lugares de origem podiam ir pra lá e sair do seu armário sexual, comportamental ou artístico. Ao contrário do raciocínio que se poderia ter hoje, a uma criada de uma sociedade tradicional de nada serviria tentar usar as roupas lindas de uma dama. Houve época que as roupas eram estritamente ligadas a posições sociais – um nobre se vestia como um nobre, um servo se vestia como um servo. Tentar usar uma roupa que não pertencesse à sua classe soaria apenas absurdo – a quem se poderia enganar se todos conheciam seus lugares na sociedade? A mensagem que a roupa passava e a maneira como cada um deveria se vestir já era muito clara, então não havia muito o que se discutir. Querer que a roupa manifeste algo profundo e pessoal é uma maneira bastante nova de olhar para o assunto, possível pela união de pelo menos dois fatores: flexibilidade dos papéis sociais e uma concepção de um Eu como ser independente. Então, hoje temos uma inquietação com roupas que não existe na humanidade desde sempre; nós achamos que há um diálogo entre a nossa maneira de vestir e a nossa essência.

Essência? Não vou nem entrar nessa questão se há ou não essência, do caminho que foi construído ao longo da história para que hoje seja senso comum acreditar que cada ser humano tem uma, vou apenas soltar que somos – independente do que se acredite em termos de individualidade – um conjunto de hábitos bastante estabelecidos. Antes do hábito é preciso aprender, e para aprender é preciso vivenciar e repetir. Há quem diga que são pelo menos umas dez mil horas de prática para que se possa realmente ter domínio de alguma arte. Talvez quase todas as tentativas de mudar de estilo pessoal fracassem porque partimos de uma abordagem essencialista: eu reflito sobre meu estilo, acredito que busco algo diferente e tento transformar isso em ação; outra forma de abordar o assunto poderia ser behaviorista, de tentar mudar o comportamento através do comportamento e o estado psíquico acompanhará a mudança por consequência. Uma vez eu li (impossível dizer aonde) que mexer no computador, que hoje nos parece tão natural, é uma aprendizagem que leva cerca de seis anos. Para quem nasceu em meio à tecnologia, os seis anos passam sem sentir – uma experiência bastante diferente para os mais velhos, que sofrem preconceito por não conseguirem fazer algo tão “natural“. De maneira semelhante, pessoas que gostam de moda costumam estar sempre informadas a respeito de moda, se expondo às informações em revistas, vitrines, artigos e conversas com amigos, enquanto as que não gostam praticamente só se preocupam com uma roupa na hora de comprá-la. Visto desta maneira, o vestir-se ou não com “estilo” ou o fracasso em mudar não passa por “relação com a própria feminilidade” ou “sensibilidade estética” – como qualquer mudança de hábito, ela é muito mais um não saber fazer, ainda.

Música italiana

Não sei, simplesmente acho que música italiana era moda quando eu era pequena. Cresci, e como acontece com todas as modas, comecei a achar brega. Aí o youtube, que vive me oferecendo coisas, colocou esta quando eu estava com a mão ocupada demais – na verdade, o corpo inteiro ocupado em tomar banho – e não pude fugir. Quando vi, estava cantando “Io che amo, solo teeeeeee!”. Tem o Chico, que é mais ou menos como colocar cobertura de chocolate num doce. Só que quando pude ver o clipe de verdade – saí do banho e pus de novo – vi a moça nessa atitude inspirada e voltei a achar brega. Outra lembrança infantil: as pessoas só cantam música apaixonadas com as pessoas apaixonadas? Por que elas são obrigadas a fingir que está rolando um clima? Perdoo porque é o Chico, e ele falando que ama solo te olhando pra te deve dar uns comichões mesmo.

 

Menos espaço

Maiôs de natação são feios, quase sempre pretos ou azul marinhos, então que legal seria um que fosse ótimo pra nadar e ao mesmo tempo tivesse estampas tão bonitas quanto os de praia. Excelente ideia a minha, não? Pois é, eu também achava. Na minha última compra, voltei com três estampas lindas e coloridas, mas mais por uma certa teimosia do que outra coisa. Digo isso porque sei que vão encalhar, posso citar um ou dois nomes de mulheres que teriam “coragem”. As que vão vender são as outras, essas sim atendendo os pedidos: preto, fundo preto, estampa miúda e convencional, o mais discreto possível. Comprei, mas comprei frustrada. Nenhuma das mulheres que me pediu isso é obesa, nem ao menos são gordas. Mas mesmo que fossem. Se acreditamos que o que torna o nosso corpo belo é ficar o menor e mais escondido possível, é claro que cores e estampas nos parecerão feios. Eu também estou condicionada por esse olhar, eu também me sinto mais segura com um fundo preto que me diminua e uniformize. Mas precisamos sempre, em todos os momentos, ficar preocupadas com esse “cair bem” de um outro a quem creditamos tanta crueldade?

Menos impacto

Olho para trás e vejo que os documentários que mais me marcaram ultimamente – Muito além do peso, Escolarizando o mundo e agora The true cost – têm a ver com as mudanças radicais no nosso modo de vida causadas pelo capitalismo. E eu nada posso contra o capitalismo. Depois de ver The true cost, tive que passar no shopping porque tem um caixa eletrônico lá, e ver aquelas lojas, as roupas (52 coleções por ano!) e ter noção do que está acontecendo a todas as pessoas aqui (“Estamos cada vez mais pobres, mas não sentimos isso porque agora podemos comprar mais camisas”) e do outro lado do mundo (além da nada básica exploração financeira, temos degradação ambiental, epidemia de suicídio, gerações de crianças com problemas mentais e motores pela contaminação) é demais. Dá vontade de parar as pessoas na rua, gritar, quebrar uma vitrine, sei lá. Mas a gente não apenas não pode fazer isso como também não tem nem como evitar comprar numa dessas lojas. Eu lembro que quando saiu o anúncio de trabalho escravo na Zara, muitas pessoas (eu inclusive) se propuseram a não comprar mais lá. Algumas mantiveram a determinação mais tempo, outras menos, mas no fim todo mundo viu que se não for a Zara é outra loja de departamentos, ou até mesmo o camelô da esquina, porque não há mais roupas feitas sem algum tipo de exploração.

Os especialistas apontam que o problema é mudar todo sistema, e eu nada posso no sentido de mudar o sistema. Mas, ao mesmo tempo, acho que não podemos assumir a luta como perdida e não fazer nada. Eu tento aderir a umas causas, pra pelo menos não chafurdar alegre e cegamente em tudo o que me é oferecido. Idealmente, bom seria não ter que fazer nada que gere lucro, nada que contribua com algum tipo de destruição – mas aí eu seria reduzida à mendicância. Não sou ninguém, pro sistema me cuspir é muito fácil. Quando escrevi meu post sobre andar a pé, uma celebridade de internet me acusou de ser ecochata, que nem todo mundo pode viver uma vida sem carro. Eu concordo totalmente, nem todo mundo pode. Hoje eu não preciso, amanhã posso ter um emprego ou uma outra necessidade que me obrigue. Se viver sem carro começar a ficar prejudicial demais, fora de mão demais, terei. Então eu entro nas causas que eu posso, nas que eu consigo levar adiante. Outros pessoas, outras causas – o que é bom, porque se todos adotassem as mesmas duas ou três, como ficaria o resto? Andar a pé eu consigo, comida mais natural e orgânica não, porque sou lamentável na cozinha. Acho triste demais a obrigação que pesa sobre as mulheres de serem sempre jovens e magras, por isso escrevo sobre o assunto, replico links, vigio meus conceitos e minhas atitudes. O que me parece importante é tentar, nem que seja por pura obrigação moral com a outra ponta do nosso consumo.

Dentes de leão estão na moda

200194596-001

Dentes de leão estão na moda, Suzi. Eu não sei como isso soa pra ela, eu não gostei. Gosto muito dos dentes de leão – não precisa pensar muito para associá-los com lúdico, leve e efêmero. Não gosto que nada que eu gosto se torne moda. Quando está no auge da moda é ruim, porque vejo pessoas que ofendem os meus “símbolos” ostentando-os como se nada fossem; quando a moda passa, aí é o efeito contrário, e se torna totalmente out e insuportável que alguém ainda use. Tem coisas que são minhas e não quero que sejam confundidas com moda nenhuma, in ou out. Me agradam os vestidos floridos que remetem aos anos 70, e que combinam tão bem com casacos compridos de lã, meias calças e as botas de cano longo que as curitibanas não abandonam nunca. A lembrança das curitibanas interrompe imediatamente o comercial que passa na minha cabeça, onde estou vestida igual uma hippie, toda produzida pela C&A. Tudo bem, esses florais têm fundo preto e na prática talvez acabasse não usando. Mudo de loja, passeio pelas centenas de opções como se pudesse comprar e até posso, mas não devo. Os imensos manequins parecem tão modernos e elegantes, usando de maneira displicente jeans com quadriculado e lã, e quando olho para as roupas me sinto incapaz de combinar tudo de maneira tão interessante. A jaquetinha jeans que namoro há tempos foi para uma arara “a partir de 39,90”, mas continua 119,90. Quem sabe eu pudesse acrescentar mais cor nas minhas roupas se usasse a camiseta com estampa de baleias, mas nossa, que baleias caras. Não fui pra comprar, mas por onde começaria? Na loja iluminada, o que estou vestindo e o que tenho me parecem subitamente insuficientes. Por isso que estou velha, feia e sem namorado, por isso que nem pra me arrumar pro flamenco eu sirvo. Me irrito comigo mesma, com minhas teimosias, minha inadaptação que só faz crescer, minhas roupas. Para evitar o padrão irresistível de usar sempre a mesma coisa, faço tentativas imaginárias de comprar diferente. Mas aquela saia evasé até o joelho não combinaria com o All Star; eu teria que ter uma bota e não tenho bota. Quer dizer, tenho, mas ela não que me permite andar por aí o tanto que eu ando. Mas e se eu…  namorasse, precisasse de roupa de trabalho, um dia fosse alguém? Aí me canso – me canso de tudo o que poderia ser e não sou, do mundo consumista que se oferece e foge, da brancura e adolescência eterna da loja TwentyOne. Penso com inveja nos monges e góticos por não se atormentarem com o vestir. Ninguém me obrigaria a usar flor à flamenca se eu ainda cortasse o cabelo com máquina 3. Saio do shopping tal como linho no fim do expediente. Que alguém me produzisse, comprasse e me vestisse, porque tudo isso é muito cansativo, fútil e complicado.

E esse calorão, hein!?

Eu não sei quanto a vocês, mas eu já cansei dessa brincadeira de todo dia ser a temperatura mais alta do ano. Olha, o recorde já é nosso, tá registrado, não precisa mais.
.oOo.
As pessoas saem para comprar ventilador e não encontram. Nem piscina de plástico. Também, imagina: aqui deviam vender uns cinco ventiladores por ano. Agora vendem cinco por hora. 
.oOo.
Curitiba sempre foi muito convencional com relação a roupas. Quando eu era xóven, bastava colocar uma bermuda acima do joelho pra não conseguir entrar no ônibus direito. As coisas foram mudando e nesse calor inédito, estão totalmente liberadas. Acho até interessante de ver: gordas ou magras, jovens ou velhas, bonitas ou feias, estilosas ou convencionais, todas as mulheres tiraram seus vestidos e roupas curtas do armário.
.oOo.
Digo que a única coisa na vida em que ser mulher é melhor do que ser homem é no quesito roupas de verão. A única. Para todo resto, sou capaz de pensar em vantagens para eles. Nós sabemos que o mundo está construído para o lado deles. Mas com relação a roupas, há!, com relação a roupas eles estão numa armadilha. Nós temos rasteirinhas, alcinhas, shortinhos, mini-blusa… onde quer que uma mulher sinta calor, é possível deixar fresquinho e ainda ficar legal. Já um homem abre mão de toda dignidade se coloca uma simples regata.
 
.oOo.

Descobri que não tenho envergadura moral pra ser uma mulher de cabelos compridos. O meu cabelo está num comprimento que me permite um rabinho ridículo, parecendo um pincel de barba, e o faço. Ando pelas ruas e as mulheres com seus cabelos longos soltos sobre as nucas suadas, firmes e fortes. No máximo, colocam de ladinho. Ma nunca.

.oOo.

 
Esse solão me lembra meus tempos de Salvador. Meu pai mora há poucos minutos da praia e todo mundo esperava que eu passasse meus dias lá, no mar. Eu adoro o mar. Só que eu encalhava muito antes e passava o dia todo na varanda de casa. Me dava uma certa preguiça, sei lá.
 
Agora quando estou em casa e vejo o sol inclemente que faz lá fora, tenho a mesma sensação daqueles dias. O problema é que agora não estou de férias.

Santo Antônio

Essa história de ter bouquet de Santo Antônio me dá até vontade de casar na igreja (só casei no cartório), que é pra poder ter um. Seria um bouquet bom para jogar pras amigas enca… solteiras, mas também porque é o santo do meu dia. Dia de Santo Antônio sim que deveria ser dia dos namorados. Quantos anos não passei em brancas nuvens no meu aniversário porque as melhores amigas estavam todas namorando: ” Eu juro que lembrei de você no seu aniversário, mas eu estava com Fulano, então eu não liguei”. Presente, então, nem pensar. 
O chato, chato mesmo, é que nunca consegui ser devota de Santo Antônio. Conheço a história, reconheço a imagem, acho bacana, etc. Mas não é com ele, tenho esse problema com devoção a coisas abstratas. O máximo que arrancam de mim é uma simpatia. Mas acho que isso nunca o impediu de me favorecer, né? Então, feliz aniversário para mim!

Dinossauros

Eu odeio qualquer coisa que lembre dinossauros. É um ódio que vem da minha infância. Por algum motivo que desconheço, esse é o tema preferido para simbolizar a criança genial, já perceberam? Sempre eles, os dinossauros. Não se dão nem ao trabalho de criar outra modinha infantil, ou pelo menos uma que fale de um bicho que exista. Gostar dos dinossauros é comparável a gostar de orquídeas – puro status. Toda criança metida a gênia tem fixação por dinossauros. Eles se tornam enciclopédias dessa informação inutil que é saber o nome científico e os hábitos alimentares de criaturas que morreram há eras. Os pais, claro, ficam muito orgulhosos e vêem nisso um indício que seu filho será um grande cientista. É uma coisa tão institucionalizada que qualquer pai interessado encontrará facilmente réplicas de dinossauros, livros sobre dinossauros, documentários sobre dinossauros, clubes sobre dinossauros. Um casal amigo do meu pai tinha um filho prepotente e mimado, que ninguém jamais punha limites porque era “superdotado”. Que arrependimento nunca ter dado umas bolachas nele! Eu era pouca coisa mais velha, estava no meu direito por ele ter sapateado no autorama, de birra (achei que a mãe o repreenderia, mas imagina se a tonta fez alguma coisa). Claro que o desgraçadinho gostava de dinossauros. Cada vez que alguém se fascina por uma criança com dinossauros, penso “e vocês caem nessa história de gostar de dinossauros?”

Deixo aqui o meu repúdio a todos que ainda caem nessa história de dinossauros.

Urbano-Passageiro

Já tentei de todo jeito me vestir de maneiras mais femininas. Adoraria usar saias, vestidos e roupas de mulherzinha no meu dia a dia e não consigo. Até que eu li um consultor de moda sensato dizer que o estilo de vestir depende do jeito de ser e do estilo de vida. Isso pra mim nunca fez tanto sentido pra mim quando tentei usar calcinhas no estilo sunga com collant… Mas, mais do que fazer ballet, mais do que ter que levar mudas de roupas, mais do que qualquer quilo a mais ou a menos, o que realmente determina o meu modo de vestir é o fato de andar de ônibus. E isso não acontece só comigo. Todo mundo que anda de ônibus adota características em comum no seu vestuário- o estilo Urbano-Passageiro (vulgo Urbano-Pobre).

Quem anda de ônibus o dia inteiro é estudante e/ou descapitalizado. Espírito ecológico nenhum faz com que a pessoa troque o conforto de um carro por ônibus. Isso sem falar que os ônibus não costumam estar na frente dos lugares que precisamos, o que tornam todos os que andam de ônibus grandes andarilhos. Por isso, os três trajes fundamentais do Urbano-Passageiro são:

1 – Tênis confortável: pra correr quando o ônibus chega, pra ter boa aderência quando o ônibus freia, pra passar o dia inteiro pra lá e pra cá sem machucar o pé;

2- Calça jeans: pra correr quando o ônibus chega, pra subir e descer degraus sem mostrar nada a mais, pra ficar ao lado de pessoas taradas sem receio, pra usar muito e aparecer pouca sujeira;

3 – Mochila: pra correr quando o ônibus chega, pra ficar com as duas mãos livre pra segurar a barra nas viagens de pé, pra colocar a vida inteira lá dentro e não ficar com dor em um só lado do corpo.

É claro que existem algumas variações: tem dias que a gente vai de saia e bolsa (grande) porque quer a todo custo parecer mais feminina, um dia ou outro a pessoa coloca uma calça social ou um sapato. Mas todas as variações ao Urbano-Passageiro são punidas pelo próprio estilo de vida: mão ocupada ou incômodo em carregar peso de um lado só; mais cuidado ao sentar ou com os olhares; pé machucado no fim do dia e, claro, não conseguir correr quando o ônibus chega!

Moda outono-inverno

Cada vez que vejo os lançamentos da moda outono-inverno não sei se é pra rir ou pra ficar com raiva. Quem inventa essas coisas sem dúvida passa o inverno no Rio de Janeiro – onde a temperatura quando despenca vai à 15º. Agora as vitrines tem pérolas como: casacos e babados por cima de blusa de seda de alcinha; bermuda com meia-calça, num revival anos 80, saia com bota e casaquinho de fio.

Além do frio curitibano ter a capacidade de colocar todas as nossas dores crônicas para fora (descobri isso em ampla pesquisa, após explicar o por quê de eu estar meio mancando desde ontem), ele é de verdade. No fim do dia os ombros estão doendo, porque é quase impossível não se encolher todo. Nos países lá de cima, todos os lugares fechados tem aquecimento central; aqui não, o frio é um sofrimento só e até lavar a mão requer alguma força de vontade.

Quer saber o que nunca sai de moda no inverno curitibano? Luvas, botas, calça jeans com uma calça/meia calça por baixo, blusas de lã e casacão/ japona bem fofinha.