Quentinho

Fiz uma viagem de intercâmbio com vinte e um anos. Foi um período curto no tempo e pessoalmente muito marcante. Chegando lá, fui rapidamente integrada ao grupo dos intercambistas, todos latinos. Éramos como uma família, ficavamos juntos o tempo todo. A cidade e os nativos eram apenas cenários para um encontro improvável de brasileiros, argentinos, mexicanos, colombianos, peruanos e chilenos.

Nesse grupo estava um sociólogo chileno que havia se exilado em Paris na época de Pinochet. Ele me contou que se endureceu um pouco para conseguir aguentar o que viveu. Com a idade de quando o conheci, ele se viu com uma pequena mala, sozinho numa cidade que não lhe oferecia luz alguma. Sem família ou amigos, teve que aprender a se virar. Aceitou todo tipo de emprego, aprendeu francês na marra, viveu com pouco, sentiu falta da família. Baseada na experiência dele e no que eu mesma estava vivendo naquele exato momento, lhe perguntei:

– Manuel, na verdade não importa muito onde a gente está, né? Se você tem um trabalho razoável que te permite viver com conforto, e se sente querido pelas pessoas à sua volta, o resto acaba ficando em segundo plano. É isso mesmo?

Sim, era assim mesmo. Ele passou mais de dez anos em Paris. Fez doutorado, casou com uma francesa, teve uma filha. Na prática, ninguém vive em Santiago ou Paris: cada um transita por um número limitado de ruas, encontra sempre a mesma centena de pessoas, freqüenta sempre os mesmos lugares. O importante é conseguir criar um lugar quentinho, se sentir querido dentro do seu pequeno mundo. A diferença entre o exílio e o lar é o aconchego.

2 comentários sobre “Quentinho

  1. Conhecer pessoas, lugares, historias, não tem preço………………….(se vc tem um limite pra lá de maravilhoso no mastercar, rs. Essa é a maior riqueza que uma pessoa carrega consigo……………….o conhecer, o vivenciar, o tem o que contar.

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