Quando dizem que o brasileiro adora uma fila não é brincadeira. Comprovei isso ontem, sem querer. Início de tarde, feriadão frio e com sol, fomos passear no Museu do Olho logo depois do almoço. Depois de olharmos os cachorros no parcão, resolvemos ir ao banheiro e havia uma fila enorme saindo das bilheterias. A maior fila que eu já vi no museu, ela ia para fora da parte envidraçada, quase alcançava a parede que fica no meio no pavilhão. Enfim, era uma fila grande, fila de show. Ela nem se movia, acho que a bilheteria estava fechada. O que seria aquilo, começamos a nos questionar. As filas do museu costumam ser grandes quando tem ingresso grátis, mas isso acontece no primeiro fim de semana do mês e não era o caso. Será que teria show do Roberto Carlos no Olho e eu não estava sabendo? Só algo muito interessante poderia explicar aquele furor expositivo em pleno feriado frio. Rimos da situação, daquela persistência. “Vamos entrar na fila também, vamos garantir o nosso lugar. Não sabemos o que é, mas só pode ser bom”. Seja lá o que fosse, na nossa opinião, não valeria uma visita naquele momento só por estar tão cheio. Nenhum restaurante, por exemplo, me parece bom o suficiente pra me fazer enfrentar fila de espera. Se eu morasse em São Paulo morreria de fome com esse raciocínio, mas eu moro em Curitiba e alguma vantagem tem que ter.
Xixi feito, desisti de tomar um café porque estava tudo cheio, passeamos pela lojinha do museu e fomos dar uma volta. Quando já estamos bem longe, surge a sobrinha do Luiz toda esbaforida. É a sobrinha única dele, de quatorze anos, xodó da família. Nas poucas vezes que nós e a família dele nos cruzamos sem querer, há sempre um certo soltar de fogos, um fascínio pela imensa e feliz coincidência. Para uma relação de pais-filhas-avós que se vêem e se falam todos os dias e moram em prédios que se olham, nós somos figuras raras. A sobrinha abraçou seu tio com a felicidade de sempre e me cumprimentou com cara de entojo como sempre. Ela nos levou para onde estavam… um doce para quem adivinhar! Sim, na fila. Lá no meio, garantindo seu lugar, estava a minha cunhada. Pra quê, descobriríamos em breve. Confesso que é meio desconcertante cumprimentar uma pessoa fazendo algo tão contra a sua natureza, algo que você jamais faria e da qual acabou de falar mal. É como se tivesse escrito na testa. A gente fica meio sem palavras.
– Então… vocês estão na fila.
– É, não tem nada pra fazer, e daí? A gente está na fila e vocês andando.
– Pois é… O que vocês vão ver?
– Uma exposição.
– Qual exposição?
– Uma exposição aí. Não lembro o nome do cara. Dizem que é boa.
A exposição é sobre Escher. Pela fila, acho que é boa.