Borboleta preta

Tinha uma espécie de borboleta de cor clara e escura. As claras eram mais abundantes do que as escuras, porque a cor dela era mais propícia para a camuflagem na natureza. Só que surgiu a revolução industrial e tudo ficou meio empoeirado, meio cinza. As borboletas não se camuflavam mais em meio a lindas flores brancas e sim entre a fuligem. Aí as borboletas escuras é que conseguiam se camuflar melhor e se tornaram mais abundantes.
Existem muitas metáforas para o mesmo assunto. É o patinho feio que vira cisne, são as ovelhas negras que formam seu clube. Por uma questão de hábito, eu acabo pensando em termos de filosofia chinesa. Gosto muito do Feng Shui e do reconhecimento de que o meio nos influencia o tempo todo, de maneira consciente e previsível, mas também de maneira imprevisível e poderosa. Para o Feng Shui, a energia é cíclica, e em alguns momentos ela estará forte, expansiva e favorável. Nesses momentos, devemos crescer e levar os nossos projetos adiante. Quando a energia estiver em baixa, retraída e desfavorável, o recolhimento é a única maneira de sobreviver, e assim reunimos forças para o próximo ciclo favorável. Nada permanece como está; o que para alguns é o fim para os outros é começo.
Eu me acostumei a ser borboleta preta, não tento pintar as minhas asas de branco. Quando as pessoas vêm uma maioria, acham que o único caminho para a sobrevivência é aderir a ela. Não é – quem teima em ser quem se é, empurra o mundo inteiro a mudar na sua direção.