Hoje eu me pergunto se sempre foi tão impossível pra mim ter uma mente matemática ou se me falhou algo a mais, como aulas de robótica – um amigo colocou me contou que o filho lhe pediu pra fazer esta aula e achei incrível que exista. Sempre tive pra mim que matemática era a minha pior matéria mas, quando estudava em colégio particular, ela ser minha pior matéria queria dizer que eu precisava tirar 0,5 ou 1,0 para passar no quarto semestre, porque eu já estava passada em tudo no terceiro. Foi quando mudei para escola pública que degringolou, a física me caiu como impossível logo nas primeiras aulas. Mas, ainda assim, era apaixonada por trigonometria e gostava de voltar pra casa fazendo contas hipotéticas de logaritmo na cabeça.
Outra grande inveja minha é músico. Sempre tive pra mim que não os alcanço, que não ouço o que eles ouvem, que vivo num universo menor. Tenho um bom ouvido, sou afinadinha pra cantar, gosto de música clássica, mas não adianta, ninguém me convence de que eles não têm algo que eu não tenho. Minha impressão foi justificada quando li Alucinações Musicais – um livro incrível, principalmente pra quem for da área – e ele confirmou que o cérebro de quem estuda música desde criança se diferencia muito dos cérebros não-musicais.
Minha ideia pra uma encarnação posterior que realizasse o que não pude nessa é sempre foi que eu gostaria de nascer numa família que me colocasse diante de um instrumento desde cedo. De alguns anos pra cá, enfiei a matemática na fantasia. Ainda mais que música e matemática são bastante aparentadas, então a fantasia ainda é bastante coerente.
Eu vi uma definição muito bonita sobre o auto-conhecimento; veio de um astrólogo, mas vale para tudo. Você nasce com algo na mão, digamos que um lápis. O que você precisa descobrir é o que fazer com ele. Você pode insistir em querer pintar uma parede ou esculpir uma pedra, mas se você usar o lápis para escrever ou desenhar, você vai muito mais longe na sua vida.
A vida é tão curta, então tem lógica que você descubra o melhor e vá atrás dele. Não me parece que a gente consiga fazer mais do que dois caminhos, quando muito. Mas, para além do que é fácil, existe também uma outra possibilidade: recusar o que lhe foi dado, fazer algo radicalmente distante. Por querer, para pisar em lugares desconhecidos de si mesmo. Até onde alguém que foi programado para A e B consegue se fizer Z?
(Às vezes lágrimas, amigos)