Já li uma comparação que diz que, assim como um vinho é determinado pela safra das suas uvas e o envase, que um vinho feito na primavera é diferente do vinho feito no inverno, essa é a mesma lógica que a astrologia aplica às pessoas. Quando o bebê sai da barriga e na primeira respiração, é marcado para sempre pelo céu daquele momento. Ele será um bebê diferente se nasceu de dia ou de noite, na primavera ou no verão, em 1990 ou 2020. Daí porque, apesar da precisão dos cálculos que demonstraram que a Astrologia sempre soube que a Terra não era o centro do universo, os cálculos são antropocêntricos – cada pessoa que nasce é um centro de universo. Sendo a Terra o centro, os planetas podem ser visto como interiores ou exteriores: interiores são os que estão entre a Terra e o Sol, a saber, Mercúrio e Vênus. Os exteriores, os que estão fora da trajetória da Terra: Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Os três últimos, de tão distantes e lentos, exercem influências sobre gerações e são deixados de fora em análises tradicionais da astrologia védica e, na astrologia ocidental, costumam ser levados em conta depois de uma certa idade, quando a pessoa está mais madura.
Nós chamamos de planetas e o termo hindu Grahas parece se referir mais a corpos que estão no céu e nos influenciam. A cada momento, eles estão num lugar diferente do céu, e o círculo onde costumamos ver o mapa também pode representar uma grande mesa redonda. De cada posição, os planetas se vêem de uma maneira diferente, e com isso entabulam conversas diferentes. Algumas são tensas e outras são boas; alguns planetas se dão tão bem que quase nada é capaz de abalar sua amizade, outros tem uma relação tão difícil que mesmo aspectos benéficos ficam complicados. Saturno é tão sério, velho e responsável, que eu sempre o imagino como aquele que entra na roda e deixa o clima pesado; por outro lado, sem ele, talvez a coisa descambasse pra uma festa regada a sexo e drogas que destruísse a casa. Na astrologia, o Sol é planeta porque também está na festa. Para entender a “personalidade” dos planetas, cada linha apela para as mitologias das suas culturas – na ocidental, os deuses gregos e na védica, a mitologia hindu.
Quero falar de um aspecto específico com o Sol. O aspecto é a conjunção. A conjunção é quando os planetas ficam muito próximos um do outro, a menos de 10º de distância. É como se eles se tornassem um casal, porque passam a fazer tudo em conjunto – as características são combinadas e o que afeta um, afeta o outro na mesma proporção. Isso é bom ou ruim? Basta pensar nos casais de verdade: quando você junta pessoas compatíveis, que se ajudam mutuamente, estar em conjunção é bom. Em outros casos, as pessoas podem estar juntas e brigar o tempo todo, ou um pode tirar vantagem do outro. O Sol tem uma especificidade quando em conjunção que, por incrível que pareça, o torna um planeta maléfico. Simbolicamente o Sol é o nosso ego, o nosso centro. Ele representa figuras de autoridade, como o pai ou o rei; é orgulhoso, confiante, forte, vaidoso. Pensem no que é estar ao lado de alguém assim. Numa maneira mais física, basta lembrar que o sol é uma bola de fogo. Ele é quente e brilhante demais, ficar muito perto se torna desagradável. Por isso, quando um planeta fica muito perto do sol, isso não faz bem a ele. É como se o planeta fosse queimado e ofuscado pelo sol, aspecto que na astrologia é chamado de combustão. Um planeta em conjunção com o sol fica combusto.
Agora eu volto ao que disse lá em cima, sobre os planetas interiores. Vênus e Mercúrio estão muito próximos do sol, eles são pequenos e suas órbitas são muito rápidas. Isso faz com que eles entrem no temido movimento retrógrado com frequência (e saem dele rapidamente) e nunca estejam muito longe do sol. No mapa, eles sempre estão perto do signo solar natal, ou seja, você nunca verá alguém com Sol em Áries e Mercúrio ou Vênus em Libra. Se a pessoa tem Sol em Áries, ela terá Mercúrio em Áries mesmo ou lá por Peixes ou Touro, ou seja, no máximo um signo de distância. Vênus fica mais longe do Sol, então pode chegar, no exemplo, até Touro ou Aquário, ou seja, dois signos de distância. Mercúrio, na mitologia grega, é o mensageiro. É o planeta que associamos à inteligência, rapidez, comunicação. É considerado um planeta neutro, nem bom e nem ruim, porque se adapta à circunstância. Ele fornece os instrumentos, como uma faca que pode ser usada na cozinha ou para matar. E é, de todos os planetas, o que fica mais tempo combusto. Ou seja, em grande parte da população, as características do Sol atrapalham a atuação de Mercúrio. Elas acham que estão olhando a realidade de maneira fria, inteligente e analítica, sendo que na verdade estão sendo egóicas, orgulhosas e autoritárias, estão contaminando a sua análise porque não separam conceito de personalidade. São incapazes de discutir ideias como algo separado delas, por isso se sentem pessoalmente ofendidas quando alguém discorda das suas crenças. Ideia, conceito, crença, auto-imagem – tudo está misturado. Vai dizer que não é?
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