Depois da aula, eu comentei no meio de um monte de gente que dá pra sapatear de crocs. Comprei a crocs pra usar em casa (só em casa!) e um dos motivos é justamente poder praticar meus sapateados sem ter que ouvir reclamações dos vizinhos. Em qualquer horário que eu sapateasse, eles se incomodavam e batiam na parede. Qualquer horário mesmo, nem que fosse dez da manhã. Pra deixar claro que era comigo, ainda por cima imitavam o som que eu estava fazendo.
Uma colega do flamenco ficou indignada. Ela disse que ela não deixaria de fazer porque eles reclamavam, que bateria na parede deles no ritmo também. Foi uma conversa daquelas simples, mas que revelam muito sobre os envolvidos: ela, de temperamento forte, convicta dos seus direitos e não deixando barato. Eu, uma conciliadora.
Eu poderia ter explicado que cheguei até onde estou porque já fiz guerra por barulho e que senti na pele o quanto é bom cultivar um bom relacionamento com vizinhos. Do mesmo jeito que achei a atitude de cada uma diante da reclamação muito reveladora, fiquei certa de que ela teve a mesma impressão e me achou uma covarde. Quem sabe até seja. Minha percepção é que com os anos passei a selecionar mais as minhas batalhas. Tenho preferido não me incomodar a lutar por coisas que não me parecem importantes. Uma delas é reivindicar um direito que nem me é tão caro. Outra é me explicar pelo que possam pensar de mim.