Não lembro exatamente o motivo, sei que um dia eu e o Luiz fomos almoçar no Estação num fim de semana e encontramos uma amiga. A praça de alimentação estava cheia e ficamos felizes pela oportunidade de sentar na mesa com ela e suas colegas de pós. Ajeitamos nossas bandejas e fomos todos devidamente apresentados. Eram todas da faixa dos vinte anos, com excessão de uma senhora com falsos ares aristocráticos (ou seja, uma curitiboca). Os jogos pan americanos do Rio tinham acabado de começar. Para quebrar o gelo, o assunto surgiu:
– E o Pan, hein? (sentença neutra, ótima para começar uma conversa e sentir o clima no meio de estranhos)
Antes que qualquer um falasse, a curitiboca dominou a mesa. Que era um absurdo, um desperdício. Que o Brasil era um país subdesenvolvido e não deveria se propor a fazer uma coisa dessas com tanta gente passando fome, com tantas crianças fora da escola. Que com a fortuna que aquela abertura custou, dava para construir não sei quantas casas populares. Pra minha surpresa, minha amiga se juntou às queixas, à todas as queixas. De absurdo a absurdo, ambas falaram da falta de cultura do povo brasileiro, do carnaval, do futebol e alcançaram o ápice no BBB – “um jornalista como o Pedro Bial, que cobriu a Queda do Muro, se sujeitar a fazer um programa daqueles”.
Quando elas terminaram de massacrar o mundo, o resto da mesa se olhava, atônito, e totalmente sem assunto. Eu e o Luiz fugimos, absurdados.