Quando eu visitei o Rio de Janeiro, fui e voltei de ônibus interestadual. Lá, ninguém buscou ou levou pra rodoviária, então fui e voltei de ônibus pela cidade. Quando coloquei os pés na rodoviária lá no Rio, vi um ônibus estacionado numa rua meio isolada, fui perguntar como chegava no meu destino e acabei pegando aquele mesmo. Quando precisei voltar, também de ônibus, perdi o ponto da rodoviária porque não reconheci sua fachada – nem poderia, porque não havia passado por ela. Todas as pessoas desceram, o ônibus ficou vazio e assim que a porta fechou eu perguntei pro motorista se a rodoviária era ali. Ele me perguntou se eu era de fora e se ia pegar o ônibus interestadual. Respondi que sim e, sem me dizer mais nada, o motorista levou o ônibus por algumas ruas escuras. Achei que ia morrer ali, que o sujeito ia me levar pra um terreno baldio e que levariam quase vinte e quatro horas pra notar meu sumiço. Isso durou pouco – o motorista estacionou exatamente na plataforma que eu precisava. Fiquei até com vergonha das coisas que eu pensei.
Quando eu saio de Curitiba, estranho os motoristas de outros lugares. Aqui, os ônibus param no ponto, nem antes e nem depois. Ai de quem insistir. Uma vez cheguei em São Paulo tão cheia de malas que assim que apertei pra descer, o motorista parou o ônibus e abriu a porta pra mim. Desci e agradeci, mas a verdade é que eu teria ficado mais perto se ele tivesse parado no ponto. Um motorista curitibano jamais faria uma coisa dessas, nem se eu estivesse morrendo. Quando começaram a circular novos ônibus de turismo com o segundo andar aberto, ele não tinha qualquer tipo de cobertura. Um dia um ônibus desses estava lotado de turistas e começou a chover muito forte. Dentro do ônibus quase não tem espaço, então os passageiros pediram pro motorista parar antes pra que eles pudessem se abrigar. Não teve jeito – motorista curitibano só aceita parar no ponto e a história foi parar no jornal. Foi depois desse episódio que colocaram um toldo atrás da parte de cima desses ônibus.
Minha mãe uma vez viu uma notícia dizendo que os motoristas de ônibus de Curitiba poderiam parar fora do ponto depois das 22h. Não sei se o jornal comunicava um direito antigo ou uma lei que estavam tentando implementar. Na época ela fazia falculdade à noite, e chegava em casa por volta das 23h. O prédio dela fica exatamente no meio entre dois pontos de ônibus, sendo que o que pára antes é na frente de um matagal, então o mais seguro é parar no ponto seguinte e voltar. Ela pegava sempre o mesmo ônibus e decidiu pedir pro motorista pra ele parar na frente do prédio. Resultado: o sujeito não apenas não parava, como cada vez que passava na frente do prédio ia bem devagarzinho…