Eu sou um perigo para mim mesmo

Certas pessoas são tão auto-suficientes que não precisam da ajuda de ninguém pra se machucar. Eu e o Luiz somos assim. Esses dias consegui acertar a minha canela com o portão da frente, que eu mesma estava abrindo. O Luiz – ainda mais talentoso do que eu – coleciona episódios como o dia em que ele mordeu o próprio dedo comendo sanduíche ou grampeou a própria mão junto com a pilha de papéis.

Ainda bem que nem tenho café aqui em casa. O ato de preparar e tomar seu cafezinho parece ser o ritual auto-flagelatório preferido da humanidade. Esses dias um apareceu na aula de defesa pessoal com a mão enfaixada. Ele errou a xícara e jogou o café escaldante nas próprias mãos. O caso mais recente que eu tive notícia é de um outro amigo que -preparando café, claro! – derrubou a água quente na barriga. Ele não apenas queimou a barriga como otras cositas más. Olha que queimar aquela região, junto com o pescoço, é considerado queimadura grave independente da extensão.

Inveja

Eu tenho inveja do Mestre Kobi. Na realidade, digo Mestre Kobi só para simbolizar. Poderia citar no lugar dele a bailarina Cíntia Napoli, minha ex-colega de faculdade Lis Andréa e até mesmo o meu marido. O Mestre Kobi é um exemplo emblemático porque ele começou aos 3 anos de idade. Sim, aos 3 anos de idade ele começou o que seria sua carreira. Ele começou, continuou, se tornou o melhor, coordena toda América do Sul, entrou para a história do Krav-magá. E tem seus 40 anos! Eu tenho inveja de todo mundo que escolhe uma profissão e a segue lindamente – sem dúvidas, sem recuos, sem problemas. Não, isso não é tolo. Quando se chega na faixa dos 30 com crise existencial cada vez que alguém pergunta qual a sua profissão, isso não é nada tolo.

Eu tento manter branca, mas tenho uma baita inveja da Klenny. Pra começar, ela realmente sabe falar mais de 3 línguas – não é uma grande blefadora como eu em inglês e espanhol. Quem conhece sabe que ela é linda, inteligente, culta, divertida – e não é um bogus. Eu adoro conversar com a Klenny, mas confesso que minha auto-estima estava se desintegrando de tanto um amigo nosso ficar falando dela no msn. Quem já foi a amiga-da-linda sabe exatamente do que estou falando. Sabe aquela cena final do O terno de 1 milhão de dólares (só vi o fim, eu detesto Jackie Chan) que ele vira pra parceira e diz:

(Jackie Chan) Eu fico nervoso perto de mulheres bonitas.
(Ela) Obrigada (¬¬)
(Ele) O que foi?
(Ela) ¬¬

Eu acho que a gente sempre faz aquele raciocínio pra compensar – é linda, mas é burra. É linda e inteligente, mas encalhada. É linda, inteligente e noiva, mas mau-caráter. Com a Klenny nada disso tem funcionado. A única alternativa que me resta é acreditar de todo coração que ela tem chulé. E eu já avisei pra esse amigo que eu JAMAIS iria pra um orkontro com os dois, pois tenho medo de ser esquecida no carro*!

* e eu tenho medo de ser esquecida no carro, porque eu já fui esquecida num carro!

Sampa relax

Quando tudo parecia confuso, grandes decisões foram tomadas ou eu me sentia tragada pela vida, eu viajava para São Paulo. Coincidência ou não, minhas idas pra lá sempre coincidem com grandes momentos – daqueles grandes de uma maneira bem íntima, o que não os diminui em nada. Ir pra São Paulo me dá paz.

Por que São Paulo? Poderia dizer que é pelo apartamento fabuloso que a minha tia mora, onde a porta da cozinha fica sempre aberta e os gatos descansam no sofá. Poderia dizer que é porque sempre tive amigos maravilhosos lá, como os Criadores de Imagens, e por isso eu nunca deixo de sair e me divertir. Poderia citar a vida cultural incrível, em que é possível ver coisas de alto nível de graça – ou quase, porque comer e pegar metrô sai meio caro. Ou seria pelo retorno às raízes, já que os curitibanos nunca me reconheceram como um deles?

Mas não é só isso! (como dizem aquelas propagandas). Acho que o legal de São Paulo é a cidade ser tão assustadoramente grande, tão grande que nem quem mora lá consegue dominá-la totalmente. As pessoas são gentis e sempre dispostas a ajudar, porque estar perdido não causa qualquer espanto. Estar lá me traz a sensação de que tudo é possível e completamente mutável. Bastam 6 horas de viagem e toda minha vida fica para trás, e tudo pode ser recomeçado. E não há nada que eu possa fazer que seja completamente alheio aos paulistas, porque tudo que eu imaginar não apenas já foi pensado como até profissionalizado!

(Isso me lembra uma das minhas cenas preferidas no cinema: é quando no filme Kadosh, a moça foge de Jerusalém e observa o muro de longe. Sim, só eu e mais uns 13 israelenses vimos esse filme…)

Curiosidade 1 : A poluição deixa o meu cabelo mais liso do que chapinha.

Curiosidade 2: Lá a crocs falsificada custa apenas 20 reais. Eu paguei 40 pela minha e quis morrer quando descobri.

Visionária capilar

Eu inventei o cabelo da Victoria Beckham muito antes dela, mas não tinha como fazer. Durante todos esses anos o descrevi várias vezes, mas nunca ousaram cortar o meu cabelo daquele jeito. Quando decidi deixar o cabelo crescer pra mudar de corte, queria algo Victoria Beckham com franjinha; e eis que pouco tempo depois estreou a novela e a Débora Falabella está usando o mesmo corte que eu idealizei pra mim.

Tudo isso só pra dizer que o fato de ter ido no salão hoje – depois de 3 longos meses sem cortar o cabelo e com a auto-estima totalmente a ba la da – e pedido pra ficar o mais parecida o possível com a Débora Falabella, não quer dizer que eu imite o cabelo das celebridades. É que eu sou uma visionária capilar e nunca consigo que façam o que eu quero até que apareça na globo.

No mais, estou feliz. Aquele cabelo preso me deixava com cara de velha e eu nem conseguia mais me arrumar.