Curtas de uma vida solitária

Certas ilusões nos são muito caras, a gente nunca deveria ser obrigado a perder. Como, por exemplo, achar que jamais encontrará uma cobra venenosa no portão da casa, já que mora numa cidade grande.
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São duas as coisas que demarcam a passagem do tempo: pessoas e TV. Quando há falta da primeira e ausência de hábito da segunda, você se pega sentindo fome depois lanchou de tarde e não viu que já passa das nove, ou engata um trabalho ou vídeos de gatinhos e quando vê é quase uma da manhã.
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Eu que cuido, mal e porcamente, da grama da frente da minha casa. Pelo menos enquanto não consigo encontrar outra solução. Chego em casa, arranco um matinho; espero uma carona na frente do portão, arranco um matinho; volto do passeio com a Dúnia – matinho. Agora quando estou andando e vejo matinhos por aí, em qualquer terreno e lugar, sinto comichões. Não apenas tenho que me segurar pra não ir lá arrancar como fico medindo qual o melhor jeito.
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Eu não tenho um Wilson. Falo com todos os objetos da casa, indistintamente, que é pra não deixar ninguém enciumado.