Eu sou macho!

Como mulher e hetero, eu deveria dizer aqui que meu lado masculino é lésbico. Mas não é. Meu lado masculino não só é muito macho, como se chama Armando e coça o saco em público.

Desde a minha infância todos notavam que o pequeno Armandinho era bastante saliente. Nas férias, meu pai tinha que usar da sua autoridade pra me tirar da rua e me fazer tomar banho. Claro, eu detestava brincar com as meninas. Elas eram frescas, preocupadas com a roupa e em estarem bonitas. Eu gostava de correr por aí, brincar com bola, usar estilingue, andar de bicicleta. Eu andava tão armandamente de bicicleta que meu pai resolveu dar um jeito. Sem que eu pedisse, ele me deu uma bicicleta com uma cestinha. Ele sabia que se fosse encaixada eu tiraria, por isso me deu uma com a cestinha soldada. O plano foi bom; pena que a cestinha soltou no primeiro dia – não resistiu à emocionante trilha de eucaliptos! Armando realmente adorava uma bike.

Com Armando aprendi a amar ter cabelos curtos e a detestar discutir a relação. Esse último ponto, apesar do que possa parecer, sempre me causou muitos problemas. Os homens estão acostumados a aprontar várias vezes e ter várias conversas sérias antes de (talvez) mudar o comportamento que desagrada sua companheira. Comigo todos eram pegos de surpresa porque eu simplesmente sumia, sem nunca ter suplicado qualquer mudança. E não adiantava querer voltar depois; vocês sabem, reconstruir relação é coisa de mulherzinha.

Confesso, minha família não gostava muito dessa história. Era uma amizade perigosa, todos temiam que eu fosse longe demais. Minha mãe suplicava pra eu comprar uma roupinha ao invés de gastar todo meu dinheiro em sebos. Eu demorei pra usar batom, não me sentia à vontade de saia e até hoje prefiro tênis a salto. Um dia, sem qualquer aviso prévio, me apaixonei perdidamente e decidi ser feminina. Simples assim.

Alias, ser feminina é simples. Dificil mesmo é ser uma mulher de culhões. Tenho pena das que não conseguem.

Pessimismo

Quando eu fiz aquele curso que renego, eu era uma pessoa idealista. Queria salvar as pessoas para salvar o mundo. Acreditava que se ajudasse alguém a reconhecer seus problemas, eles seriam solucionados e todos seriamos mais sãos. Mais sãos, seriamos mais felizes e mais felizes o mundo seria melhor. Para isso, estava disposta a trabalhar duro, a ouvir os problemas dos outros, a servir de apoio.

Hoje não acredito em nada disso. Não acredito que tenha alguma coisa a dizer, porque me acho muito míope e levo muito tempo pra perceber o óbvio. Mesmo se dissesse alguma coisa, duvido que o outro ouvisse – ninguém gosta de conselhos. E, se ouvisse, duvido que conseguiria pôr em prática. Não acredito mais que alguém consiga mudar por um simples gesto de vontade. Não acredito mais em belas mensagens, em terapias, em meditações, em livros, em religiões. Acredito que gostamos de ser complicados. E que a única pessoa por quem posso fazer alguma coisa sou eu, e olhe lá.

Quer viver uma vida de sexo, drogas & rock’n roll? Belê. Quer virar muçulmano e jejuar no ramadã? Vai fundo. Desde que eu não seja obrigada a sofrer as conseqüencias, não me oponho a nada. E se fosse meu filho? Não é. Não sei como farei o dia em que for. Quero contar piadas, quero leveza. Não quero mais ser sábia, não quero mais ajudar ninguém.

Ironicamente, os outros me adoram.

Do que os homens gostam?

Nem preciso dizer que malucos são os homens. Com as mulheres, tudo é muito mais fácil de entender, mais constante. Um dos grandes mistérios para mim é entender o tal do gosto masculino. Homens e mulheres nunca concordam em quem é bonita ou sexy. Basta ver: as mulheres que as mulheres consideram lindas e com um corpão são rejeitadas pelos homens. Nós mulheres gostamos de menos gordura, sem dúvida. Reza a lenda que homem nenhum acha o corpo da Galisteu bonito.

Pra começar, a tal da preferência. O que um homem diz que prefere nunca quer dizer nada. Você ouve de um homem que o que ele gosta é de mulheres altas, loiras, cabelo liso e comprido e tipo mulherão. Aí quando aparece uma mulher dessas na frente, ele prefere a baixinha, morena, cabelo enroladinho e magricela. Ele explica o fato assim: “Eu prefiro mulheres do jeito que eu disse. Mas se aparece uma de outro jeito que é mais bonita, eu prefiro a mais bonita, entendeu?” Não, não entendi!

Também não sei adivinhar quem chama atenção dos homens num local cheio de gente. Tá, os adolescentes (de quem nunca gostei, nem quando era uma :P) olham pra decotadona, eles não contam. Os homens se sentem atraídos por coisas imprevisíveis, do tipo: um vestido florido, um jeito tímido, a maneira como sorri, como gesticula. Assim como também rejeitam coisas imprevisíveis: um pêlo mal colocado, a voz, tamanho da mão… Nunca é aquela que parecia ser a escolha óbvia!

Do que os homens gostam? De mulheres. Alguns…

Qual o seu maior medo?

Esses dias eu vi Couch Carter – Um treino para vida por causa da faculdade. É a versão esportiva do Ao mestre com carinho. Num momento importante do filme um dos jogadores faz uma citação bonita e não dá os créditos. Aí está ela. Antigamente gostava de auto-ajuda; os anos me deixam cada vez mais cínica e hoje não suporto qualquer citação fofinha. Mas essa… essa, apesar de tudo, ainda faz muito sentido pra mim.

Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta.
Nos perguntamos: “Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?” Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?… Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você.
E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.
À medida que nos libertamos dos nossos medos, nossa presença automaticamente liberta os outros.

Nelson Mandela

Nunca confie no Papai Noel

Hoje eu li uma notícia horrível: um monitor de um parque num shopping de Curitiba abusou de uma criança de 5 anos.

Eu não tenho filhos mas fico péssima quando fico sabendo de uma coisa dessas. Quando alguém (como eu) diz que não gosta de crianças, as pessoas julgam mal. Eu não tenho medo de quem não gosta de crianças. Tenho desses que dizem que adorar, que buscam empregos como monitores, papais noéis, escoteiros, babás ou qualquer coisa pra ficar perto delas. Quem adora crianças às vezes esquece que lidar com elas é uma tarefa de muita responsabilidade; e, principalmente, que nem todas as maneiras de “adorar” crianças são desejáveis.

Malvada, eu?

Uma das poucas pessoas da faculdade com quem falava ultimamente… peraí, acho que começarei do princípio… Quando nos conhecemos, a Fulana estava sempre em crise porque seu namorado não estava a fim de casar logo. Eles namoravam há anos, ela era quase da família, a sogra já era sogra… Aí quando terminou, ela estava em crise porque terminou. Depois, entrou em crise porque iria viajar. E nessas crises passou a ter necessidade de falar comigo durante a aula, por orkut, por telefone e por msn – com direito a crises de ciúmes. Um dia fiquei p da vida, bloqueei e passei um carão pelo msn.

Eu sou assim, brigo com a pessoa, coloco em pratos limpos. Sou grossa, pronto. Mas como toda pessoa grossa e explosiva, depois que falo a coisa fica limpinha. No dia seguinte, esperava encontrar com ela, dar uma rosnada e tudo voltar às boas. Mas o que viria depois foi totalmente inesperado: ela passou a sentar longe de mim, me olhar com cara de cachorro que quebrou o vaso e pedir para amigos intercederem a favor dela… nem elevador comigo ela pegava mais. Aí sim eu fiquei p da vida de verdade e, já que ela ficava longe de mim, parei de falar com ela e pronto.

Aí essa amiga passou quase um ano fora, em um país distante, entrou pra uma religião fundamentalista e arranjou um namorado estrangeiro… Quando ela voltou, conversamos como se nada tivesse acontecido. Ela vinha me falar do quanto está em crise com o namoro à distância e a nova religião. Um dia, esqueceu de me contar que não tinha uma aula e mandei um e-mail reclamando. Resultado: ela passou a sentar longe de mim, me olhar com cara de cachorro que quebrou o vaso… Oh não! Oh sim: começou tudo de novo.

Às vezes penso em simplesmente falar – “Ô, Fulana, deixa de ser boba!”, porque não custa nada. Mas não falei. Acho que custa sim, essa infantilidade me irrita muito. Talvez eu seja mesmo malvada.

Novidades do além tumulo

“Sabe a Ju? Casou.” Ouvir notícias sobre Jus, Má, Cris, Pas e outras sílabas tem sido uma rotina pra mim desde que uma ex-colega de faculdade começou a freqüentar a mesma academia que eu. Na maioria das vezes, nem sei de quem ela está falando – além de ter péssima memória para nomes, eu sempre esqueço o nome de quem eu não gosto ou não é marcante na minha vida.

Confesso, eu não ignorava por completo que essas pessoas não tinham sido retalhadas por um trem. Um dia descobri uma delas no orkut e pela lista de amigos encontrei quase todos os meus ex-colegas. Depois de matar a curiosidade sobre quem casou, quem embarangou e quem está desempregado, acabou por aí. Nunca quis encontrar ninguém em festinhas de x anos de formados. Nunca quis retomar contato. Nunca quis saber de ninguém. Alias, até de área de atuação eu mudei. Agora, pra quê eu tenho que ouvir sobre todo mundo?

Já disse e repito – o fato da vida ter me obrigado a conviver com alguém diariamente não cria um vínculo perpétuo entre nós. Não gosto de amigos de infância, de vizinhos de infância, de ex-colegas de escola, de faculdade, ou do trabalho. É sempre assim: você encontra a pessoa, vê se ela está mais conservada que você, lembra de meia dúzia de causos engraçados e conta sua vida da maneira mais romantizada possível (pra não se sentir por baixo).

Quer saber? Quero mais que Jus, Má, Cris, Pas e outras MOR-RAM! E que ninguém me convite pro velório depois, humpf!