MORRA, 2007!

É muito difícil afirmar que este ano seria O Pior; digamos que ele entraria, sem dúvida, em um Top Ten na eleição dos piores anos da minha vida. Não que tenha acontecido algo ruim – como naquele ano em que fiquei subitamente pobre ou no ano em meu irmão quase morreu; Ao mesmo tempo, meus piores pesadelos se concretizaram em 2007. 2007 foi um ano difícil de viver pelo que não aconteceu. Principalmente, pelo que não aconteceu DE NOVO.

Eu jamais imaginaria que 9 anos e 2 faculdades depois, eu voltaria a estar em casa sem emprego e sem perspectivas. É como se pesasse sobre mim uma maldição que me impede de ser remunerada, por mais que eu mude de área. Mesmo bem relacionada e com um curriculo mais fodaço, eu revivi o drama de sair da faculdade e não conseguir emprego. A diferença é que há 9 anos atrás eu era 9 anos mais nova… e naquela época eu comecei a esculpir e achei que o destino conspiraria a meu favor.

De onde eu tiro outra parte dolorosa: Eu jamais teria seguido meu sonho se soubesse que 7 anos depois eu ainda seria uma ilustre Zé Ninguém como artista. 2007 também me presenteou com o evento mais humilhante e doloroso da minha carreira artística, que foi aquele lance da exposição do meu amigo*. Graças a isso, eu descobri que pouco importa a obra em si, e sim o dinheiro e status em torno dela. E como não as minhas não têm gerado nem uma coisa nem outra…

Minha perspectiva pro ano que vem é que a coisa mude, porque eu não suportaria outro ano como esse. Preciso urgentemente de uma entrevista com o Papa, porque me queixar ao bispo não está fazendo efeito.

*a história está bem resumida no post, omiti alguns detalhes. A coisa envolvia mais dinheiro e mais status do que eu dei a entender.

Pré-Natal

A Dúnia precisa de um banho faz tempo, assim como eu de um lápis de olho e um demaquilante. Isso sem falar na vontade de comprar uma camiseta e fazer um fresquinho corte atrás, porque o verão curitibano agora é quente. Mas tudo isso tem sido adiado, porque mal conseguinhos chegar em casa com o trânsito a caminho do shopping aqui perto. Do mesmo modo, o volume de gente nas ruas me faz ter a impressão de que me mudei pra Tóquio ou pra Cidade do México e não estou sabendo. E – horror dos horrores – meu restaurante preferido que estava sempre vazio (o que o torna meu preferido) deu pra receber um monte de gente. Uns incultos que colocam adoçante no suco sem açúcar. Ódio!

O Natal não é minha época favorita. A única coisa que salva é ganhar presente, ou seja, justamente o lado capitalista da coisa. Mas neste ano a festa terá um sabor mais amargo do que os anteriores: minha cunhada ligou esses dias; chorou duas vezes, dizendo que somos todos uma família; que os meus sogros (muito saudáveis, por sinal) já estão velhos e que eu deveria ter piedade deles; e que a filha dela me adora e sempre pergunta por mim. Pra completar, terminou o telefonema dizendo – “venha apenas se estiver com vontade, não se sinta pressionada só porque liguei”. Ah, tá. Acho que finalmente vou mandar fazer uma camiseta com a mensagem Odeio gente.

Diferenças

Exposição minha, aberta das 8 às 20h, de segunda a sábado durante mais de um mês, ninguém podia ir porque não tinha tempo. Agora o outro faz uma vernissage num hotel chique, e neguinho se desdobra em três pra sair do trabalho correndo, tomar banho, chamar o conjuge e o que for preciso, porque é preciso prestigiar.

Essa doeu, de verdade. Mas Deus é pai e um dia terá volta.

Limpeza de fim de ano 2

Ao contrário do que a Flávia possa ter pensado, eu também sempre fui muito boa pra me livrar dos cacarecos e totalmente ciumenta com os livros.

Nem sei por onde começo este post. Se digo que sou tão ciumenta, que me dói ver alguém abrir demais certas edições ou marcar os livros usando as orelhas (dos livros, claro. Aquela aba do lado se chama orelha, caso alguém aqui não saiba). Ao invés disso, posso começar dizendo que meu avô – que morreu antes de eu nascer – teve a maior biblioteca de livros chineses da américa latina. Aqui em casa estão alguns livros que foram dele. Minha tia cruelmente doava tentava doá-los para as bibliotecas e eu pegava pra mim.

Enfim. A regra da organização é clara – livre-se de tudo que você não usa. Embora eu nunca tenha chegado perto de ler aqueles livros em inglês e chinês, eles sempre estiveram por aqui. Agora, tomei a dura decisão e separei muitos deles. Peguei pra mim os de valor sentimental, com gravuras interessantes e as edições autografadas pelo Lin Yutan. Mesmo assim, separei aqui mais livros do que a biblioteca de muita gente. Talvez eles valham alguma coisa, talvez as pessoas se recusem a receber livros tão velhos. O Luiz – que vem de uma família que construia novos cômodos cada vez que juntava coisas demais – provavelmente vai querer me impedir de me livrar disso sem tentar arranjar algum dinheiro. Aff, agora entendo a minha tia.

Livros existem para circular, assim como o passado é pra deixar pra trás.

Limpeza de fim de ano

Separei agora há pouco o meu Hanon para doar. Se eu dissesse que nem sabia mais que guardava material de piano, depois de tocar por 4 anos totalmente interrompidos há mais de 7 anos, eu estaria mentindo. Eu desisti do piano meio sem desistir, meio esperando dias melhores, meio guardando o material pra quem sabe um dia começar outro instrumento – o delicado violino ou o sexy cello? O Hannon e os outros livros têm esperado todo esse tempo que eu me decidisse. Agora, finalmente ele vai embora.

Certas coisas ocupavam caixas, que se tornaram pastas e depois algumas folhas, até que virarem apenas uma lembrança. E assim a nossa casa e a nossa vida abre espaço para o novo.