A cobradora

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Foi por pura falta de opção que eu me sentei no lugar que fica colado na cobradora. Não sei se é da linha Interbairros 2, mas sempre fico impressionada do quanto conversam esses cobradores. Fico uns 20min no ônibus e tem papo do início ao fim. Aí calculo que o povo conversa a viagem inteira todos os dias e concluo que deve ser muito estressante ser cobrador de ônibus, é falação, história e social o tempo inteiro. Além do intercâmbio normal da cobradora e o motorista, ela estava com uma amiga sentada na frente dela, ou seja, à minha esquerda. Algumas vezes pareciam amigas de longa data e outras vezes não, uma descobrindo e tirando onda com o bairro que a outra mora naquele momento,os  dois violentos, um em Curitiba e outro na região metropolitana. De qualquer forma, a cobradora dominou a conversa. Por volta dos seus trinta anos, cabelo preso, o rosto alegre e sem maquiagem, a camisa do uniforme por cima de uma longa saia estampada me fizeram pensar que era crente. Depois soube que estava grávida, quem sabe a saia fosse por isso. De qualquer forma, a achei, na falta de uma expressão melhor, “bela, recatada e do lar”. Não que não seja, é que… Ainda mais que ela contou que o namorado arranjou ingressos pra um evento gratuito do Atlético e ela ia com as duas filhas, à tarde, e logo de manhã na linha perto do estádio já tinha mulher de micro-shorts e adolescente com tubão (refrigerante batizado com álcool) e ela avisou pras filhas que não iriam mais. E que nunca vai nesses eventos baratos de um real ou quarenta reais, que só dá nóia e mulher de boné virado pro lado.Que foi num evento com os três filhos, o filho queria levar o celular e ela impediu porque seria roubado, e só nóia, as filhas querendo chegar perto do DJ porque eram fãs e elas mesmas ficaram com medo e quiseram ir embora. Enfim, uma mulher tranquila que cuidava da família. Bem, não que não cuide da família, é que…

Quando eu já estava nas curvas finais, quase descendo, a cobradora contou de um bailão que foi com uma amiga. Do nada uma mulher ficou encarando ela. Ela virou pra mulher e apontou pra própria cara e fez gesto com as mãos, naquele típico “qualé?”. A mulher disse pra ela que ela estava encarando, que se continuasse olhando ia ter briga. A cobradora falou algo como “então bate aqui” e deu uns tapinhas no próprio rosto. Dali há pouco, a mulher veio com um copo de cerveja na mão e derrubou inteirinho no tênis dela, que era novo. Ela não fez nada. Depois a cobradora disse que tinha que ir ao banheiro, a amiga até se ofereceu pra ir junto, ela disse que não precisava. No banheiro, chega a tal mulher de novo. Pergunta, cheia de veneno, se o tênis tinha ficado muito molhado. Com uma cara de pouco caso a cobradora respondeu que não. “A gente pode resolver isso lá fora”, disse a mulher. A cobradora: “A gente pode resolver aqui dentro mesmo” e agarrou a mulher por detrás da cabeça, pelos cabelos, e bateu com a cabeça da dita cuja com toda força na parede. E saiu. Não teve testemunhas. Depois ouviu chamarem uma ambulância, porque tinha uma mulher desacordada no banheiro…