Amiga conheceu um homem no Tinder. Tudo indo melhor do que a média dos outros encontros. Logo de início, ela se definiu como de esquerda e ele falou vagamente que se desentendia com uma ex de esquerda. Quatro meses depois, quando estão realmente ficando firmes, ele revela que é eleitor Daquele. Amiga fica confusa e decepcionada: se ele sabia desde o começo que ela achava aquilo imperdoável, por que escondeu? O que isso revela sobre os valores dele? Outra amiga. Gay e que detesta política. A postura dela até enchia um pouco, “se está bom pra mim, o resto que se dane”. Ela se recusava a levantar qualquer bandeira, até mesmo a gay. Agora descobriu que muita gente que a aceitava, a considerava ótima companhia e profissional, não se incomoda nem um pouco em votar em alguém que já declarou que “as minorias devem se render à vontade da maioria, ou deixar de existir”. Ela agora se pergunta até que ponto a aceitam mesmo, se ela só é útil agora mas, se acontecesse alguma coisa, ninguém se importaria o suficiente. Isso para falar apenas das coisas domésticas – teve página rackeada, jornalista intimidado, organizadora de evento que apanhou, mentiras deslavadas. Quem não tretou com a família e não rompeu amizade de anos por causa de política, discutiu em grupos de whats e pelo Facebook, tentou converter estranhos e alternou momentos de esperança com desespero, não viveu o 2018 no Brasil. Olha o ridículo que é todo mundo, sem precisar combinar, inventar apelidos porque apenas escrever o Nome atrai violência. Assim como tem gente que não vai na manifestação #elenão por medo.
Por méritos quase que exclusivos da própria campanha, a vitória que era dada como certa parece que não vai se concretizar. Mas depois de tudo, a vitória #elenão será uma vitória sobre terra devastada. Ainda não sabemos o que fazer com o que vimos das pessoas que nos cercam.
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