Sem ela saber, a minha amiga morrendo de medo da vida pós-casamento me ajudou muito. Me ajudou perceber o quanto que a minha experiência e a de outros não a ajudava em nada; o quanto ter escolhido o que viria a seguir não ajudava nada; em resumo, o quanto não saber o que nos espera, mesmo que seja algo bom, traz ansiedade. O desconhecido traz ansiedade. Talvez sejamos todos essencialmente pessimistas, e supomos que se não vemos é ruim, se não podemos controlar, vamos nos machucar. 

Tenho feito tudo certinho, e quem me conhece e já passou por situações semelhantes garante: posso estranhar nas primeiras semanas, mas me sairei bem. A solidão, embora difícil no começo, chega a ser viciante de tão boa. Ficamos mais fortes, mais criteriosos, mais amigos de nós mesmos. Uma pessoa que sabe viver com a sua solidão jamais cairá no golpe do amor porcaria. No meu histórico, fui sempre amiga de ficar sozinha, quieta, no meu canto. Já passo muito tempo sozinha. Mas, tal como minha amiga, saber e ouvir são uma dimensão, o sentimento é outra coisa. Medo é medo.

Então, a única imagem que eu consigo ter, é daquele que me parece o melhor exemplo de fé. Penso numa criança que está com medo e o adulto que a ama lhe pede para seguir em frente. O adulto lhe pergunta:

– Você confia em mim?

Ela concorda com a cabeça e vai, mesmo com medo. Porque se aquela pessoa lhe disse para ir, nada de mal pode lhe acontecer.