Uma historinha já previamente descontextualizada

princesa

Tenho quatro anos de diferença do meu irmão mais velho. Minha mãe contava umas histórias espíritas para ele – assim como outras tantas, tradicionais, modernas, de memória de livros, ela nos contava muitas histórias. Ela contava pra ele e eu estava por ali, brincando. Aí quando ela resolveu que eu tinha idade pra ouvir, eu achei ruim que entre uma “contada” e outra, ela tinha esquecido de detalhes e eu lembrava deles. “Então você estava fingindo que estava brincando e estava ouvindo tudo?”. “Sim”.

Era um homem muito mau e muito poderoso. Ele ficou a fim de uma mulher, que já era casada. Ele mandou prender o marido dela e disse que só devolveria se ela dormisse com ele. Ela cumpriu a parte dela no acordo, mas ele achou pouco apenas devolver e mandou furar os olhos do marido. Quando chegou a hora de entregar o marido para a moça, ele ficou escondido para ver e dar risada. Achou que ela ia xingar, esbravejar. A moça viu o marido cego e apenas ficou triste e o acolheu com todo carinho. Eu sempre imaginei o homem mau atrás da moita, a câmera por detrás do ombro dele. A moça se ajoelha e ajuda o marido a se erguer, e eles saem juntos pelo pátio de pedra, ela o abraça pelos ombros. Lágrimas silenciosas descem pelo rosto dela. O homem mau não consegue dar risada. Naquele momento surgiu a primeira luzinha de bondade dentro dele.

Um beijo a todos que também estão tristes e abraçados na sua ferida.

Sem holofotes

urna eletronica

Eu tenho alguns amigos que já se viram diante da situação de serem corruptos ou se ferravam e eles se ferraram. Um deles conseguiu um cargo num banco, daqueles que tem poucas pessoas entre ele e o dono do próprio banco, e logo nas primeiras horas sentado na sua cadeira nova, soube que teria que fazer um favorecimento. Não respondeu aquele dia, passou a noite pensando. Aquilo era tão inerente ao cargo que ele não poderia se negar e achar que geraria uma nova cultura institucional. Fazer uma denúncia também não adiantaria e ele até poderia ficar em risco. O jeito foi abrir mão do cargo que ele lutou tanto e se demitiu do dia seguinte. Conheço gente que foi à falência porque para vencer a disputa por uma obra teria que superfaturar. Nunca tive um cargo importante, graças a Deus, eu apenas devolvi o troco errado de uma atendente que tinha acabado de me dar uma baita patada e aquele dinheiro teria tornado a minha viagem bem menos apertada, tanto que a mulher ficou muito sem graça quando eu devolvi o dinheiro. Meu amigo não conseguiu emprego no dia seguinte, e nem o outro uma nova empresa e nem eu deixei de fazer uma viagem apertada. Gestos de honestidade são assim, eles não aparecem na TV, nem ao menos rendem posts interessantes. A gente faz porque foi criado nesses princípios, porque acredita que o mundo se torna um lugar melhor se cada um fizer a sua parte.

Em poucas horas, temos as eleições. Queria escrever um post lacrador, colocar a última gota que convencesse o leitor da vontade inexorável de que #Haddad13 é a melhor opção no momento. Passei o dia pensando e não me ocorreu nada que eu já não tenha dito. Encarando os fatos, este blog é lido por tão pouco gente e sou tão pouco levada à sério que não acredito que tenha influenciado qualquer voto. Você que está lendo já deve ser meu amigo e eleitor do Haddad. Eu tenho vindo aqui escrever com o mesmo espírito de quem vê um papel do chão e coloca na lixeira ou devolve um troco: eu acho que eu tenho obrigação. Eu acredito em fazer o correto com o que se tem e que o nosso país é um grande país corrupto porque acredita que, depois do limite das grandes vantagens, a noção de “fazer o melhor” não se aplica mais.

Eu lido com palavras e acredito no poder das palavras. Então, eu levo muito à sério quando alguém fala em matar pouco ou matar oposição, ou quando desqualifica qualquer tipo de minoria. Enfim, você sabe exaustivamente do que eu estou falando. Contra isso, eu tenho apenas um voto e um blog lido por meia dúzia. Usei este imenso arsenal de uma gota pra me opor, em posts aqui e nas minhas outras redes sociais, e amanhã farei o gesto final ao votar. Um voto no Haddad. Não vai aparecer na TV e talvez seja inútil, mas é o meu.

Bom voto. Que ele lhe traga a satisfação de quem age de acordo com sua consciência.

Está acabando

voto dos indecisos

… e estamos todos acabados. Acho que nenhum dos dois lados têm certeza do que vai se revelar nos números domingo. O que eu sei é que passamos a nos conhecer melhor. Passamos a conhecer melhor a tia que faz doces deliciosos e nos recebe em casa com chinelos de tecido, tão pacata na vida real e que no grupo de whats discute furiosamente. Passamos a conhecer melhor nossos amigos, escolhidos pelos critérios de serem bons de papo, companhia para show, contadores de piadas engraçadas, e de um dia pro outro passamos a conhecer as opiniões sobre estupro, direitos das minorias, combate à violência. Agora sabemos como eles reagem com o que acreditam serem ataques ao que lhes é caro. Algumas invejas feias conheceram a luz do dia, em discussões que passavam bem longe da política e viravam críticas ao estilo de vida, desconsideração com o ponto de vista, desprezo por coisas que até pouco tempo não eram nem registradas. E nos conhecemos como pessoas também, até que ponto nos deixamos afetar, como lutamos, com que armas lutamos.

Acho que já deixei clara a minha posição faz tempo. Assim como já disse muitas vezes que acredito na máxima de que se conhece a árvore pelos frutos. Por mais que se queira ser tolerante, não tem como evitar: foi uma eleição em que a decepção veio a rodo. Mesmo para alguém naturalmente antissocial como eu, o número de pessoas que exibiram uma face monstruosa foi acima de todas as expectativas. Nunca na vida achei tão fácil dizer qual o lado certo, como se fosse um filme. O lado certo é o que mobiliza gente que se dispõe a sentar no meio da rua, às vezes amigos ou família, às vezes até com café e bolinho e esclarecer estranhos. De um lado, uma máquina perversa de mentiras que cria um mundo paralelo e fomenta o ódio; de outro, pessoas que cedem o seu tempo e o seu carinho para conversar.

Perda de valores, vanguarda e flamenco

Não faz muito sentido pra mim, mas tenho amigo gay que dança flamenco e é daqueles que se enfurece com a “perda dos valores”. Ele é mais velho, não é dessa geração que se assume desde a adolescência, ouve músicas e tem ídolos gays, “dá pinta” por aí. E o flamenco, como todo mundo que faz flamenco sabe, já foi uma dança muito subversiva. Tem uma brincadeira que eu faço, quando surge uma dúvida de como um passo é feito: basta testar qual a maneira mais difícil que será aquela. Quase morri de tédio o dia que vi o ensaio de um grupo de dança tradicional, que pra cada dois passos para a direita, precisavam fazer dois para a esquerda, sempre precisava haver o mesmo número de pessoas a cada lado do palco e eles precisavam andar formando figuras geométricas. O flamenco é todo torto, faz as coisas em números ímpares, entra no meio dos tempos. Isso sem falar nas subversões ainda mais óbvias, como o fato da mulher puxar a saia pra cima na hora de dançar, a força e a sensualidade no palco, a presença. Pensem no que era isso há séculos, porque o flamenco existe pelo menos desde o século XVIII. Uma vanguarda que todos os bailaores sabem é que um ritmo chamado Farruca antes era dançado apenas por homens, e hoje as mulheres o dançam também, geralmente de calça e figurinos sóbrios para se manterem fiéis ao estilo. Se por um lado o flamenco foi uma vanguarda em relação à sua época e à outras danças, ele também teve sua vanguarda dentro da vanguarda, com a mulher ousando colocar uma calça, ousando expressar sentimentos que até então eram considerados exclusivos dos homens.

Mas o flamenco é uma arte, algo lindo, superior, meu amigo diria, nada a ver com os absurdos que tem por aí: gente pelada, peças onde se enfia a mão nos orifícios uns dos outros, desrespeito a figuras religiosas em exposições, que são vestidas de forma profana ou o profano vestido de religioso. A questão é que para as inovações surgirem é preciso ter liberdade. Outras metáforas me vêm à mente: um solo fértil, um respiro, a flexibilidade que permite que construções que recebem muito impacto não desabem. Não é possível, antes mesmo das coisas surgirem, julgar o que presta e o que não presta. É preciso aceitar o choque inicial, saber que é assim que funciona e, à primeira vista, pode ser até feio. O “fora dos padrões” pode ser visto como ameaça, assim como pode ser o experimental, diferente, novo, criativo – é através dos que fazem coisas que a princípio não nos parecem certas que a sociedade se renova. O chocante nem sempre está começando um novo caminho, ele pode estar informando algo que existe e em pouco tempo será comum. Como um dia foi com o flamenco, com a homossexualidade, com as mulheres usarem calças compridas. O que é idiota e sem sentido, o choque pelo choque, como peça de teatro onde um enfia o dedo no orifício do outro, não frutifica e o próprio tempo se encarrega de apagar.

No vídeo, uma Farruca de uma das escolas de flamenco mais tradicionais da Espanha, a Amor de Dios.

O dia que a Milena que ajudou a Maria Angélica

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Eu nunca lembro o nome de ninguém que estudou comigo na infância, mas das envolvidas eu lembro perfeitamente. A minha melhor amiga era a Maria Angélica. Eu lembro que ela tinha sangue português e a sobrancelha bem preta e grossa. Quando aconteceu eu acho que estava mais ou menos na quinta-série. Estávamos numa aula de educação física e os meninos jogavam futebol e nós estávamos esperando ao lado da quadra. Cercando a quadra havia uma tela, e ela estava com um furo bem grande, dava pra passar uma pessoa. Eu fui para perto do furo e fingi me encostar, fiz uma pose falsamente à vontade perto dela, sem colocar o meu peso. Aí a Maria Angélica veio, e sem reparar no buraco foi se apoiar na tela ao meu lado e caiu para trás. A quadra era meio alta e atrás havia grama. Ela caiu, gritou, não chegou a se machucar, mas uma das pontas da tela se prendeu nos fundos da calça do uniforme, e rasgou não apenas os fundos da calça como também a calcinha, cujo tecido branco dava para ver misturado com o verde do uniforme. As crianças se reuniram em torno. A Maria Angélica tentava sair e não conseguia, sentia que algo a prendia e não conseguia ver. Ela falava: “Fernanda, me ajuda, tem alguma coisa me prendendo.” Eu fiquei paralisada: eu me sentia responsável porque ela quis vir do meu lado e achou que eu estava apoiada na tela, mas toda situação dela caída no buraco e a calcinha aparecendo, as crianças rindo, era tudo constrangedor demais. Como fui ler décadas mais tarde, quando estudei estigma social, a pessoa que de alguma forma está desvalorizada socialmente “contamina” quem está do lado dela. Eu queria me afastar da Maria Angélica, não queria aquele ridículo pra mim. Enquanto eu hesitava, surgiu a Milena, que sentava perto de mim na sala, era baixinha e implicante. A Milena pulou por dentro da tela, soltou a calça e a calcinha e ajudou Maria Angélica a sair do buraco, tudo com muita rapidez. Depois eu fui falar com a Milena, elogiei a rapidez dela, e ela nem parou para me ouvir, me jogou na cara o mui amiga que eu era, que estava do lado e não deixei a menina de calça rasgada. Acho que o fato de eu jamais ter me esquecido do episódio diz tudo.

A guerra sem vencedores

krishna-e-arjuna

“Que valor pode ter conquistar um reino e pra isso matar quase toda sua família?” – essa é a pergunta que Arjuna num dos clássicos fundadores do hinduísmo. Ela é a essência da essência. É assim: tem um livro grande, uma cosmologia, chamado Mahabharata. Conta a história da família Bharatha, que num certo momento começa a ter uma confusa sucessão ao trono e dois clãs declaram guerra: os Pandavas e os Kuravas. Arjuna é Pandava, o lado bonzinho. No meio do livro, quando os exércitos estão perfilados, ele pede a Krishna – que seria uma encarnação de Deus – levar a quadriga dele para frente, para observar a formação dos exércitos. Quando ele vê o lado oponente e reconhece lá seus primos, mestres e amigos, Arjuna se entristece e diz não estar mais disposto a lutar. Que aquela guerra não seria vitoriosa nem pra quem ganhar e nem pra quem perder, porque quem ganhasse não ia realmente ganhar e quem perder… (/Dilma). Além do desgosto, ele se pergunta qual o dever dele naquele momento: guerrear, porque era um guerreiro e o outro lado havia declarado guerra e criado aquela situação, ou respeitar o sangue familiar e abrir mão do que lhe era direito em benefício da continuidade do seu clã. Esta conversa, em que Krishna explica a Arjuna o conceito de Dharma, é o Bhagavad Gita.

Os períodos de crise são reveladores. Eu imagino que é a diferença entre ter muito dinheiro e se ver com pouco, e com esse pouco todos os gastos desnecessários são cortados e se parte pro básico. E assim descobrimos: qual o básico? Sem ter energia para tudo, tendo que escolher muito bem o que fazer e como fazer, para que direção corremos? De tanto me preocupar com o que tem acontecido e não saber o que fazer, me vi pensando de novo no Gita, livro que eu consultava na adolescência e mantive na biblioteca quase que apenas por motivos emocionais. Como Arjuna, no que vivemos agora, me parece que a vitória perdeu o sabor e minha vontade é me abster porque sou pequena demais diante dos fatos. Para quem quiser spoiler sobre a resposta de Krishna, ela é: aja e abstenha-se do resultado da ação, a ação deve ser um fim em si mesma. O dever é tentar agir de forma justa, honesta, correta e se vai dar certo ou não, se seremos aplaudidos ou ignorados, aí não é mais problema nosso. Se você não age buscando resultados, a linha de conduta deixa de estar fora e passa ser o que está dentro, agir da melhor forma em consonância com quem você é. Isso combina com uma citação de Shakespeare que eu adoro:

Se fôsseis tratar todas as pessoas de acordo com o merecimento de cada uma, quem escaparia da chibata? Tratai deles de acordo com vossa honra e dignidade.

Hamlet/ ato II cena II

Ou, dito ainda numa terceira forma: não se torne mau porque o mundo é mau.

No dia

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Eu acordarei, você também, após uma noite de sonhos intranquilos. Minha reação, nessas ocasiões, é não querer sair da cama. Vou acordar, virar pro lado, acordar de novo, relaxar, ficar na cama de olhos abertos e só vou sair quando o corpo obrigar, já com dor. Ver TV, nem pensar. Provavelmente ficarei nas redes sociais, mas talvez o barulho dos que se sentem felizes apenas aumente a minha angústia. Tem também aqueles que não resistem, que não podem deixar de se manter informados, e por eles eu saberei os detalhes absurdos, as violências desnecessárias, o indicativo do que está por vir. Tenho certeza que a vizinhança soltará fogos, eles sempre comemoram em ocasiões como essa. Meu vizinho fez um churrasco, deu pra sentir o cheiro daqui. Do que eu sei, a casa dele foi assaltada três vezes. Minha vizinhança que nunca me fez mal e tenho com eles um relacionamento distante. Vejo alguns quando compramos verdura no caminhão. Tem uma igreja aqui perto e sei que eles se vêm como comunidade. Eu nem ao menos cheguei a entrar lá, nem pra ver a arquitetura. Certeza que sou “aquela que passa com compras” ou “a que sai de bicicleta” e certamente “aquela que tem a casa mal cuidada”. O que sei deles, porque foi dito por eles, é que eles gostariam de prender bandido em poste para espancar. Eu sei porque li no whatsapp, no grupo que entrei para a segurança do bairro. Depois acabei saindo, do tanto que as pessoas brigavam sobre o que podia ser postado ou não, aí fizeram um grupo só da minha rua e acontecia a mesma coisa, e confesso que não sei mais onde estou e não estou. Whatsapp, o maravilhoso mundo paralelo onde as mesmas senhoras que pedem a minha ajuda quando não conseguem mexer na agenda do celular, compartilham (outro grupo, mas deste eu não posso sair) que nordestinos são inferiores, imigrantes são parasitas que devem ser mandados de volta para seus lugares (nenhum membro tupi-guarani), escolas ensinam pessoas a serem homossexuais e o Papa, a ONU e a imprensa internacional são todas de esquerda e metem o bedelho onde não foram chamados. Nesse dia – e você sabe de que dia estou falando, o dia que mergulharemos na noite -, vou tentar fazer um almocinho, coisa leve pra ver se desce. Comerei todos os chocolates que me der na telha. Colocarei videos de indianos falando inglês sobre astrologia. Lerei Karl Ove. Minha cadela, indiferente, exigirá passeio e salsicha. Eu me enrolarei nas cobertas sem sentir frio, no sofá. Eu dormirei cedo sem sentir sono. Eu estou no Brasil e grande parte do país estará alegre, mais ainda em Curitiba, e eu me sentirei só.

Hábitos de veado

veado

Tem nakshatra de elefante que avança furiosamente, tem nakshatra de tempestade, tem nakshatra de flecha que atinge o alvo. Um dos meus principais nakshatas tem como símbolo um veadinho. Sério. Ele é o mais frágil dos 27 nakshatras. Um dos astrólogos que eu sigo, o Vic Dicara, faz uma reflexão de vida sobre cada um dos nakshatras, e o do meu é, basicamente, “como sobreviver sendo frágil“. A sorte é que tem uns de cobrinha pra me ajudar. Mas, apesar de eu estar aqui reclamando, eu adoro esse nakshatra. A palavra que o define é “buscador”. Tal como o veado que fica pela floresta cheirando as folhas, as pessoas que tem esse nakshatra forte adoram estar sempre à procura. Eles gostam tanto de estar à procura que gostam mais de procurar do que encontrar. É um nakshatra ótimo quando se fala de estudos ou de busca espiritual, porque a pessoa nunca se contenta com o que tem e se enriquece cada vez mais de conhecimento; ao mesmo tempo, é ruim quando essa busca se volta par ao lado amoroso, porque aí a pessoa pula de parceiro em parceiro, sem jamais se contentam com ninguém.

Uma das coisas que esse nakshatra me jogou na cara foi a tendência aos hábitos. Diz que o veado é um animal de hábitos regulares, ele anda sempre pelos mesmo lugares na floresta. Eu percebo isso claramente quando começo a ser conhecida nos lugares onde eu vou. Quando estava deprimida e detestava ter tempo livre, comecei a inventar programas novos, percorrer padarias e cafés, me obrigar a agendas culturais. Só que de tanto explorar, acabei descobrindo o que combina mais comigo em termos de ambiente, orçamento, sabores. Então, todos os dias da semana e nos mesmos horários, vou para os mesmo lugares e como sempre as mesmas coisas. Nas poucas vezes que tentei mudar, me arrependi. Não é que eu faça amizade com os atendentes porque chegue íntima, ao contrário, sou a que chega muda e saio calada. Mas depois de encontrar quase todo dia chega uma hora que não dá, né?

Uma história de amor quente e ligeira

surya

Foi assim que conheceu o eremita Durvasas, vestido de trapos e cinzas, e de tal modo lhe agradou com sua bondade que ele lhe ensinou um encantamento mágico. Com esse mantra, explicou, poderia invocar qualquer um dos deuses do céu para amá-la e nela conceber um filho.

Seria verdade?, refletiu Kunti. Estava ao sol, passando e repassando as palavras mágicas em sua cabeça e mirando sua sombra no chão. Dizia a si mesma: “Durvasas brincou comigo!”, e franzia a testa. Mas logo pensava: “Ou talvez não…”

Sentia o sol quente em suas costas. O Surya dos mil raios brilhava sobre ela. E Kunti ficou a imaginar: “O mundo inteiro o vê durante o dia. Mas à noite ele seria somente meu”. Seria ele tão belo quanto a estátua no Templo do Sol?

Naquela noite, Kunti permaneceu acordada em seu leito até meia-noite. Lá fora, a Terra jazia em silêncio; o palácio estava às escuras. Ela levantou-se, foi à janela e, suavemente, recitou o mantra de Durvasas.

E houve luz, o cheiro de metal quente, e uma brisa, quente e seca como o deserto, cantando em seus ouvidos. Brilhava de tal modo que Kunti cerrou os olhos, mas a brisa fez surgir cores por trás das pálpebras. Ela estremeceu e tombou, quedando no tapete como uma vinha partida no chão da floresta.

Surya, o Senhor da Luz, carregou-a de volta ao leito e permaneceu sorrindo sobre ela., iluminando o quarto com sua presença, de modo a não haver sombra em lugar algum. Cingia-o uma coroa alta de ouro, cujas formas se alteravam e se transformavam conforme respirava. Uma faixa de jóias e brilhantes caía do seu ombro esquerdo sobre o peito nu; do cinturão, do colar e braceletes de bronze, e dos longos brincos de ouro, pendiam laços e ramalhetes de gemas luminescentes: todas essas luzes tingiam o quarto com milhares de arcos coloridos. Ao tirar a coroa, seus cabelos dourados encaracolaram-se em torno de seu rosto como um elmo de bronze fosco.

-Princesa, desperte!

Kunti abriu os olhos.

– Você me chamou – disse Surya – , e eu vim.

Kunti recuperou a voz.

-Senhor do Dia, perdoe-me, mas só o chamei para testar meu novo mantra.

-Sei por que me chamou, e sou agora somente seu. Quer que eu parta?

-Não tenho marido, Senhor Surya.

-Logo irá casar-se. Os filhos dos deuses nascem em um dia. Permite que eu fique?

-A luz… meu pai poderá ver.

-Ninguém mais pode ver esta luz, princesa. Crianças podem comandar os deuses; partirei, se quiser, e você me verá novamente apenas no longínquo céu azul.

-Tão depressa! – suspirou Kunti. – Fique um pouco; veio, afinal, de muito longe para ver-me aqui.

Mahabharata (versão de Willian Buck)

Isto não é um poema

Conheço quem vote no Blsnro e se sente injustiçado por estar sendo chamado de homofóbico, nazista, violento. Se é o seu caso, peço para que você repense. Que estamos todos gritando – artistas, intelectuais, mulheres, imprensa internacional – por um motivo sério. Estamos gritando para você acordar. Não estamos falando de um futuro assustador, estamos gritando pelo presente.

Uma história bem açucarada

história açucarada

Festa de quase trinta anos de formado. Há anos ela não via a turma. Um dos motivos era o marido. Talvez o motivo por detrás de todos os motivos – ela estava infeliz. Mas agora, separada, fitness, terapeutizada, realizada, ela achou que seria uma boa ideia. Encontrou os amigos, as amigas, o cara com quem ela se pegava de vez em quando sem nunca passar dos limites, porque era virgem. Foi divertido. Quando voltou para casa, muitas solicitações de amizade dos antigos colegas. Dentre eles, o tal que ela se pegava. Adicionou e começou a conversar. Foi tão na inocência que nem se deu ao trabalho de fuxicar, senão teria percebido de imediato que ele era casado e a conversa não teria seguido adiante. Mas não viu e acabaram se falando, se encantando, um terminava as frases do outro, desencontros pela vida afora, aquela coisa. Ele casado, mas já tinha tentado se separar, eu e ela nem nos vemos mais, o papo de sempre de homem casado que quer comer. Ou será que não? Em menos de um mês, pediu divórcio e estão muito felizes.

Curtas selvagens

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Uma providência que não tem negociação e não esqueço jamais é, assim que esquenta, trocar todas as iscas de barata da casa. Vocês não sabem o que ter que enfrentar baratão lustroso em casa, sozinha, à noite, faz no psiquismo de uma pessoa.

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Eu comento com a moça que estava tirando o meu sangue de um trecho do Karl Ove, da moça que viu sua cobra de estimação deitada ao lado dela e na verdade a cobra a estava medindo pra saber se já era grande o suficiente para comer, e a moça me disse que ouviu uma história parecida, de uma cobra que deitava todas as noites ao lado da dona. Só que no caso do Karl Ove, a mulher se assustou na hora, porque a cobra passava o tempo todo enrolada, enquanto no caso que ela me contou a mulher dormia toda noite com a cobra. Devia pensar: “own, que fofa, ela me ama e vem deitar comigo”.

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Enquanto os vídeos de gatinhos e cachorros encantam muitas pessoas, eu tenho uma amiga a quem destino especialmente os videos fofos de outros animais, porque ela é vegana. O meu facebook me mostra muito vídeo de bicho. Aí ele me mostrou um de uma família que adotou um urso, coisinha mais fofa o filhote de urso. Ele cresceu e virou um amigão, termina com ele sentado e uma menina brincando com ele. O problema é que aquele programa de animais selvagens com a história do leão no apartamento, uma vez mostrou de uma mulher que foi morar num lugar bem gelado e fez amizade com um urso, colocava comida pra ele todo dia na janela. Adivinhem: um dia faltou comida fora e ele pegou a mulher. Vi o vídeo do urso com aquela sensação terrível de que a criança seria a próxima vítima.

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Eu estava vendo um vídeo de astrologia, e o indiano contou de uma experiência com a alimentação das vacas. De acordo com ele, mesmo se a vaca coma um alimento envenenado, quando eles vão examinar o leite dela, ele está puro. Que a vaca é um animal tão generoso, que ele consegue reter o mal para si e nos oferecer o melhor. Ele falou nisso quando falava do nakshatra de nome Pushya, cujo símbolo é o úbere, e este episódio demonstrava o quão generosos os nativos de pushya são. Aí ele fala da maldade que fazemos com os animais. E que quem quiser estudar astrologia védica deve, antes de tudo, amar e cuidar bem da natureza. Terminei o vídeo achando que então nunca poderei estudar astrologia védica direito.

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Antes, um ponto alto da existência da Dúnia (hahahahaha, meu animal selvagem) eram os ossos de chuva, um osso grande que fica num pote especial e só é aberto em dias de chuva. Começou a chover sem parar e no primeiro dia que fui dar o osso de chuva, ela fez aquela agitação antecipada e quando lhe entreguei o osso, foi uma expressão de “só isso” que vocês não imaginam. Agora tudo nessa casa tem que ser na base da salsicha.

A batalha entre o Bem e o Mal

Quando eu era criança, ficava muito angustiada quando via que o Mal estava sempre tão melhor do que o Bem. Pra começar, o Mal se veste melhor. O Mal tem ternos bem cortados e roupas de bom caimento, enquanto o Bem praticamente usa trapos. O Mal mora nas mansões, dá risadas sonoras, tem empregados, anda de carrão; o bem é órfão, consegue as coisas com dificuldade, luta ao lado de amigos tão ferrados quanto eles. Dá pra dizer que é puro argumento de filme para criar suspense, mas tem uma verdade profunda nisso. Uma das cenas mais clássicas de Star Wars é quando Luke luta com Darth Vader. Ele tinha todos os motivos pra ter ódio de Darth Vader, desde o fato de ser um filho abandonado como todo mal que Darth Vader representava. Mas, à medida que Luke ganhava o duelo, ele também perdia. Tentar matar o pai, mesmo um pai tão ruim, apenas os tornava iguais – pessoas no lado negro da força.

O Mal pode tudo. Por definição, o Bem deve sempre andar na linha difícil da ética e do respeito, senão ele deixa de ser Bem. Então, o Bem sempre se vestirá pior e será pobre, pelo menos enquanto o mundo for desse jeito. Aí cada um coloca a explicação ou o fim da história de acordo com as suas crenças: vai melhorar quando sairmos da Kali Yuga, o Bem vence porque ele está alinhado a Deus; ou não, nada garante o resultado da batalha e pode ser que o Mal ganhe e todos se ferrem mesmo.

É muito fácil se emocionar e cantar Imagine – talvez você diga que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único -, é fácil defender a união e o amor universal quando tudo está bem. É muito fácil se dizer cristão e só ir até a página 2, abandonar todos os princípios porque agora está difícil. Está sim, muito difícil, e a impressão que dá é que é cada um por si, basta salvar a própria pele. Imigrantes que têm mais é que voltar pro lugar de onde vieram, minorias que devem se dobrar à maioria, mulheres que merecem ganhar menos, trabalhadores sem décimo terceiro e deficientes sem lei de inclusão? “Tanto faz, não é comigo, não me atinge”. A má notícia é que vai atingir sim. Não queiram ser aquelas pessoas que as equipes de resgate encontraram quando chegaram para salvar os sobreviventes do Titanic, meia dúzia de egoístas em botes vazios no meio de cadáveres flutuantes. A história jamais os perdoou e aposto que nem eles a si mesmos. Não tenha ilusões a respeito de que lado está quem defende violência e morte, mesmo que seja só um pouquinho, mesmo que só com alguns.

o bem e o mal

Indireta astrológica

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Já li uma comparação que diz que, assim como um vinho é determinado pela safra das suas uvas e o envase, que um vinho feito na primavera é diferente do vinho feito no inverno, essa é a mesma lógica que a astrologia aplica às pessoas. Quando o bebê sai da barriga e na primeira respiração, é marcado para sempre pelo céu daquele momento. Ele será um bebê diferente se nasceu de dia ou de noite, na primavera ou no verão, em 1990 ou 2020. Daí porque, apesar da precisão dos cálculos que demonstraram que a Astrologia sempre soube que a Terra não era o centro do universo, os cálculos são antropocêntricos – cada pessoa que nasce é um centro de universo. Sendo a Terra o centro, os planetas podem ser visto como interiores ou exteriores: interiores são os que estão entre a Terra e o Sol, a saber, Mercúrio e Vênus. Os exteriores, os que estão fora da trajetória da Terra: Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Os três últimos, de tão distantes e lentos, exercem influências sobre gerações e são deixados de fora em análises tradicionais da astrologia védica e, na astrologia ocidental, costumam ser levados em conta depois de uma certa idade, quando a pessoa está mais madura.

Nós chamamos de planetas e o termo hindu Grahas parece se referir mais a corpos que estão no céu e nos influenciam. A cada momento, eles estão num lugar diferente do céu, e o círculo onde costumamos ver o mapa também pode representar uma grande mesa redonda. De cada posição, os planetas se vêem de uma maneira diferente, e com isso entabulam conversas diferentes. Algumas são tensas e outras são boas; alguns planetas se dão tão bem que quase nada é capaz de abalar sua amizade, outros tem uma relação tão difícil que mesmo aspectos benéficos ficam complicados. Saturno é tão sério, velho e responsável, que eu sempre o imagino como aquele que entra na roda e deixa o clima pesado; por outro lado, sem ele, talvez a coisa descambasse pra uma festa regada a sexo e drogas que destruísse a casa. Na astrologia, o Sol é planeta porque também está na festa. Para entender a “personalidade” dos planetas, cada linha apela para as mitologias das suas culturas – na ocidental, os deuses gregos e na védica, a mitologia hindu.

Quero falar de um aspecto específico com o Sol. O aspecto é a conjunção. A conjunção é quando os planetas ficam muito próximos um do outro, a menos de 10º de distância. É como se eles se tornassem um casal, porque passam a fazer tudo em conjunto – as características são combinadas e o que afeta um, afeta o outro na mesma proporção. Isso é bom ou ruim? Basta pensar nos casais de verdade: quando você junta pessoas compatíveis, que se ajudam mutuamente, estar em conjunção é bom. Em outros casos, as pessoas podem estar juntas e brigar o tempo todo, ou um pode tirar vantagem do outro. O Sol tem uma especificidade quando em conjunção que, por incrível que pareça, o torna um planeta maléfico. Simbolicamente o Sol é o nosso ego, o nosso centro. Ele representa figuras de autoridade, como o pai ou o rei; é orgulhoso, confiante, forte, vaidoso. Pensem no que é estar ao lado de alguém assim. Numa maneira mais física, basta lembrar que o sol é uma bola de fogo. Ele é quente e brilhante demais, ficar muito perto se torna desagradável. Por isso, quando um planeta fica muito perto do sol, isso não faz bem a ele. É como se o planeta fosse queimado e ofuscado pelo sol, aspecto que na astrologia é chamado de combustão. Um planeta em conjunção com o sol fica combusto.

Agora eu volto ao que disse lá em cima, sobre os planetas interiores. Vênus e Mercúrio estão muito próximos do sol, eles são pequenos e suas órbitas são muito rápidas. Isso faz com que eles entrem no temido movimento retrógrado com frequência (e saem dele rapidamente) e nunca estejam muito longe do sol. No mapa, eles sempre estão perto do signo solar natal, ou seja, você nunca verá alguém com Sol em Áries e Mercúrio ou Vênus em Libra. Se a pessoa tem Sol em Áries, ela terá Mercúrio em Áries mesmo ou lá por Peixes ou Touro, ou seja, no máximo um signo de distância. Vênus fica mais longe do Sol, então pode chegar, no exemplo, até Touro ou Aquário, ou seja, dois signos de distância. Mercúrio, na mitologia grega, é o mensageiro. É o planeta que associamos à inteligência, rapidez, comunicação. É considerado um planeta neutro, nem bom e nem ruim, porque se adapta à circunstância. Ele fornece os instrumentos, como uma faca que pode ser usada na cozinha ou para matar. E é, de todos os planetas, o que fica mais tempo combusto. Ou seja, em grande parte da população, as características do Sol atrapalham a atuação de Mercúrio. Elas acham que estão olhando a realidade de maneira fria, inteligente e analítica, sendo que na verdade estão sendo egóicas, orgulhosas e autoritárias, estão contaminando a sua análise porque não separam conceito de personalidade. São incapazes de discutir ideias como algo separado delas,  por isso se sentem pessoalmente ofendidas quando alguém discorda das suas crenças. Ideia, conceito, crença, auto-imagem – tudo está misturado. Vai dizer que não é?

Curtas possíveis

Não poderia ter tatuagem nem se quisesse, por ser alérgica, mas isso não me impede de ter tatuagens imaginárias. Uma grande tatuagem, na realidade. Tenho tanto ciúmes dela que nem vou contar como é pra ninguém imitar. Numa das variantes, ela tem uma frase, tirada de uma música francesa. Me disseram que na França ela é bem conhecida, porque Bourvil é como se fosse o Chaplin deles. O verso que eu escolhi diz que “entre escombros, eles dançavam”.

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Por outro lado, fiz uma única tentativa na vida de ler o Diário de Anne Frank e parei nas primeiras páginas. Ela tinha um jogo com as irmãs de imaginar o que fariam se pudesse ir pra qualquer lugar no mundo exterior, naquele instante. A noção de ter que arranjar estratégias para não se abater numa realidade tão pequena foi demais pra mim.

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Por influência do Milton, comecei a ler Karl Ove, um novo autor querido do mundo. O anseio dele se resume a querer “ser uma pessoa decente”. Ele foi descrevendo com tanto brilhantismo as coisas mais prosaicas, que até me animei – também sou prosaica, quem sabe um dia consiga escrever um livro assim. Aí no segundo volume (é uma série que terminou recentemente no sexto), ele faz um troço que, bem, não somos prosaicos do mesmo modo.

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O nível de decepção das pessoas com as pessoas me faz pensar que talvez eu viva há tempos num lugar escuro, porque ninguém me surpreendeu tanto assim.

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O Miguel Araújo lançou essa música agora. Só mesmo alguém longe, em outro país, vivendo uma situação totalmente diversa, pra escrever isto agora. Saudades de comentar amenidades aqui com todo direito e naturalidade. Saudades de ser leve. Saudades de me incomodar com minhas próprias picuinhas.

 

Na Tietê

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Eram tempos pré-celular. Minha mãe havia me alertado que em São Paulo era diferente, que por causa das distâncias, um contratempo, uma chuva mais forte, e a programação pode ir toda por água abaixo e a pessoa se atrasa durante horas. Que uma vez ela tinha combinado de encontrar com o irmão dela, na Paulista, e ele atrasou umas duas horas. Ela ficou lá, de pé, olhando os carros que vinham, tentando reconhecê-lo. A culpa não foi dele, foi do trânsito. Quando ele chegou, os dois conversaram normalmente no carro e só quando chegou na casa dele viu que estava com a maquiagem toda escorrida. Então eu deveria ter calma. Quando meus pais se separaram, nas primeiras vezes alguém ia até São Paulo, e depois até Salvador, depois paramos de fazer aquela escala. Há anos eu não ia para São Paulo, era minha primeira vez sozinha. Minha tia, irmã da minha mãe, ia me buscar. Fui instruída a subir a primeira escada rolante à esquerda e procurar um cartaz muito grande que diz Ponto de Encontro. Minha tia sabia quando eu saía de Curitiba, quando chegava e em que ônibus, estava tudo certo, mas São Paulo era imprevisível. O ônibus foi pontual e cheguei no horário que deveria, subi a escada rolante e localizei facilmente o Ponto de Encontro, que aponta para um espaço vazio. Fui me aproximando e constatei o que já dava para perceber de longe: a minha tia não estava lá. Fui para bem embaixo do cartaz, olhei à minha volta e ninguém me procurava. Podia levar horas, como a minha mãe de pé na Paulista. Eu coloquei a minha mala no chão, sentei em cima dela e tirei uma maçã que havia trazido de Curitiba. Comecei a comer enquanto olhava distraidamente o movimento. Nem havia terminado a maçã quando, de longe, vi duas mulheres rindo na minha direção, que depois percebi que eram minha tia e minha prima. Elas me acharam tão relax, tão low profile, tão tão pra uma adolescente sozinha numa cidade estranha. Desejei que elas tivessem razão.