Alguma mente sádica – numa dessas conspirações governamentais que pegam os inocentes – saberia o quão cara é minha privacidade e me colocaria no Big Brother sem eu nunca ter me inscrito. Quando eu acordasse, estaria lá: trancafiada com um monte de corpos sarados que falam UHU! pra tudo. Eu, que só dividi o quarto durante poucos anos com meu irmão, me veria dormindo onde não quero, com gente que eu não gosto. Isso sem falar na claustrofobia de um quarto sem janelas. “Maldito!”, eu gritaria numa daquelas tomadas aéreas dos filmes, em que a câmera se afasta do revoltado protagonista de joelhos.
Detestaria cada participante antes de qualquer oportunidade de me apegar, porque não tenho simpatia natural por gente idiota. A tentativa de sair pra meditar ou ficar quieta num instante me daria fama de louca. Os assinantes do pay-per-view detestariam minhas idas à piscina, porque detesto pegar sol. Nas festas, outro fiasco: não rebolo até o chão e seria a única sóbria. Naquelas provas de resistência, iria embora assim que a anunciassem porque não vejo utilidade em ficar tanto tempo de pé, ou pulando ou qualquer besteira do tipo. Sem meu lar, meus hábitos e minhas caminhadas, em pouco tempo eu perderia toda a polidez e viraria uma pessoa irritada e anti-social. Calculo que isso levaria não mais do que dois dias. Já me imagino perambulando o dia inteiro de pijama, cabelo desgrenhado e atacando a geladeira com cara de poucos amigos.
Aqui fora, o Paparazzo me esperaria pra um ensaio sensual recheado de photoshop. E o youtube com videos duvidosos. Este blog seria invadido de internautas à procura da valiosa informação: estarei ou não jogando? Meu marido seria uma prova de que eu não sou gay, embora algumas amizades me condenassem. Minha mãe decepcionaria o Bial por ser incapaz de dar um depoimento lacrimoso; meus in-law seriam valiosos para as revistas de fofoca. E, claro, jamais ficaria entre os finalistas.